Ao meu filho, com carinho

Meu filho,

A partir do exato momento em que você nasceu, eu me tornei parcialmente obsoleto. Vai precisar mais de mim nos cinco primeiros anos de vida. Neste tempo, vou te ensinar a caminhar, falar, brigar, torcer para o Curintia. Com isso você já está garantido, criado para o mundo.

Mas para não se perder por aí, ou no caso de resolver levar em consideração minha sabedoria – espero que isso não aconteça tarde demais –, vou dar umas dicas de lambuja.

Jamais saia de guarda-chuvas, mesmo se estiver caindo pedra do céu. Quem não sabe se molhar nunca chega seco a lugar algum.

Esqueça meus cartões de crédito, cheques e minha conta na Suíça. Não quero ser seu sócio. O filho pródigo sempre à casa torna, mas prefiro que você seja, ao contrário, um prodígio em termos de grana.

O resumo da vida: nascimento, cópula e morte. Como não vai se lembrar do dia ou momento em que nasceu, nem saberá quando vai partir, vamos nos ater à cópula. Anota aí: mulher é perdição. Assim como máquina digital, pen-drives e internet, mulher é coisa do demônio. Mas não desista de conquistá-las.

Leve esta verdade até o final de sua existência: você não vai conseguir pegar todas as mulheres do mundo. Mas tente, meu filho! E o que não conseguir, invente.

Nunca pegue em armas e não faça as mesmas cagadas que seu pai – pergunte ao seu avô, ele vai listar todas. E são muitas.

Caminhe. É preferível andar a pegar ônibus.

Fuja das confusões, mas se entrar em alguma delas, saia limpo. Se for fazer besteira, faça direito. E não faça Direito, muito menos Odontologia. Dão dinheiro, mas deixam broxa.

Filho, seu pai poderá parecer estranho, imbecil ou ignorante (sim, você vai achar isso na adolescência), e às vezes ele realmente o será, em algumas ocasiões. Mas este é o papel dele.

Nota do editor: Caio, filho de Menon e Gi, nasceu há 30 dias.

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Dois filhos sortudos vão levar a adega com 23 vinhos da importadora Viníssimo. Esta é a diferença entre "lembrancinha" e "um presente para se lembrar".