As armas dos artistas independentes

Nesse fim-de-ano, estou pedindo doações aos leitores que gostam do meu trabalho.

Muita gente é fortemente contra e me criticou horrores. Muita gente está doando e agradecendo o impacto de meus textos em suas vidas.

Será esse um caminho para a arte independente?

Quem não sou eu

Escrevo publicamente, de graça, na internet faz dez anos. Sobre relações abertas, privilégio, racismo, consumismo.

Além disso, publiquei dois livros de ficção (o romance Mulher de um homem só e os contos de Onde perdemos tudo) e um livro de crônicas (Liberal libertário libertino), além de inúmeros ebooks (gosto muito do Radical rebelde revolucionário, sobre Cuba, e dos aforismos de viagem do Viagens na terra dos outros).

Pra completar, sou um dos co-criadores (o outro tem a sabedoria de se manter anônimo) do tumblr Classe média sofre.

Tudo o que faço de graça continua de graça. Não espero ganhar nada em troca. Meus sites não tem área paga.

Mas...

Se você gosta e acompanha. Se pode e quer ajudar. Se não for fazer falta no leite das crianças. Se tiver gosto em fazer parte dessa história. Se quiser possibilitar o trabalho de um artista que você admira.

Então, faz uma doação?

Só se quiser. Só se te der prazer. Não dá direito a nada. Não tem brinde, prêmio, área vip.

Você ganha minha gratidão (se é que isso vale alguma coisa) e seu nome da lista dos mecenas (só se quiser).

Doe aqui.

André Dahmer explica a arte moderna.
André Dahmer explica a arte moderna.

A vida dos outros

Na Ásia, os monges budistas são sustentados pela comunidade à sua volta. Se você não pode viver a vida ascética e virtuosa de um monge, se não consegue se desvencilhar das suas obrigações mundanas, pode ao menos obter carma positivo ajudando as pessoas que seguem esse caminho que você não conseguiu trilhar, que fazem esse sacrifício que você não quis fazer.

No Ocidente, somos assim com a arte.

Sempre que um dentista ou advogado, com filhos roliços criados por babás uniformizadas e um belo portfólio de ações na carteira, elogia minha vida ascética e me faz uma contribuição em dinheiro, ele parece estar falando:

“Eu também escrevi poemas na juventude, mas a vida, você sabe como é…”, ou então “se tivesse me dedicado mais, também seria escritor, mas os filhos…”

E eu, que escolhi não ter filhos, que nunca aceitei os empregos honestos e seguros que me ofereceram, que não tenho carro ou economias, que moro num cubículo de vinte metros quadrados, mas que tenho tempo e tranquilidade para escrever o dia todo, aceito o dinheiro agradecido.

Porque, na verdade, estão dizendo:

“É importante que alguém viva essa vida, mesmo que não seja eu.”

Link YouTube | "A vida dos outros", o melhor filme sobre arte de todos os tempos.

"Alex, você se acha, né?"

Vai aparecer muita gente me xingando nos comentários desse texto. Vão dizer que o PapodeHomem acabou. Que sou um arrogante que se acha melhor que os outros. Que sou um pobre coitado que chora miséria. Coisas assim.

Bem, sobre o PapodeHomem, como editor do site, essa pauta só foi aprovada porque, independente de quem seja, consideramos interessante que um artista use a internet para pedir doações diretamente aos seus leitores.

E, sobre mim, não, colega, não.

Não sou nem um arrogante nem um fudido. Sou um adulto livre que fez suas próprias opções. Que não aceitou empregos estáveis, que não pegou frilas lucrativos, que não fez aquela viagem legal. Que ajustou seu nível de consumo pra baixo, pra poder gastar menos, trabalhar menos, viver com menos – e escrever mais.

Sou o cara que apostou tudo no sonho, no plano, no projeto de ser escritor.

Como poderia ser arrogante? Estou não no catálogo da Companhia das Letras ou na lista de indicados pro Portugal Telecom, e sim aqui no PapodeHomem, pedindo doações. Só me acharia o máximo se não tivesse noção alguma da realidade.

Mas também não estou chorando miséria. Pago minhas contas com minha arte. Não precisei me vender para o jornalismo ou para a odontologia, graças a Machado.

Não sou nem um vencedor nem um perdedor. Sou só um cara ainda vivendo, aos 38 anos, o seu sonho dos doze.

Sabe por quê? Porque essa vida é minha. Só tenho ela pra arriscar. Só tenho a mim mesmo para sacrificar.

Se não jogar minha vida na roleta dos meus sonhos, quem vai fazer isso por mim?

Ninguém tem obrigação de nada

Você não precisa fazer nada. Não tem obrigação alguma.

Se quiser somente me ler de graça na internet, eu já te agradeço. Sem leitores, não sou ninguém.

Se puder curtir, compartilhar, repassar os textos, melhor ainda. Te agradeço mais.

Se gostou do que leu de graça e quiser ler os textos que não estão na internet, pode comprar meus livros físicos ou meus ebooks.

Ou, por fim, se quer ajudar e participar, faça uma doação.

Tem várias opções de doação na minha página de mecenato. Inclusive "assinaturas", ou seja, doações mensais recorrentes, que ajudam muito. Se quiser, seu nome aparece na lista dos mecenas.

E muito, muito obrigado.

Com a palavra final, mestre Laerte.
Com a palavra final, mestre Laerte.

Quem quer fazer, faz

Depois de um concerto, o fã aborda o pianista e diz:

“Eu daria minha vida para tocar tão bem assim.”

E ele responde, simplesmente:

“Eu dei.”

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publicado em 21 de Dezembro de 2012, 11:35
File

Alex Castro

alex castro é. por enquanto. em breve, nem isso. // esse é um texto de ficção. // veja minha vídeo-biografia, me siga no facebook, assine minha newsletter.


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