A Força é poderosa em Lawrence Kasdan

Tudo o que poderia ser falado sobre Star Wars pertencer à Disney já foi dito. Tudo o que poderia ser elogiado – ou resmungado – sobre a nova trilogia da saga ser dirigida por J. J. Abrams também já foi falado. E tudo o que poderia ser publicado sobre os retornos de Luke Skywalker, Princesa Leia e Han Solo nos próximos filmes também já está escrito.

E, mesmo assim, os fãs não param de falar sobre o assunto.

Qualquer notícia – mesmo aquelas mais sem propósito, como “Star Wars começará a ser filmado em uma terça-feira” – dá início a uma série de discussões, debates e quebra-paus sobre a próxima trilogia.

E, claro, os fãs têm opiniões contrárias. Alguns estão certos de que vai ser um lixo. Outros acreditam que entrará para a história do cinema. Esta divisão tem uma única causa: a tal “Nova Trilogia”, formada pelos Episódios I, II e III. Ou você conhece algum fã de Star Wars que teria sido contrário à realização de novos filmes caso essa notícia fosse divulgada em 1985, poucos anos depois de O Retorno de Jedi? Impossível.

Mas, depois da Nova Trilogia, a desconfiança de alguns fãs nasceu com A Ameaça Fantasma e cresceu com O Ataque dos Clones. Se A Vingança dos Sith é um bom filme – e é, apesar de ainda trazer alguns defeitos – o estrago já estava feito. De Jar Jar Binks aos midi-chlorians, passando pelos diálogos pavorosos nas cenas de amor entre Hayden Christensen e Natalie Portman, os dois primeiros filmes da Nova Trilogia transformaram Star Wars de uma saga que forma caráter para um universo que tem mais cenas vergonha-alheia do que gostaríamos.

star wars poster

De quem é a culpa disso? Bom... De George Lucas, claro. Ao contrário do que havia feito na trilogia original, quando dirigiu o primeiro filme (estabelecendo o tom de tudo) e depois apenas coordenando o trabalho, Lucas resolveu ser fominha. Escreveu as bobagens que quis, dirigiu do jeito que quis, editou da forma que quis. E Lucas, por mais que seja um gênio na criação de universos e na produção, é um diretor fraco – que inclusive já revelou mais de uma vez não gostar de dirigir.

Sempre que revejo os filmes, fico imaginando as filmagens de Episódio I, com membros da equipe começando a perceber que a coisa está ficando uma merda.

— Esse Jar Jar Binks não está funcionando.

— E esse menino fazendo o Anakin? E aquela história de midi-chlorians? Isso existia nos outros filmes?

— Nos filmes do Luke? Não. Nem sei de onde ele tirou isso. Mas esse Jar Jar é pior.

— Esse bicho não tem propósito nenhum. Você devia ir lá falar com o George. Falar que isso não está funcionando.

— Eu, não. Vai você.

— Nem a pau.

— Bom, vamos torcer. Quem sabe as coisas melhoram.

— Fala baixo, o George tá vindo para cá.

Sim, a Nova Trilogia quase colocou tudo a perder – existem fãs que nem mesmo consideram os novos filmes. Se nos primeiros filmes Lucas revolucionou os efeitos especiais para conseguir colocar nas telas a história que queria contar, neste temos o tempo todo a sensação de que ele queria apenas revolucionar os efeitos especiais e ponto final. “A história jamais vai ser ruim, as pessoas adoram isso”, ele deve ter pensado.

Resultado: entregou três filmes ruins e não revolucionou nada.

Episódio I perdeu o Oscar de Efeitos Visuais para Matrix, e Episódio II perdeu para O Senhor dos Anéis, Episódio III nem concorreu. Mas a grande derrota foi perda da credibilidade dos fãs, que deixaram de defender a saga com unhas e dentes, e passaram a enxergar qualquer novidade sobre Star Wars como uma bobagem caça-níqueis.

Bem, agora Lucas está em casa, contando sua fortuna, e a tarefa ficou a cargo de J. J. Abrams – que já mostrou saber inovar uma saga sem ofender os fãs com Star Trek. A perspectiva é boa? Sim. A perspectiva é melhor ainda com os retornos de Mark Hamill, Carrie Fisher e Harrison Ford? Sim, sem dúvidas.

Por isso, o mundo inteiro – ou quase inteiro - comemorou quando a foto com o elenco reunido com o diretor foi divulgada. Era verdade. Os atores de Star Wars – “daquele Star Wars, que forma caráter, que encantou gerações, que meu filho que ainda não nasceu vai ser fã” – estão ali, reunidos.

Mas vi pouca gente comentando sobre a presença mais importante da foto. Está ali, sentado à direita de J. J. Abrams. É um sujeito que está perdido entre duas conversas: de um lado, J. J. Abrams está conversando com Harrison Ford; do outro Adam Driver batendo papo com outros atores novos. Ele está ali no meio, sozinho, pensando na vida.

Ou melhor, pensando em Star Wars.

Pois é isso que esse sujeito faz. Ele é a diferença entre a Trilogia Clássica e a Nova Trilogia. Ele é a diferença entre o que os fãs aprenderam a amar e o que os fãs aprenderam a odiar. Seu nome é Lawrence Kasdan e ele está ali com uma missão simples e extremamente difícil: fazer Star Wars ser bom.

Ali, ó, Lawrence Kasdam, fazendo Star Wars ser bom
Ali sentadinho, ó, Lawrence Kasdan, fazendo Star Wars ser bom

Kasdan é um dos grandes roteiristas dos anos 80. Escreveu os roteiros de nada menos que O Império Contra-Ataca (que é o filme que mostra que aquela ficção científica de 1977 pertencia a um universo estupidamente maior) e O Retorno de Jedi, que conclui a saga de personagens que, a esta altura, já eram ícones pop. A história é de Lucas, a supervisão é de Lucas, os palpites são de Lucas... Mas o roteiro é de Kasdan.

Kasdan tem outros filminhos em seu currículo. O Império Contra-Ataca foi seu primeiro filme, mas logo em seguida mudou o cinema de aventura ao roteirizar a história de um arqueólogo que aposta uma corrida contra os nazistas para colocar as mãos na poderosa Arca da Aliança. Se de lá para cá ele fez algumas bobagens, sua carreira tem muito mais acertos. E outros clássicos dos anos 80, como Corpos Ardentes e Silverado.

E, não, Kasdan não chegou nem perto dos roteiros de Ep I, Ep II ou de Ep III. E, podem apostar: é ele quem vai fazer a diferença nesta nova trilogia. Sem ele, Luke, Leia e Han não funcionariam perfeitamente. Podem trazer até o Jabba e o Boba Fett de novo. Sem Kasdan, a coisa não iria andar. Star Wars é uma daquelas coisas que funcionam por magia. E, nesta foto, a magia está toda ali, dentro daquele cara sentado em silêncio ao lado de J. J. Abrams.

Nós já vimos o que temos quando se faz Star Wars sem Lawrence Kasdan. Mas, algo me diz que os tempos são outros. Algo me diz que Star Wars, cujo novo episódio começa a ser filmado hoje, terça-feira, no deserto de Abu-Dhabi, será Star Wars novamente.

Algo me diz que o retorno de jedi, aquele que devia ter acontecido em 1999, está marcado mesmo para 2015. Com Luke, Leia e Han Solo.

E, mais importante: com Lawrence Kasdan.


publicado em 13 de Maio de 2014, 11:52
B582422ba4b39ce741909ee5f025fa5e?s=130

Rob Gordon

Rob Gordon é publicitário por formação, jornalista por vocação e escritor por teimosia. Criador dos blogs Championship Vinyl e Championship Chronicles.


Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.

Sugestões de leitura