O que estamos assistindo? [Maio/2012]

Você sabe por que nós estamos aqui? Para amplificar jornadas. Tanto a sua, quanto, é claro, as nossas. Algumas das maneiras de fazer isso são contar histórias, celebrar grandes feitos, reconhecer e aprender com a experiência dos que estão à nossa frente... e compartilhar referências culturais.

Estamos pensando em fazer um post coletivo semanal com o pessoal do aqui QG no qual te contaremos o que estamos assistindo, lendo, ouvindo, fazendo etc. O que você acha da ideia? (Sugestões de temas ou modos de fazer são bem-vindas.)

Começamos hoje com o que estamos assistindo. Filmes, seriados, webséries, novelas, o que for. Claro que, no final, queremos saber o que você está assistindo e pode nos recomendar.

 

Rodolfo Viana assiste à minissérie "A vida como ela é..."

 

Ando assistindo em loop infinito a minissérie A Vida Como Ela É..., que passou na Globo em 1996. Eu sou fã de Nelson Rodrigues e já devo ter lido tudo o que ele escreveu. E mesmo sendo familiarizado com sua obra, me espanto com o diretor Daniel Filho, que soube ir além dos textos e transpôs para a TV toda a aura do escritor.
Um pouco de história: de 1951 a 1961, Nelson Rodrigues imprimiu no Última Hora as paixões proibidas dos subúrbios cariocas. A efervescência sexual dos adúlteros, as ninfetas demoníacas, os maridos paspalhos e os homens cínicos eram apenas algumas espécies dessa fauna. Não é exagero dizer que o escritor desnudou o lado sórdido da fêmea: umas gostam de apanhar, outras preferem trair, algumas fazem sexo com o primeiro que encontram...
E Daniel Filho deu textura ao folhetim. Deu carnes suculentas às personagens.

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Alicinha (Gabriela Duarte, em "O Anjo") é a irmã infernal que quer seduzir o noivo da irmã. “Olha os meus peitinhos. Não são bonitos? Pequenos. Duros. Toca”, oferece. Já Lurdinha (Cláudia Abreu, em "Boa Menina") é uma mulher traumatizada com o namorado que passa a sair com todo homem que encontra. “Homem não quer mulher fiel. Homem gosta de ser traído”, postula. E tem a Cilene (Malu Mader, em "A Esbofeteada"), masoquista para quem prova de amor é tapa na cara: “Eu esperei tanto por essa bofetada! Agora eu sei que tu me amas”, confessa.

 

Rodrigo Cambiaghi assiste ao canal "Manual do Mundo" no YouTube

 

Lembra das experiências do Mundo de Beakman? Imagine um canal inteiro do YouTube só disso. É o Manual do Mundo.
O legal é que ele não faz só experiências do tipo deixar uma casca de ovo mole e transparente ou como cuspir fogo usando Maizena, mas também outras manhas e truques legais, como: fazer multiplicação sem tabuada, como dobrar camisetas de um jeito mais rápido e fácil, como fazer desaparecer uma moeda, entre outras mil coisas.
Já estou pirando nisso agora, fico imaginando como será quando eu tiver filhos.

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Jader Pires assiste à Quinta Temporada de "Mad Men"

 

Por esses tempos, as séries de TV têm me atraído muito mais do que os filmes em lançamento. Não sei se o primeiro anda arriscando mais ou se é o segundo que está experimentando menos, mas o que de fato importa é que, das recentes temporadas, a de Mad Men é a que mais está me deixando satisfeito.
É muito interessante ver as sagas distintas de cada personagem, cada um a seu modo, buscando uma vida melhor e mais confortável, como pessoas "especiais" que trabalham com publicidade sempre deveriam ter. Em vez disso, cada degrau acima significa uma frustração maior. Quanto mais se busca, mais distante a felicidade fica. Mad Men sabe fazer isso como nenhuma outra série. Conta e aponta como os anseios podem ultrapassar a vida em si e criar toda uma esfera de que a vida não vale a pena ou que todas as buscas são, invariavelmente, em vão.
Outra das maravilhas da série: a ambientação da vida cotidiana em Nova York sempre atrelada aos fatos inflamados da década de 60 nos Estados Unidos. A Guerra do Vietnã está sempre na TV ou nos jornais, enquanto as grandes greves estão na porta do edifício da agência onde as personagens trabalham. As goupies estão o tempo todo correndo atrás dos Rolling Stones e dos Beatles, e a publicidade entende isso e tenta fazer o mesmo, ou seja, trazer a juventude (tão amada e igualmente odiada na década de 60) para a publicidade. A série chegou a pagar U$ 250.000 para executar uma única vez a canção "Tomorrow Never Knows", dos Beatles, pra uma sequência de pouco mais de 40 segundos. Tão botando o pau na mesa, com toda a moral.

 

Mad Men
Da esquerda para a direita: Christina Hendricks, um bando de outras pessoas

 

Para quem assiste Mad Men, dá pra perceber que o ano de "folga" fez um bem danado pra série como um todo. E todos os que gostam da série sabem que, quando tudo está bem, é porque a queda vai ser grande, grande demais.

 

Gustavo Gitti assiste ao filme "PINA"

 

Meu Deus, meu Deus!
Estava procurando por algo WTF!? e dia desses passei por umas 27 experiências assim. Pina era uma xamãzona; seus alunos bruxos sobrehumanos, suas alunas feiticeiras possuídas. Prova de que sempre precisamos de alguém para nos mostrar as possibilidades de nosso corpo e de nossa mente.
Isabella Ianelli e eu saímos vivos.
Se ainda não viu, sugiro passar pela experiência de ver PINA no cinema. E em 3D (melhor uso impossível). Obra-prima em mil níveis.

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Depois de PINA, você é capaz de ver duas horas de jogo de futebol sem olhar para o placar ou reconhecer quais são os times, só pelo prazer de acompanhar o jeito que aqueles corpos se movem.
Depois de PINA, todas as outras artes e técnicas e estilos e grupos e artistas ganham uma dimensão xamânica. E então você entende a crítica de Alan Moore aos publicitários.
Depois de PINA o sexo vira alguma outra coisa.
Depois de PINA você entende como é possível que Reinhard Flatischler (TaKeTiNa) ensine sobre postura na vida enquanto você acha que está aprendendo a tocar berimbau, do mesmo jeito que o Sr. Miyagi usa técnicas de pintura de cerca para ensinar karate.
Depois de PINA você fica realmente curioso com seu próprio corpo e com outras possibilidades de acoplamento e exploração de lugares e objetos.
Depois de PINA você observa ainda mais os micromicromicro movimentos e expressões das pessoas.
Depois de PINA a vida fica mais estranha.

 

Alex Castro assiste ao seriado "The Good Guys"

 

Estou assistindo uma série norte-americana chamada The Good Guys, que teve somente uma temporada, entre maio e dezembro de 2010.

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É uma das melhores sátiras que já vi. É um típico buddy cop show, onde temos um policial certinho (interpretado pelo filho do Tom Hanks) e um policial aloprado (Bradley Whitford, famoso por The West Wing). Obviamente, nada no universo poderia ser mais clichê, e essa é a graça.
Cada episódio metodicamente retrabalha os clichês do gênero. Os bandidos são sempre fascinantes e muito bem desenhados. E Bradley Whitford, caramba. A gente se acostumou a ver o cara disparando diálogos sorkeanos inteligentíssimos em The West Wing, e agora ele é um policial durão, de pentear o bigode, e que ficou entalado na década de oitenta.
Eu vi o piloto por recomendação de alguém em cuja opinião eu confiava. Quem sabe você faça o mesmo.

 

Fabio Rodrigues assiste a documentários

 

Estou de partida para um retiro de silêncio no momento em que o Bracht me pediu para escrever isso e participar do post coletivo, então preciso ser breve.
Assisti há algumas semanas o documentário Crazy Wisdom: The Life & Times of Chogyam Trungpa Rinpoche, e agora estou no meio do BBC Horizon: The Hunt for AI, por indicação do Eduardo Pinheiro.
Ambos ótimos.

 

Fabio Bracht assiste à série Firefly

Estou assistindo à essa pérola injustiçada do Joss Whedon (diretor do filme dos Vingadores atualmente em cartaz), de quem sou fã.

Para quem não conhece, é uma mistura de sci-fi e western – existe uma cena muito foda na qual os personagens todos estão a cavalo em um planeta desértico, tudo dá errado em uma negociação de mercadoria clandestina, e o deus ex machina é uma nave espacial aparecendo para salvar a pele do pessoal. Como é tradicional no trabalho do diretor, os personagens são excelentes, os diálogos são certeiros e qualquer um pode morrer a qualquer momento.

Firefly

Quando assisti ao primeiro episódio, dia desses, escrevi o seguinte no Facebook (sim, está bastante hiperbólico, eu sou assim no primeiro momento após descobrir algo do qual eu sei que vou virar fã):

 

Estou extremamente feliz e muito triste ao mesmo tempo.
Extremamente feliz porque acabei de assistir ao primeiro episódio de Firefly. Não tenho palavras pra descrever o quanto é incrível. Melhor do que qualquer filme que eu tenha assistido esse ano. Quase melhor do que uma temporada inteira de Buffy ou Lost (minhas duas séries favoritas). Em uma hora e vinte minutos, empolga tanto quanto e gera mais empatia do que as 150 horas que gastei na trilogia Mass Effect.
Tem tudo. TUDO. Humor, ação, enredo empolgante, personagens dos quais eu gostaria de ser amigo. É lindo. Caralho, tô quase chorando de tão foda que é.
Extremamente triste porque eu sei que é só uma temporada, só 14 episódios, e, pelo que eu sei, o final nem é conclusivo porque a emissora cancelou meio em cima da hora.
A vontade de ignorar toda a minha vida e assistir aos 14 episódios em sequência agora mesmo é tão grande quanto a vontade de nunca mais assistir a nenhum episódio, pra não gastar.

Queremos saber agora duas coisas de você: 1) O que você nos indica de fodão? 2) Curtiu esse formato de post coletivo? Acha uma boa fazermos toda semana, com temáticas diferentes? Dê a sua opinião e nos ajude a fazer o PdH que você quer ler.

Seguimos o papo abaixo.


publicado em 18 de Maio de 2012, 13:23
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Fabio Bracht

Toca guitarra e bateria, respira música, já mochilou pela Europa, conhece todos os memes, idolatra Jack White. Segue sendo um aprendiz de cara legal.\r\n\r\n[Facebook | Twitter]


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