19 homens ficam sem camisa e compartilham as dificuldades com sua imagem corporal

"Ninguém sabe dizer se tenho barriga quando estou de camisa, aí acontece que quando tiro parece que estou expondo um segredo."

O corpo é, na cultura de hoje, uma preocupação maior. Todos somos bombardeados diariamente com centenas de imagens do que é um corpo perfeito. Imagem essa que, na maioria das vezes, não se parece muito com a realidade dos nossos próprios.

Assim, um desconforto silencioso se instaura. As pessoas caminham por aí com esse nó engasgado, a sensação de que não estão adequadas, de que há uma imperfeição a ser corrigida. E nem sempre esse pensamento se dissipa. Muitas vezes, ele permanece por uma vida inteira. 

Li o texto abaixo no Huffington Post - escrito pela Rebecca Adams, com fotografias de Damon Dahlen - e achei os relatos de homens e suas dificuldades com o corpo tão verdadeiros, como se fossem meus próprios amigos contando o que sentem. Por isso, resolvi traduzir compartilhar com vocês.

As dificuldades corporais e estéticas dos homens

A busca infrutífera por um “corpo perfeito” não é algo que afeta apenas mulheres, embora as conversas sobre imagem corporal que costumamos ouvir nos levem a essa conclusão.

Em vez a obsessão com a magreza, os estudos dizem que os homens, mais do que as mulheres, se consideram magros demais, e assim se focam mais em obter mais tônus muscular. Porém há uma boa gama de expectativas com relação a suposta aparência de um corpo “masculino”– bem como associações negativas com aqueles que não chegam nesse ideal. Um estudo aponta que homens ligam a gordura com “fraqueza da vontade”, enquanto que magreza e músculos estão associados com “sentimentos de confiança e poder em situações sociais”.

De acordo com especialistas em saúde mental, os homens podem ter mais dificuldade em dispor de ferramentas de comunicação para expressar inseguranças, o que possibilitaria lidar melhor com elas. Embora mais recentemente tenha havido uma maior celebração cultural de uma gama mais diversa de tipos corporais, tanto para homens quanto para mulheres, a comunicação aberta sobre preocupações corporais, para os homens, ainda é um estigma.

Num esforço em demonstrar que homens de todas as idades e tamanhos tem dificuldades com suas imagens corporais, as mulheres do Huffington Post fotografaram 19 homens sem camisa entre 20 e 60 anos de idade, e falaram abertamente com eles sobre suas neuras com o corpo.   

Aviso de spoiler: Homens também têm inseguranças quanto ao corpo, e isso não é algo de que se deva se envergonhar.

“Não gosto de sentar com o torso dobrado na direção das pernas – fico me sentindo largado pelo modo com que a barriga passa da cinta. Se estou sem camisa, tento ficar deitado ou reclinado para trás, para meu torso se alongar. Também flexiono os braços e os músculos abdominais o tempo todo. O dolorido e a tensão de malhar fazem com que eu me sinta melhor.  

Sempre quis um corpo muito mais magro, então mesmo sendo tão pequeno, sempre preferi ser mais magro. A frequência de conversas como essa me levaram à conclusão de que posso ter algum tipo leve de dismorfia."

“Sou realista quanto a meu corpo. Cuido bem de mim mesmo e me exercito vigorosa e regularmente, mas sei que já passei dos 30. Vejo muitos caras de minha idade com corpos, para ser sincero, tristes, e estou determinado a não deixar que isso aconteça comigo.

É uma vergonha, mas às vezes aperto do lado da barriga para tentar me convencer de que meus abdominais estão durinhos. Não falo muito com amigos sobre questões de corpo. Porém percebo que muito de meus amigos casados estão com sobrepeso – não sei se há uma correlação entre esses dois fatos, mas também por causa disso acabamos não falamos muito sobre questões de corpo.”

“Meu relacionamento com o corpo mudou muito ao longo dos anos. Tive muita dificuldade com autoestima quando criança, porque era gordinho. Mas tive algumas experiências importantes – banhos japoneses em grupo, competições de natação – que me deixaram bastante confortável com a nudez, a partir do ensino médio. Mais recentemente essa confiança tem sido mais difícil de atingir. Algumas vezes me percebo meio fraco, e anseio um corpo mais poderoso. Sou muito grato pelas pessoas próximas a mim que são muito abertas e falam de seus próprios problemas com o corpo – isso ajuda muito. Quando um amigo começa a se abrir, isso libera o espaço para todos fazerem o mesmo.”

“Sinto-me muito mal de me largar tanto com os anos. Quando era mais jovem, eu levantava peso, e sei bem o custo de se largar, e a batalha que tenho agora em recuperar o tempo perdido. Meu filho sempre perguntava se eu estava grávido quando eu era mais jovem, e agora sabe que não sou nada saudável, na escola eles ensinam a não me alimentar como eu, ou ‘acabará gordo que nem papai’. Eu diria que desisti, é quase cômico.

Mas eu me envergonharia de mencionar isso [para meus amigos]. Preocupo-me com o que pensam, não só porque sou muito gordo, mas como seria esquisito mencionar algo assim numa conversa entre homens? Não é algo facilmente aceitável."

“Sempre estive de bem com meu corpo, mesmo quando eu era um pré-adolescente fracote. Hoje em dia, porém, aprecio bastante minha aparência. Também estou definitivamente mais focado em como me sinto em meu corpo.”

“Por muito tempo em minha vida odiei meu corpo. Parte disso se devia a ter sido um adolescente ‘fortinho’, e também por ser gay e não me sentir com um corpo atraente para os outros homens, como se espera que devesse ser. Mas me tatuar e malhar muito mudaram bastante minha mente a respeito disso tudo. Muitas das histórias que estavam ocultas em mim – coisas que eu adorava, coisas que eu temia, coisas que me atormentavam – finalmente se tornaram visíveis, e meu corpo finalmente passou a pertencer a mim, já que eu o deixei do jeito que queria que fosse. Agora, quando tiro minha camisa, fico feliz com o que tenho."

“Sinto-me confortável e livre sem camisa. Encaro meu corpo como algum tipo de arte. Há algumas áreas que eu gostaria de melhorar, mas definitivamente curto minha constituição.”

“Sinto-me muito melhor com o corpo do que antigamente. Até o fim da faculdade eu tinha um metabolismo muito rápido, que reconheço que muitos encarariam como uma bênção. Para mim, isso me deixava com a aparência, como amigos algumas vezes descreveram, de ‘sobrevivente do holocausto’. Desde então meu metabolismo desacelerou muito. Faço academia de vez em quando, e acho que isso ajudou um tanto com relação a minha autoconfiança.”

“Hoje estou de bem com meu corpo. Estou ciente de coisas que posso melhorar e de ‘imperfeições’ pessoais, mas no geral, estou OK com ele. [Meus amigos e eu] conversamos principalmente sobre como precisamos entrar em forma e ir à academia.”

“Como tenho 59 anos, as coisas já não estão firmes ou simétricas como costumavam ser, mas não tenho problema com meu corpo, nem nunca tive. Algumas vezes converso com amigos sobre voltar para academia e fazer mais exercícios, mas apenas porque agora é só ladeira abaixo.”

“Quando tiro minha camisa em púbico, fico muito grilado com meu corpo. Não parece natural ficar sem camisa. É como se todos os olhos estivessem grudados em mim, sem ninguém gostar do que vê. Tenho 1,90m no exterior, mas me sinto com 1,60m por dentro.

Hoje me sinto melhor com meu corpo do que no passado. Não quero um corpo perfeito. Quero um corpo em forma, mas também com aparência ‘vivida’. Mas também corro de 20 a 30km por semana, e faço apoios e barras seis vezes por semana – parece que quando perco um dia, vou cair em pedaços. Então, é isso aí."

“Sempre me senti confortável com meu corpo. Por ser tão magrelo, sempre alguém comenta algo bom ou ruim: a maioria me manda comer mais hambúrguer. Quando era mais novo me incomodava. Agora só sorrio e digo que comeria se não fizesse mal pra saúde!”

“Sinto-me bem com relação a meu corpo de uma forma geral, especialmente considerando minha idade, 55 anos. Mas agora decidi que depois de fazer essas fotos vou retornar a meu peso de ‘luta’ na faculdade, 90kg, se não por razões de saúde, para me sentir melhor comigo mesmo também.

Fico sempre de camisa, e também porque agora estou solteiro. Acho que a maioria das mulheres prefere homens vestindo uma camisa legal.”

“Sinto-me como que se tivesse desapontado meu corpo. No ensino médio eu era tipo ‘sou tão magrelo, preciso ficar fortão’, mas agora é mais algo como, ‘sou tão magrelo, e ainda assim tenho uma barriga’. Nesse sentido minhas inseguranças dobraram. Ter braços magrelos e uma barriga de cerveja está muito longe do arquétipo muscular masculino.

Algumas vezes falo com minhas namoradas, mas com amigos, não muito. Grupos de amigos heterossexuais não são fontes muito diretas de empatia e ajuda nesse sentido, na minha experiência. Meu amigo asiático mais próximo faz muito exercício e tem um corpo incrível, e algumas vezes fico meio envergonhado se estou perto dele. Ele tem o corpo que eu consideraria ideal para mim, e como também sou asiático, sua masculinidade me faz sentir inadequado.”

“Sempre me senti inadequado. Ultimamente, trabalhar [com a mídia] me deixou mais confortável comigo mesmo do que já fui em qualquer outro período da minha vida. Não tenho ideia porque, mas parece que aprender sobre esses espaços e ideias ajuda. Com as mulheres eu [falo sobre imagem corporal]. Elas sempre têm ideias ótimas sobre isso. Com homens, por outro lado, evito essas conversas, já que sempre estamos tentando evitar parecer fracos. É uma droga.”

“Acho que eu podia ser mais saudável em termos de exercícios e alimentação, e o resultado disso seria um corpo e mente mais saudáveis. Ser saudável é a finalidade principal, aparência boa é algo extra, não essencial.

Algumas vezes como bem mal, e mesmo assim não engordo tanto. As pessoas ficam irritadas se falo isso, então fico quieto.”

“Geralmente fico bem sem camisa, porque sei me posicionar com relação as coisas por que tenho insegurança. Meus sentimentos não mudaram quanto a meu corpo – sempre me senti bem confortável com ele. Embora ultimamente tenho percebido que hoje preciso me exercitar mais para me manter em forma.”

“Bom, atualmente não me sinto tão bem com meu corpo. Antigamente eu não me importava muito com minha aparência sem camisa – eu tirava e pronto. Mas então me mudei para Nova York, e me descobri numa comunidade muito mais focada no corpo do que quando eu fazia faculdade. Daí comecei a ir na academia, malhei um bocado, me alimentei melhor e comecei a me sentir melhor com minha aparência. Mas me desviei da rotina no ano passado, e agora está difícil voltar.

Ponho as calças mais para cima e uso camisas largas para esconder as banhas. Se não estou me sentindo bem com meu corpo, evito lugares onde sei que haverá gente sem camisa. Então ser gay em Nova York durante o verão se mostra difícil.”

“Tipicamente acho que ninguém consegue dizer se tenho barriga quando estou de camisa, então quando tiro a camisa parece que estou expondo um grande segredo. Não lembro de um momento em minha vida em que tenha me sentido totalmente confortável com o corpo. Depois da faculdade piorou, talvez por causa da insegurança ao fazer novos amigos, se mudar de cidade e encontrar novos estilos de vida. Mas agora em 2015 comecei a ficar mais seguro e confiante com meu corpo.

Raramente me abro com alguém a respeito disso, só com amigos próximos. Os poucos com quem falo sempre reagem da mesma forma: Ah, você não é gordo! É legal ouvir isso, e embora ouça muito, nunca acredito. Alguns amigos até me dizem que me veem como alguém ‘atlético’. Mas no fundo essas respostas me confundem, porque não posso compreender como posso não parecer ter um barrigão. Não é que eu preferiria os ouvir dizer, Pois é, tens que perder uns quilinhos, mas acho difícil processar minha insegurança em contraposição com a segurança que meus amigos tentam passar.”


publicado em 22 de Agosto de 2015, 14:30
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Luciano Ribeiro

Cantor, guitarrista, compositor e editor do PapodeHomem nas horas vagas. Você pode assistir no Youtube, ouvir no Spotify e ler no Luri.me. Quer ser seu amigo no Instagram.


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