Alberto Dell'Isola, 30, homem-memória

Depois de entrevistarmos diversos profissionais com formação híbrida, encontramos um cara que decidiu explorar os limites da memória humana.

Além de ser campeão brasileiro de memorização e recordista latino-americano, Alberto Dell'Isola trabalha como psicólogo, toca piano, dança tango, luta Muay Thai e conta que destrói com o Guile no Street Fighter II.

Usando técnicas de associação, ele saber em qual dia da semana cai qualquer data de 1753 até 2099, consegue decorar muitos nomes de pessoas, números randômicos, páginas de revistas, cartas embaralhadas e tudo o que puder ser armazenado sei lá onde em sua mente.

Link YouTube | Alberto Dell'Isola no Fantástico

1. Qual sua história? Quais suas origens?

Nasci em 12 de janeiro de 1980, um sábado, em Belo Horizonte. Sempre fui fascinado por computadores. Na adolescência, nos primórdios da internet no Brasil, eu e alguns amigos descobrimos falhas de segurança em alguns provedores da capital. Assim, capturávamos o login e senha do banco de dados do provedor e os anotávamos em pequenos caderninhos que eram vendidos para os coleguinhas de sala por cerca de R$ 15.

Esse dinheiro era inteiramente revertido em fitas de videogame – um bom investimento na época. Aos 18 anos, lecionava matemática e inglês em cursinhos pré-vestibulares da capital. Apaixonado por computadores, decidi obter certificações em programação (Microsoft e Sun), enquanto cursava ciência da computação.

2. Como descobriu que era isso que queria fazer e como chegou onde está?

Eu era considerado o cara mais esquecido da faculdade. Pra ter uma ideia, era comum eu ir pra faculdade de carro e voltar de ônibus simplesmente porque esquecia que havia ido de carro. Era comum eu ir ao cinema porque havia desistido de encontrar meu carro no estacionamento – engraçado que, após assistir a ultima sessão, eu sempre encontrava o carro facilmente!

No final de 2003, estava fazendo um trabalho acadêmico sobre memórias de computador. Enquanto buscava o termo “memory” no Google, surgiu um video de Dominic O’Brien, 8 vezes campeão mundial de memória. Nesse vídeo, ele memorizava a sequência de cartas de um baralho recém embaralhado em menos de um minuto. Na hora pensei: “Filho da puta! Como será que ele consegue fazer aquilo?”

alberto-dellIsola

Obstinado a descobrir o segredo de Dominic, passei dias e dias desenvolvendo algum sistema que me permitisse memorizar um baralho. Após diversas tentativas, cheguei a protótipo do sistema que utilizo hoje. De 2004 pra cá, esse sistema sofreu diversas alterações, me possibilitando quebrar o recorde latino americano de memorização de baralhos, com a marca de 280 cartas memorizadas em apenas 1 hora. Em 2004, resolvi investir pesado na carreira de homem-memória: resolvi abandonar a computação e cursar psicologia. Atualmente, sou psicólogo.

3. O que você faz atualmente? Qual sua especialidade? No que você é realmente bom?

Sou mentatleta – atleta da mente. Também sou membro do LADI (Laboratório de Avaliação das Diferenças Individuais), na UFMG, onde realizamos diversas pesquisas na área de psicologia. Academicamente, também estou com um projeto de reabilitação de memória de idosos com dano cognitivo leve.

Além da vida acadêmica, sou escritor, já tendo publicado 7 livros sobre os temas de memorização, leitura dinâmica, criatividade e administração do tempo. Em campeonatos de memória, minha especialidade é a memorização de baralhos: consigo memorizar a sequencia de um baralho inteiro em menos de 2 minutos e ao menos 5 baralhos em 1 hora. Também sou contador de cartas: consigo utilizar da estatística para ter mais sorte no Blackjack, já tendo sido expulso de alguns cassinos.

Finalmente, tenho muita habilidade com o calendário (juliano, gregoriano), conseguindo dizer em frações de segundo o dia da semana pra qualquer data. Agora, no que sou realmente bom? Street Fighter II, o original, com o Guile. ;-)

4. Conte um pouco do seu cotidiano.

Diariamente, corro ao menos 4 km pela manhã. Três vezes por semana, luto Muay Thai. Passo grande parte do dia escrevendo, seja para o meu blog ou algum livro novo em que esteja trabalhando.

Costumo treinar minha memória antes de dormir, memorizando ao menos 200 dígitos aleatórios por noite. Quando alguma competição se aproxima, costumo memorizar 1000 dígitos por dia e ao menos 8 baralhos.

Link YouTube | Alberto memoriza detalhes de 128 páginas de uma revista

5. Uma história ou uma cena que fez todo o esforço valer a pena

Estar do outro lado do mundo, praticando um esporte completamente desconhecido e ouvir os árbitros dizerem:

“New latin american record”

6. O que acontece nessa profissão que ninguém imagina?

Apesar de toda mídia espontânea (Caldeirão do Huck, Faustão, Fantástico, Revista Veja, dentre outros), ainda não possuo patrocinador. Desse modo, preciso financiar todas minhas viagens ao redor do mundo e quaisquer outros gastos que o esporte exija.

7. Quais os erros de outros profissionais que deixam você com vergonha da profissão?

Infelizmente, existem diversos profissionais que se dizem campeões de memória sem jamais terem disputado algum campeonato. Aliás, se eles tivessem ido a algum campeonato, eu certamente me lembraria. ;-)

8. Mulher: melhor trabalhar ao lado dela, melhor mantê-la longe ou nenhum dos extremos?

Felizmente, o homem-memória encontrou sua alma gêmea: a Miss Memória.

A Miss Memória, também conhecida como Valéria, me apoia em todos meus projetos. Aliás, compartilhamos muitos projetos juntos. Certamente é melhor trabalhar ao lado dela.

Link YouTube | 35 cores memorizadas no Simon Trickster (Crazy Mode). Tenta, vai, tenta...

9. O que você diria a um leitor que deseja aprimorar sua memória?

Conhecer as bases da memória e a curva do esquecimento é um bom início. Aqui mesmo no PapodeHomem já falei sobre isso.

Para mais dicas, fique ligado. Pretendo publicar mais artigos em breve.

10. O que você demorou muito tempo pra aprender e agora pode resumir em poucas palavras?

Não existe problema algum em escolher uma profissão inusitada. No entanto, é preciso ter coragem para enfrentar o funil do mercado de trabalho.

Quando escolhi ser o maior memorião do Brasil, eu sabia que existiam poucas vagas. Se seu sonho é ser jogador de futebol, modelo ou campeão de kickboxing, aceite a existência do funil e procure ser o melhor naquilo que você faz. Para os melhores, sempre haverá mercado.

11. Quais são os benefícios que seu trabalho gera para as pessoas?

Ao contrário do que possam imaginar, as técnicas de memória não servem apenas para se quebrar a banca dos cassinos. Essas técnicas possuem aplicação muito ampla, sendo úteis no contexto corporativo, no dia-a-dia, na escola e até mesmo na faculdade.

Participo de diversos programas de divulgação de tais técnicas, permitindo que cada vez mais pessoas se desfrutem delas. Aliás, grande parte dessas técnicas se encontram disponíveis gratuitamente em meu blog e site. Assim, só não melhora a memória quem realmente não quiser.

12. Quais seus outros interesses, práticas e habilidades?

Sou pianista, praticante de Muai Thay, torcedor do glorioso Atlético-MG e Coach com certificação internacional. Além disso, gosto de estudar temas como hipnose, comunicação, meditação, teoria da evolução e neurociência.

Danço tango também.

tango
Com a mulher, em uma apresentação de tango

13. Faça uma pergunta que gostaria muito que alguém que lhe perguntasse. E responda.

– Alberto, gostaria muito de contratá-lo para dar uma palestra em minha empresa, comprar seus livros e participar de seus workshops. Como faço? ;-)

– É simples! Basta entrar no blog www.memorizacao.blogspot.com ou no site www.supermemoria.com.br


publicado em 27 de Janeiro de 2010, 11:27
Gustavo gitti julho 2015 200

Gustavo Gitti

Professor de TaKeTiNa, colunista da revista Vida Simples, autor do antigo Não2Não1 e coordenador do lugar. Interessado na transformação pelo ritmo e pelo silêncio. No Twitter, no Instagram e no Facebook. Seu site: www.gustavogitti.com


Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.

Sugestões de leitura