Doc Paskowitz e a primeira Surf Family do mundo!

Em muitos momentos da vida já passou por minha cabeça (e também acho que já ocorreu com vocês) largar tudo o que eu estava fazendo. O emprego chato e sem perspectivas, nossa casa, nosso estilo de vida e partir para tentar viver fazendo aquilo que eu realmente gostava, que de fato achava que teria significado para a minha vida, algum sentido, viver uma vida plena.

Há algum tempo li sobre a história de um cara, cara não, senhor, Dorian Paskowitz, mais conhecido como Doc Paskowitz. Boa parte da sua história de vida, suas filosofias e coragem foi o que realmente já pensei em fazer com a minha mulher (claro que tirando a parte dos 9 filhos).

Não vou contar sua biografia completa. Aconselho assistir o ótimo documentário sobre sua vida, o Surfwise.

Link YouTube

Dorian se formou em medicina em Stanford, começou a atuar como médico mas, em certo ponto de sua vida, já depois de alguns casamentos fracassados e sem felicidade em sua rotina, largou a carreira na medicina e começou a transar com várias mulheres, com a crença de que o segredo de uma vida melhor era o sexo. Ele dizia:

“Nunca vou querer enriquecer com a doença dos outros. Eu acho fácil ser médico, há muitos mais médicos pelo mundo do que caras surfando em um dia épico de ondas gigantes em Pipeline.”

No meio dessa vida de putarias, conheceu Juliette “a melhor transa de sua vida”. Ao se casar com ela, começa um novo estilo de vida, seguindo suas próprias filosofias e crenças, sem se apegar a uma residência fixa, emprego estável, ou dinheiro. Doc começou a viver de uma forma que ele achava que seria correta para ele e sua família, isso nos anos 70.

A vida em família

Nasce aí a primeira Surf Family Americana. Para isso, Doc e Juliatte passaram a morar em seu carro e a viajaram pelos Estados Unidos. Com a vinda dos filhos, ao todo 8 meninos e 1 menina, trocam o carro por um trailer de 2,2 metros quadrados e começaram a viajar por toda a América a procura de ondas perfeitas. São 25 anos de odisseia pela estrada e, nesse tempo, nenhum filho de Doc foi para a escola. Todos os 9 pimpolhos foram educados no trailer em que viviam por seus pais. O aprendizado deles vieram de suas viagens, livros e a vida em família.

Doc Paskowitz e seus rebentos
Doc Paskowitz e seus rebentos

Um dos filhos de Doc disse:

“Muitos pais querem que seus filhos vão para a escola e que não nadem com tubarões. No caso de nossa família, é o contrário: nadamos com os tubarões e não vamos para escola.”

A única coisa que Doc exigia de seus filhos é que eles surfassem todos os dias. As crianças adquiriram conhecimento pelos próprios pais e das experiências vividas nas viagens.

“Meus filhos cresceram juntos, sem uma educação formal, mas foram criados na água, em uma atmosfera de amor e companheirismo. Por esses motivos, desenvolveram personalidades muito fortes, cada um seguiu seu caminho e me orgulho do que se tornaram.”

Toda a Família Doc, ao longo desses 25 anos, mesmo passando dificuldades, viveram no auge de suas formas físicas e muito bem de saúde. Doc sempre teve muito cuidado com a alimentação da família e proibia o consumo de açúcar em “casa”. Como o trailer que a família convivia era pequeno, todos tinham que ter uma higiene impecável.

Muitos dos filhos o culparam por não terem ido a escola, culpam por algo em suas vidas não terem dado certo, por não terem tido o conhecimento para encarar o mundo real e muitas vezes cruel. Mas hoje, após brigas e desentendimentos, todos convivem de uma forma harmoniosa e não trocariam a vida e a experiência que tiveram por nada.

Surfing for Peace

Em agosto de 2007, o surfista itinerante lançou o Paskowitz Surf for Peace, projeto de paz para entregar pranchas de surf para uma pequena comunidade de surfistas em Gaza. Paskowitz teve de convencer o governo israelense a deixá-lo entregar as pranchas, porque depois de o Hamas tomou Gaza, em junho de 2007, Israel só deixava entrar em Gaza suprimentos humanitários essenciais.

Link YouTube

O projeto foi criado junto com seu filho, David Paskowitz e também com Arthur Rashovan e Kelly Slater, depois de ler um artigo no Los Angeles Times, que destacou a falta de pranchas de surf em Gaza.

O Surf for Peace trabalhou com o OneVoice Internacional , uma organização pró paz palestino-israelense para cumprir com êxito a tarefa de entregar as pranchas de surf em outubro de 2007. A entrega bem sucedida ganhou a atenção internacional para o Surf for Peace e lançou uma comunidade global de surfistas e simpatizantes que pretendem usar a experiência compartilhada-surf para superar barreiras culturais e políticas.

E o que ele conseguiu com tudo isso?

Aos 93 anos de idade, Doc ainda surfa, ainda transa com sua mulher, tem clareza na sua fala e ideias e é feliz. Tem doenças, como todo velho tem, mas não toma nenhum remédio.Teve a vida como quis, a fez do seu jeito, seguiu seus instintos e filosofias, teve uma vida  preenchida.

Atualmente, ele faz a divulgação do seu livro Surfing and Health e Sean Penn irá dirigir um filme sobre sua biografia.

Doc-Paskowitz

Se o velho Dorian Paskowitz pode se orgulhar é de ter uma vida do jeito que ele quis. Se todos temos momentos difíceis e cheios de problemas, não seria diferente com um surfista que viaja o país só pra aproveitar boas ondas, mas o diferencial é que o tal Doc conseguiu fazer o que bem queria, assim como conseguiu criar uma família de 11 pessoas que, dentre altos e baixos, permaneceu unida e com o mesmo ideal do patriarca. Um dos filhos dele disse, ainda no trailer do documentário lá de cima:

"Eu pretendo colocar meu filho onde meu pai me colocou. Eu vou manter o sonho vivo."

E aí eu pergunto: você tem algum sonho?


publicado em 16 de Abril de 2013, 07:00
File

Daniel Scola

Trabalha com administração, mas não gosta muito. Tem uma pequena marca de roupas ecológicas MONTVERD. Surfista de alma e dos finais de semana, aprendiz de marcenaria e culinária, aspirante a shaper e ceramista.


Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.

Sugestões de leitura