Lollapalooza: os gringos que não mandaram bem

Depois da bela lua que surgiu durante o show do Pearl Jam, não é difícil eleger a melhor banda do festival. Não é difícil imaginar a quantidade de lágrimas derramadas e beijos que foram dados durante a apresentação deles. Não é difícil tecer milhões de elogios ao Queens Of The Stone Age, que fez uma apresentação impecável estuprando ouvidos e quebrando pescoços. Quem viu o Kaiser Chiefs, Cake, Of Monsters and Men, Gary Clark Jr., Alabama Shakes, também não deve ter outra coisa a não ser elogios para tirar da boca.

O Lollapalooza foi, absolutamente, um puta festival repleto de bandas fodas mandando muito bem em diversos aspectos. Mas não dá pra ser perfeito quando estamos falando de um nível de competitividade tão grande. Um erro, uma escolha malfeita e mais de 50.000 pessoas podem ficar com uma impressão torta sobre anos de trabalho.

Não deve ser fácil, enquanto músico e artista, se encontrar numa condição como esta, na qual você será comparado ao Pearl Jam ou ao Queens Of The Stone Age. Ou qualquer um dos vários artistas que ali estiveram. Porém, dias ruins acontecem.

E, vamos lá, encarar a verdade.

A Perfect Circle: apresentação gelada e timbres ruins

O A Perfect Circle é considerado um super grupo. Uma banda feita por membros que já alcançaram fama em projetos anteriores. É formada por caras que já passaram pelo Tool, Nine Inch Nails, Faith No More, David Bowie, The Smashing Pumpkins, Guns N' Roses, Queens Of The Stone Age, Alice In Chains e Marilyn Manson.

Porém, uma das últimas bandas internacionais a se apresentar no sábado não foi páreo para o carisma do Criolo.

O público em frente ao palco era reduzidíssimo e disperso. Mas, obviamente estava presente e devia ser composto por uma massa de fãs bastante fiéis.

Perfect Circle vs Criolo: o brasileiro levou a melhor

Mas eu mesmo não fiquei muito tempo assistindo. E alguns fatores foram essenciais para isso.

O primeiro deles é de que eu esperava mais calor e carisma de uma banda deste porte. Esperava não só ver uma demonstração de habilidade como também presença. Porém, a apresentação, de um modo geral, soava fria, excessivamente polida. Os músicos presos em plataformas, com pouca movimentação. E, estranhamente, com timbres absurdamente "artificiais", eletrônicos, "achatados". Nem mesmo a iluminação e as imagens no telão estavam conseguindo compor a atmosfera a ponto de segurar o público.

Várias pessoas fizeram o mesmo que eu e saíram comentando pelo caminho, convidando umas às outras para assistirem ao Criolo, que estava fervendo no palco alternativo.

Parece que o público estava realmente em busca de catarse.

Black Keys: a maior decepção do festival

Pessoas distraídas, conversando, meninas abaixando a cabeça em negativas decepcionadas e a multidão se retirando, música após música. Este foi o panorama geral para quem estava de dentro da plateia.

O Black Keys surgiu pra mim como um duo de guitarra e bateria, quando achei a faixa "Wicked Messenger" perdida no meio da trilha sonora oficial do filme "I'm Not There". E, de lá pra cá, acompanhei lançamento por lançamento, até perceber que o duozinho tinha crescido e estava na boca e ouvidos de muita gente.

Link Youtube | Foi assim que conheci o Black Keys

E, sinceramente, eu tinha expectativas bem altas com a apresentação deles no Lollapalooza.

Eu não duvidava que eles eram uma grande banda. Mas, mesmo como um fã, tinha de ser realista. E com esse pensamento, surgiram dúvidas quanto à capacidade de se sustentarem em um palco gigantesco e com uma plateia tão numerosa quanto a que estava ali.

Certamente, o Black Keys não se favoreceu por alguns fatores cruciais. Explico: eles são muito hábeis em estúdio. Sabem escolher uma riqueza gigantesca de timbres e atmosferas sutis que escapam ao controle quanto são executados ao vivo. Especialmente quando colocamos na maçaroca de informações e texturas musicais a questão da ambiência. E pela própria natureza do estilo, eles se dão muito melhor em ambientes fechados, menores, que privilegiam a modulação de dinâmica, o calor, a intimidade, proximidade.

Até aí ok. Isso não significa obrigatoriamente que a banda fosse se dar mal em um palco gigante. Acontece que, quando colocada em contraste com a explosiva carga sonora do Queens Of The Stone Age, o som do Black Keys soou magrinho, desprovido de vigor, tímido.

E, para piorar, parece que ficou claro aos músicos no palco que algo estava errado. Nunca tinha visto a banda tocando suas músicas tão aceleradas. A impressão que ficou é de que estava havendo um esforço para fazer as músicas soarem um pouco mais empolgantes. Ao mesmo tempo, o vocalista trabalhava bastante no sentido de parecer mais agitado, mais agressivo (algo bem pouco usual para quem já assistiu outras performances).

Agora, se algo definitivamente estava errado, isso com certeza dizia respeito à mixagem e ganho dispensado à saída de som.

"Estão me ouvindo?"

Não posso falar por aqueles que estavam mais próximos, em frente ao palco. Mas para mim, que estava a uma certa distância, o som simplesmente não estava chegando. Nos momentos em que eles tocavam com a banda completa, não se ouvia o teclado e o baixo. Quando a dinâmica era diminuída e eles tocavam mais baixinho, você não ouvia nada. E, mesmo quando eles tentavam tocar com mais força, os graves da tenda Perry chegavam a atrapalhar a audição.

Por último, tive a sensação de que eles não faziam ideia de qual público estava à frente deles. Vi o Black Keys fazer sucesso por aqui com os álbuns Brothers e El Camino, já com esta nova formação maior, de banda completa. Porém, a parte do meio do show foi uma sucessão de canções mais antigas e outras bem pouco conhecidas – coisa que acontece quando você se foca em trabalhos específicos, caso dos dois últimos. Excelente para os fãs, mas acho que a maioria não se enquadrava nesse grupo. Muitos desistiram na metade do caminho, por estarem querendo mais adrenalina e mais músicas para cantar junto.

O final do show veio já com o Jockey Club sendo deixado pelo público que comentava sua frustração pelo caminho.

E vocês, o que acharam destes shows? Chegaram a ver alguma banda que decepcionou?


publicado em 01 de Abril de 2013, 21:00
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Luciano Ribeiro

Cantor, guitarrista, compositor e editor do PapodeHomem nas horas vagas. Você pode assistir no Youtube, ouvir no Spotify e ler no Luri.me. Quer ser seu amigo no Instagram.


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