Meu namorado tem AIDS. O que faço?

Pergunta: “Vou ser bem clara e objetiva, estou com uma pessoa soropositiva, e quero saber se mesmo ele usando preservativo posso correr o risco de contrair a doença.

Ou seja , existe outra maneira (ex: tendo contato com a saliva, ou então com alguma inflamação na boca ou coisa parecida). E se posso ter filhos e não ser contaminada. Por favor me ajude, preciso de uma explicação não posso esperar.”

Olá, cara leitora,

Seu caso me fez remeter há tempos atrás, quando a Rede Globo de Televisão transmitia um programa chamado “Você decide”. Tal programa foi um dos pioneiros na participação dos telespectadores ao vivo nos programas.

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Quem se lembra desse programa?

Em resumo, o programa apresentava uma história, e os espectadores tinham que decidir entre dois possíveis finais. Um deles foi sobre um casal que descobre que a moça é soropositiva e o rapaz não, e foi perguntado aos espectadores se ele devia continuar o relacionamento ou não.

Aquele programa foi útil ao público, pois passava muita informação sobre métodos de contágio e prevenção, e a decisão do público foi que o rapaz DEVERIA continuar o relacionamento. Na última cena, o casal aparecia na cama, celebrando a felicidade de sua união e com um vaso repleto de preservativos multicoloridos.

Os Fatos

Se você me perguntar se existe uma forma 100% segura de você viver plenamente essa relação sem se contaminar, eu só posso dizer não. Mas a orientação que vou passar a você aqui vai diminuir muito a chance de você ser contaminada. Caberá a você pesar o custo/benefício de tudo isso, e se vale a pena arriscar.

Lembro a todos que a AIDS, se adequadamente tratada, é compatível com vida normal e produtiva. É necessário acabar com o preconceito quanto aos soropositivos.

Então vamos lá...

1 – Seu parceiro TEM que estar fazendo uso CORRETO E CONTROLADO de antiretrovirais

Os chamados coquetéis antiretrovirais praticamente reduzem a carga viral circulante no organismo a níveis insignificantes. O que por si só diminui muito a chance de te contaminar em caso de algum imprevisto.

Quando falo em uso correto, digo que o medicamento tem que ser tomado religiosamente na hora, pois qualquer falha pode fazer o vírus se replicar novamente, e aparecer em grandes quantidades nos fluidos corporais contaminantes. E quando falo de uso controlado, me refiro ao acompanhamento médico, têm que ser feitos exames de rotina para controle da quantidade de vírus circulante, para avaliar a eficácia dos medicamentos.

2 – Camisinha SEMPRE

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Fundamental, e ponto, sem conversa. Os cuidados devem ser redobrados quanto ao uso correto desta, para evitar a ruptura. É necessária também para o sexo oral, principalmente na felação. O cunnilingus (o homem fazendo na mulher) envolve os mesmos riscos do beijo na boca, dos quais trato abaixo.

Dados retirados do site do Ministério da Saúde indicam que estudos comprovaram a taxa de menos de 1% de transmissão de HIV em casais que se relacionavam com preservativo.

3 – Feridas

As feridas na boca ou genitália do seu parceiro ou as inflamações são ricas em células linfocitárias, que são aquelas que contém o vírus. É preciso alerta constante, principalmente em caso de feridas sangrantes, cujo contágio pode acontecer com qualquer passagem de sangue para você, até pelo beijo na boca, que normalmente não transmite a doença. Feridas na sua boca podem servir de porta de entrada para o vírus, e você deve evitar o contato com os fluidos corporais do parceiro.

4 – Em caso de emergência

Algo que poucas pessoas sabem, mas quando ocorre um acidente pérfuro-cortante com material biológico, o profissional de saúde é orientado a fazer uso de antiretrovirais, até que seja feita uma sorologia do material contaminante.

Ex : Médico se furou ao pegar uma veia de paciente sem sorologia -> O médico toma o antiretroviral até que seja feita a sorologia. Se for negativa, suspende-se o medicamento, se for positiva, toma-se até completar a janela imunológica e ver se soropositivou.

Caso ocorra um imprevisto, uma camisinha rompida ou coisa do tipo, é perfeitamente possível que você use o mesmo medicamento do seu acompanhante em caráter emergencial (e depois, claro, procure um infectologista, ainda tomando o remédio), para tentar impedir que eventuais vírus que entraram no seu organismo se reproduzam e te infectem.

5 – Gravidez

As notícias que tenho para te dar não são tão boas. O máximo que você pode fazer é reduzir o risco, porque para engravidar, o sêmen tem que entrar em contato com a vagina, e isso por si só é arriscadíssimo. Mesmo se você fizer uso de antiretrovirais, é como fazer uma roleta russa.

Vocês podem sim ter um filho sem HIV

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O final feliz é possível, mais do que imaginam

Porém, encontrei dados em sites de clínicas de fertilização e também uma notícia no site do Ministério da Saúde indicando que existem técnicas envolvendo fertilização in vitro com uma espécie de “purificação” do sêmen que permite aos homens soropositivos serem pais, sem contaminar suas esposas e filhos . Não é um procedimento barato, mas pode resolver o problema.

Finalizando, gostaria de deixar registrada minha satisfação ao responder esta pergunta, tanto em aumentar meu conhecimento sobre o assunto com a pesquisa, como em poder esclarecer e ajudar a combater o preconceito que impera por aí.

Dr Health, peleando ao lado da ciência em busca de um mundo menos preconceituoso.


publicado em 14 de Novembro de 2007, 20:22
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Mauricio Garcia

Flamenguista ortodoxo, toca bateria e ama cerveja e mulher (nessa ordem). Nas horas vagas, é médico e o nosso grande Dr. Health.


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