Não se engane. 7 a 1 é melhor que 1 a 0

Minha primeira Copa do Mundo, a primeira que me lembro de participar em certa medida, foi a de 1990. A nossa seleção perdeu para a Argentina nas oitavas de final com um gol que se originou dos pés de Maradona e acabou com o chute lindo de Caniggia.

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Vi meu pai devastado, meu avô também. Eu, com menos de dez anos, nem sabia como reagir. Vi nossa seleção ser campeã em 94, estava com 15 anos quando aconteceu aquela loucura na França, vi outra vitória em 2002 e sofri imensamente em 2006 e 2010, quando perdemos para a França novamente e para a Holanda.

Ontem eu não sofri.

Fiquei triste, por mais que a Copa ainda seja a melhor Copa e que, além do Brasil, eu também torcia para Uruguai, Holanda e Argentina (das 4, 3 chegaram às semi-finais), fiquei triste porque o meu time, mesmo, perdeu.

Mas não sofri. Se eu fosse mexicano, ficaria devastado com o simples 2 a 1 contra a Holanda, que levou os mesmos 6 minutos para virar o jogo no final do segundo tempo e eliminou a seleção do México. A Karine, que mora na Cidade do México, disse que a cidade virou um grande túmulo de dor e silêncio após o jogo.

Todos, hoje, vão falar em vexame e humilhação, mas pura chamada de jornal pra vender alguns exemplares a mais. Ontem, melhor do que uma virada inesperada, uma letargia nos atacou em 6 minutos e o sonho se foi, tão rápido pudesse ir. Já com 4 a 0, antes dos 30 do primeiro tempo, todos já haviam desistido da esperança. E é ela que nos fode.

“A esperança é uma alegria inconstante, nascida da ideia de uma coisa futura ou passada, de cujo desenlace duvidamos em certa medida.

O medo é uma tristeza inconstante, nascida da ideia de uma coisa futura ou passada, de cujo desenlace duvidamos em certa medida.

Segue dessas definições que não há esperança sem medo, nem medo sem esperança. [...] Quem está suspenso na esperança e duvida do desenlace teme enquanto espera, e quem está suspenso no medo e duvida do que possa acontecer espera enquanto teme.”

– Espinosa | Ética

Os alemães nos tiraram o hexa, alguns acham que perderam também a dignidade e o David Luis acha que perdeu a oportunidade de dar "só uma alegria a um povo tão sofrido". Mas o que o futebol alemão nos tirou mesmo foi a completa esperança de uma vitória, ainda no primeiro tempo.

Miroslav Klose, o maior artilheiro em Copas do Mundo
Miroslav Klose, o maior artilheiro em Copas do Mundo

E isso evitou um sofrimento danado.

O resto é futebol a ser debatido. E tem muito debate pra se começar. O Fred Fagundes cantou a bola do futebol alemão há tempos.

Ontem, o Guilherme separou "8 textos para ler após Alemanha 7 x 1 Brasil". Vale o seu tempo.


publicado em 09 de Julho de 2014, 06:35
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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna Do Amor. Tem dois livros publicados, o livro Do Amor e o Ela Prefere as Uvas Verdes, além de escrever histórias de verdade no Cartas de Amor, em que ele escreve um conto exclusivo pra você.


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