Chet Baker e sua dualidade

Se você começar a enumerar os grandes nomes o jazz e botá-los, em posição, com o intuito de ver qual deles tinha a pegada mais cool, vai chegar ao topo com o nome dele.

1. Chet Baker

Quando ele estava de óculos escuros de frente ao microfone, cantando suave ou tocando aquelas nota longas, repousadas, escorregando pelo trompete, não tinha pra ninguém. Chet sempre será o mais cool dentre os cools. Isso quando estava em cima do palco.

Fora do tablado iluminado, um homem perturbado pelas drogas se fazia aparecer. Chet era viciado em heroína (assim como uma caralhada de jazzistas dos anos 50), chegou a ser observado por médicos, ficou entupido de metadona, mas a heroína era o que lhe dava toda a serenidade e transtorno máximo na vida.

Isso mudaria seu jeito de tocar.

Link YouTube | My Funny Valentine (Torino, 1959)

Conta a história que, no começo da década de 60, Baker estava devendo para um traficante e, de tanto enrolar, acabou sendo encurralado e espancado. Nesse fato, Chet perdeu vários dentes. Pra quem não sabe, tocar trompete depende bastante da embocadura, o jeito de usar a boca para soprar o instrumento. Dizem até que o trompete, junto com o violino, é o instrumento mais chato de se começar a aprender como tocar, por conta do barulho chato de iniciante. Demora um tempo pra desenvolver uma bela embocadura pra aguentar horas de sopro na belezinha dourada.

Sem alguns dentes, a embocadura de Chet Baker foi pro saco e ele teve que reaprender a tocar o trompete, fato que mudou toda a sonoridade das suas canções e até da sua voz quando cantava.

Se por um lado Chet Baker mantinha a aura mais cool que se poderia imaginar dentro do jazz, a vida conturbada ainda lhe renderia uma morte misteriosa.

O trompetista estiloso faleceu na madrugada de 13 de Maio de 1988, aos 58 anos, quando despencou da janela de seu quarto de hotel em Amsterdã, na Holanda. Até hoje não se sabe se Chet caiu (sóbrio ou louco de alguma substância), se foi arremessado (alguma briga, outra dívida) ou se ocorreu um episódio de suicídio. O fato é que, nesse ano, o jazz perdia o mais cool de todos.

Link YouTube | Time after Time (Bélgica, 1964)

Reparem nos detalhes das duas canções, uma gravada antes e outra depois de Chet perder os dentes, a embocadura e um bom tanto de dignidade.

Mas ainda assim, cool. Cool pra cacete.


publicado em 17 de Março de 2013, 07:00
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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna Do Amor. Tem dois livros publicados, o livro Do Amor e o Ela Prefere as Uvas Verdes, além de escrever histórias de verdade no Cartas de Amor, em que ele escreve um conto exclusivo pra você.


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