Como fazer amigos na idade adulta

Como ultrapassar as barreiras da falta de tempo e das relações superficiais que a idade adulta acaba nos trazendo?

Quando somos crianças, é fácil fazer novos amigos. Os mais novos possuem um senso de julgamento muito menor que os adultos, por isso, bem menos vergonha. Se já observou crianças pequenas num parquinho, pôde presenciar que não demora muito até que troquem olhares e comecem a interagir. É natural, elas simplesmente fazem isso.

A adolescência chega e passamos a nos dividir por interesses similares e ambiente que frequentamos. Nessa fase, a escola é a principal ponte de contatos. 

Conhecemos pessoas da nossa turma, que também conhecem pessoas de outras salas e quando nos damos conta já estamos conversando com toda a escola. 

Entretanto, lentamente acabamos nos dividindo em grupos menores, que apreciam algum tema em comum.

Com a fase adulta, conseguimos nosso trabalho e reduzimos bastante nosso contato com pessoas novas. Podemos até conversar com clientes ou outras pessoas ao longo do dia, mas não é um contato que gera vínculos mais fortes. Ficamos aprisionados em relações funcionais, superficiais.

Não demora muito para nos enxergarmos imersos na rotina trabalho/casa/trabalho. Acordamos um dia e lembramos que conhecemos nossos amigos há mais de dez anos e hoje já nem falamos com muitos deles.

Surge a dúvida: Como fazer novos amigos na fase adulta?

Separei aqui algumas dicas que funcionam bem comigo e talvez possam ser úteis para alguém que não esteja se relacionando com as pessoas como acha que deveria.

Abertura e repetição

Um dos itens mais essenciais para a construção de novas relações é a repetição. Não basta ver uma pessoa uma única vez, você precisa vê-la periodicamente para que um elo se construa.

Isso inclui encontros casuais e não-planejados. Os vizinhos que sempre se repetem na padaria, eles também enxergam você por ali. Não custa nada cumprimentar, dizer um olá, talvez até puxar uma conversa menor.

Se sentir que há algum espaço, convide essas pessoas para atividades que você faça em casa, como jantares, churrascos, reuniões com outros amigos, etc.

Com calma, paciência e de forma relaxada, em algum ponto, essas pessoas que uma vez foram estranhos, podem se tornar bons amigos.

Utilizando a rede de amigos atuais

Uma das formas mais simples de conhecer novas pessoas é saindo com os amigos que você já possui. 

Todos estamos conectados com gente de vários lugares diferentes. Existem aqueles amigos que conhecemos desde criança, os que jogavam bola na rua, os que conheceu no balé, os da faculdade e, hoje, os do trabalho. É bem possível que você acabe separando esses grupos, criando paredes entre as “realidades”, e seus amigos acabam fazendo a mesma coisa. 

Não é vergonha ligar para um amigo, e quando ele falar que sairá com o outro grupo, perguntar com abertura, dizendo que está afim de sair com gente nova, se teria algum problema se juntar a eles. 

Grande parte das minhas amizades novas são feitas assim, amigos antigos inserindo novos participantes sempre que saímos. 

Em Brasília temos até um grande grupo, bem diferente dos normais, onde todos acabam inserindo novas pessoas com muita frequência. Éramos 5, hoje somos mais de 40. Quando organizamos um churrasco, por exemplo, são dezenas de pessoas que se juntam, e todos se conheceram acessando a rede dos próprios amigos. 

Outra ideia interessante, ainda nesse tema, é identificar pessoas que possivelmente iriam gostar de se conhecer e apresentá-las. Ano passado fiz isso com alguns amigos e os resultados foram ótimos, até mesmo conectando amigos de estados diferentes, gente que até hoje troca conversa com frequência. 

Prática de esportes

Seja em uma academia de luta, futebol um dia da semana ou um grupo de corrida, praticar esportes é uma excelente forma de conhecer gente nova, já que um interesse em comum já está implícito na relação. 

Atividades físicas proporcionam um forte senso de companheirismo, mesmo quando são executadas individualmente. Uma pessoa dá uma dica aqui, outra ajuda a terminar a prova com incentivos e, em pouco tempo, acabam saindo para tomar um açaí depois do treino. Assim, uma nova amizade começa.

Nas artes marciais é comum que existam churrascos e festas para comemorar graduações ou simplesmente unir as pessoas. Não são poucas academias onde a amizade cresce a ponto de serem considerados como uma família. Vejo meus amigos que praticam Crossfit relatarem o extremo grau de entrosamento que acabam tendo com os outros membros, sempre saindo juntos e se tornando mais próximos.

Além de esportes, também deixo aberta toda uma gama de atividades que criam conexões entre pessoas e permite que sigam além da trivialidade. Aulas de dança, é um excelente exemplo de atividade que além do óbvio contato com outra pessoa, cria um grupo de amigos para o cotidiano, já que com frequência saem para dançar em diferentes lugares. 

Acessando pessoas que admira

A internet é um meio incrível, nos fornece com facilidade acesso a ideias de centenas de pessoas diariamente. Diversas vezes li textos que me levaram a pensar “queria ser amigo desse cara, gosto muito das ideias dele”. Muitas vezes esquecemos que essas pessoas são de carne e osso. É gente que lê, come, dorme,  também bebe cerveja e, eventualmente, também faz amizades. 

Para entender como isso pode ser feito, vou contar como aconteceu comigo: 

Ano passado recebi um email de um leitor do PdH, ele se apresentou e começamos a bater papo, sem muitos problemas, apenas troca de ideias. Disso fomos para o Facebook, até que ele resolveu passar na minha casa para tomar alguma coisa e conversar. De lá pra cá, ele se tornou um dos meus amigos mais próximos. Hoje viajamos juntos, saímos com frequência e debatemos bastante sobre nosso processo de amadurecimento, um ajudando o outro.

O contato online pode servir como porta para ampliar nossas relações na vida real. Não precisamos falar também de completos desconhecidos, como no exemplo que citei. Pense que cada pessoa tem, em média, 338 amigos no Facebook, temos sempre alguém em nossa lista que observamos de longe, mas que poderia ser um excelente contato mais real, mesmo que more em outra cidade.

Existe muitas pessoas interessante no mundo, basta tentar alcançá-las.

Aceitando diferenças 

Quando paramos para pensar sobre o motivo de nos afastarmos de nossos amigos, muito freqüentemente vamos encontrar a resposta na mudança de interesses compatíveis. 

Durante a adolescência, somos praticamente cópias um dos outros, nos organizando em tribos que se vestem parecido, ouvem as mesmas músicas e gostam das mesmas coisas. 

Com a chegada da vida adulta, vamos assumindo características individuais, muitas vezes diferentes dos traços assumidos por amigos. 

Essa falta de identificação acaba nos afastando das companhias mais antigas, e muito provavelmente, nos impedindo de conhecer pessoas novas também. 

Num exercício rápido, quantos amigos você excluiu do Facebook por divergência nas opiniões políticas durante as eleições de 2014? Essas pessoas são apenas aquela opinião política ou você era amigo delas por algo mais? Não vale a pena passar por cima, e até rir dessas diferenças, para manter uma amizade com alguém que você tem uma divergência em apenas um de vários pontos?

Essas são reflexões que precisamos fazer com frequência. Procuramos pessoas que são incrivelmente parecidas conosco, quando na verdade, diferenças sempre vão existir. 

Cada um dos meus melhores amigos me irrita por motivos diferentes, mas hoje, depois de entender que isso é parte deles, a gente ri e brinca com as chatices de cada um, mas todo mundo sabe que apesar dos problemas, nossa amizade é bem maior que nossos pontos negativos. 

* * *

É muito triste ver o tempo passar e sentir que estamos nos aprisionando em bolhas de solidão. Vemos pessoas bem mais velhas com pouquíssimos amigos próximos e sentimos que o caminho natural parece ser esse. É preciso estar aberto para aceitar pessoas novas, pessoas que não combinam com a gente, que pensam diferente, que falam diferente. 

Temos que reconhecer que não precisamos apenas da relação de casal, por exemplo, mas da relação de zelo, parceria e cumplicidade de uma boa amizade. Não precisamos ter vergonha de assumir que precisamos fazer amigos e sentimos falta disso. 

A relações não precisam se tornar cada vez mais frias, seletivas e longínquas, elas podem se fortalecer e ampliar. 


publicado em 31 de Março de 2015, 11:10
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Alberto Brandão

É analista de sistemas, estudante de física e escritor colunista do Papo de Homem. Escreve sobre tudo o que acha interessante no Mnenyie, e também produz uma newsletter semanal, a Caos (Con)textual, com textos exclusivos e curadoria de conteúdo. Ficaria honrado em ser seu amigo no Facebook e conversar com você por email.


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