CORRIGIDO: Judiciário pede reajuste de 56% e salário de R$9 mil pra copeiro

Segue notícia na íntegra, conforme publicada no Estadão.

Durma com uma Vuvuzela dessas.

"É o seguinte, vamos aprovar na Copa, tá todo mundo bêbado mesmo!"

Essa situação será criada pela aprovação do projeto de lei 6.613/2009, em tramitação no Congresso Nacional. A proposta dá um reajuste médio de 56% aos 100 mil funcionários do Judiciário. Com ele, profissionais de nível técnico poderão ganhar até R$ 18.577,88 e os de nível superior, R$ 33.072,55 - acima do teto do serviço público, que é de R$ 26.723,13.

Esses super salários não constam do projeto de lei, cujo anexo informa apenas o valor do vencimento básico, somado a uma gratificação. Mas os contracheques podem engordar até dobrar de tamanho se foram somadas vantagens pessoais.

É o caso do analista judiciário. Pelas tabelas que circulam no Congresso, ele ganharia, no topo, R$ 16.324,61. Mas o vencimento bruto chega a R$ 33.072,55, num caso extremo. É o caso de um profissional que ocupe um cargo de confiança, chamado "cargo em comissão", que lhe rende um adicional de até R$ 7.596,39, esteja nessa situação há duas décadas, recebendo por isso dez "décimos", num total de R$ 7.791,17, e tenha doutorado, ganhando por isso R$ 1.360,38 a mais.

"Alguns servidores podem chegar a essa situação, mas isso é coisa de 1% a 2% da carreira", disse Jailton Mangueira Assis, coordenador de Administração e Finanças do Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do Ministério Público da União no Distrito Federal (Sindjus-DF). "Cerca de 60% não têm incorporação nenhuma."

Da mesma forma, ele explica que os profissionais de nível básico com salários polpudos são exceção. "Deve ter umas 100 ou 200 pessoas, no máximo, nessa condição". Segundo sindicalista, há muito tempo não se faz concurso público para profissionais de nível fundamental, pois atualmente empresas terceirizadas se ocupam dessas funções.

O principal argumento dos funcionários do Judiciário para obter o reajuste é que seus salários estão defasados em relação aos dos colegas do Executivo e do Legislativo. Isso estaria provocando alta rotatividade nos tribunais, "com prejuízos no que se refere à celeridade e à qualidade da prestação jurisdicional", diz a justificativa ao projeto de lei. Parecer da área econômica diz o contrário: se os reajustes foram concedidos, os funcionários do nível técnico e auxiliar ganharão mais do que o equivalente no Executivo, o que é inconstitucional.

O projeto de lei foi enviado ao Congresso em dezembro passado, com a assinatura de todos os presidentes de tribunais superiores. Em maio, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cezar Peluso, visitou o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). Temer negou que tenham discutido o reajuste. A matéria foi aprovada pela Comissão de Trabalho da Câmara na semana passada. Precisa passar por mais duas comissões.

"Estamos na expectativa de um acordo com o Ministério do Planejamento que permita levar o projeto para o plenário", explicou Assis. Isso encurtaria o tempo de tramitação. Do contrário, não haverá tempo para votar o projeto antes do recesso parlamentar. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, tem dito que não há como pagar o reajuste este ano.

O custo estimado dos reajustes no Judiciário, que variam de 52,88% a 81,85%, é de pelo menos R$ 6,4 bilhões e beneficia 100 mil pessoas. Em comparação, o aumento de 7,72% das aposentadorias acima de um salário mínimo, sancionado semana passada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, beneficia 8,4 milhões de pessoas e custará R$ 8,3 bilhões no total.


UPDATE: O outro lado, por quem trabalha lá dentro

Segue comentário enviado por um leitor do PapodeHomem.

Desculpem, mas este é o tipo de coisa que não esperaria ler em um site com a qualidade do PdH. Simplesmente porque o artigo é totalmente tendencioso e sensacionalista.

Sou funcionário do judiciário federal há menos de 6 meses, então com certeza não sou o mais indicado para defender a categoria (até porque sou da área de TI), da qual eu sinceramente nem me considero incluído ainda, mas sei de fatos que os redatores da matéria acima também sabem e preferiram omitir.

Primeiro de tudo, os salários não possuem aumento há quase 5 anos. Não estamos no início dos 90, mas a inflação ainda existe. O que era muito dinheiro antes não é mais agora.

Segundo, sobre os acréscimos. Além dos aumentos ao decorrer da carreira (os valores finais apresentados levam 15 anos de serviço para serem alcançados), existem acréscimos por títulos (pós-graduação, mestrado e doutorado) e as funções comissionadas (cargos de chefia). Ora, quem aceitaria mais responsabilidade pelo mesmo salário? Nada mais justo que existam estes valores diferenciados (se os valores são adequados ou se a distribuição dos cargos é justa, aí é outra discussão). Destes esclarecimentos, podemos concluir que, embora estes detalhes "irrelevantes" tenham sido omitidos, o nosso copeiro que ganha R$9.000,00 já possui 15 anos de carreira, um doutorado e é diretor da "Diretoria dos Copeiros".

Terceiro, os casos extremos citados pela matéria incorporam, pelo que sei, benefícios criados há muito tempo (no governo Sarney, acho) e que não existem mais, mas os funcionários antigos que o possuem não podem tê-los retirados. Isso que causa as discrepâncias imensas que a matéria comenta. E para acabar com isto, uma das alternativas seria a implantação do subsídio salarial, mas também é outra discussão.

E por último, sim, talvez a categoria tenha criado este projeto para a copa... DE 2006! Sim, a proposta inicial deste PCCS data de 2006.

Enfim, sei que para quem está de fora pode parecer extremamente revoltante e ninguém pode culpá-los disso. Mas é interessante sempre tentar ver o outro lado e manter uma postura crítica diante do que a mídia nos mostra. Até porque, do projeto de lei para CONGELAR o salário dos servidores públicos por DEZ ANOS a mídia não comenta...


publicado em 27 de Junho de 2010, 15:07
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Guilherme Nascimento Valadares

Editor-chefe do PapodeHomem, co-fundador d'o lugar. Membro do Comitê #ElesporElas, da ONU Mulheres. Professor do programa CEB (Cultivating Emotional Balance). Oferece cursos de equilíbrio emocional.


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