Por que alguém viajaria sozinho?

A vontade de deixar o mundo para trás por alguns dias e conhecer, por si só, coisas novas

Para a maioria da população mundial, viajar sozinho pode ser totalmente fora de cogitação. Muitos não devem nem ver sentido nisso e eu até entendo. Talvez pensem “que graça tem viajar sozinho e não ter com quem dividir as coisas bacanas que acontecem durante uma viagem?”. Aí é que está! Existe tanta coisa legal pra fazer sozinho em uma viagem que, depois de experimentar a primeira, aposto que vai querer mais.

Você precisa de um motivo para viajar sozinho? Beleza! Eu te dou alguns. 

Pode-se viajar sozinho por ser o único da sua turma de amigos que tem grana e folga no trabalho ao mesmo tempo e esse fato coincidiu justamente com o momento que você decidiu se enveredar por novos cantos. Ou, como eu, você pode querer viajar sozinho porque acabou de levar um pé na bunda bem dado, daqueles de desestruturar qualquer ser que se achava sob controle e que, do nada, se viu perdido no próprio mundo. Ou por tantos outros motivos, você pode simplesmente querer sumir, fugir, experimentar ser anônimo em meio a outros estranhos, pensar na vida ou na mãe Joana. 

Na verdade, o motivo é pessoal e pouco importa, desde que ele te impulsione a partir rumo ao desconhecido.

Eu sei, viajar sozinho dá medo e as inseguranças batem forte. A boa notícia é que você vai se tornar uma pessoa mais segura depois dessa viagem. O desconhecido assusta e muito, nós sabemos disso, porém esse sentimento só existe porque estar sozinho em outro lugar do mundo enche a nossa cabeça de incógnitas, o que é natural. Não basta alguém te contar uma história bem sucedida de volta ao mundo e, pronto, o medo sumiu. Porém, no momento que você escolhe sair dessa zona de conforto onde você conhece todas as respostas e decide viajar sozinho, essa confiança e segurança vão aparecer, à medida que você sentir que é capaz de se virar sem depender de mais ninguém. E te digo mais. Quando a gente se vê autossuficiente, a vida fica mais fácil, pois deixamos também um pouco a carência emocional de lado.

O primeiro teste acontece logo que desembarcamos em um país novo e vem aquele frio na barriga. Imigração pela frente e você é a única pessoa que está ali para explicar àqueles malucos seus motivos de ter escolhido tal país. Mas sendo bem sincera, até acompanhado essa tensão existe, então que diferença faz estar sozinho? Se tiverem que te mandar de volta, nem o querido Papa te segura. Então ensaie bem o discurso antes, em inglês por favor, e aguente firme. Passou do aeroporto? Liberdade à vista. Voilá!

O barato de estar sozinho em um lugar desconhecido é que você é quem decide quando ir e vir e isso é fabuloso. Visualize como pode ser bom não ter ninguém controlando seus horários de acordar ou de ir embora da balada. Para onde ir então, nem se fala. Você é livre para escolher o roteiro, os meios de transporte, onde comer, enfim. A liberdade é infinita aqui. Resolveu mudar de planos porque conheceu uma pessoa interessante que te fez uma proposta irresistível? Só depende de você ficar mais ou seguir o caminho com o novo estranho e ir para aquela ilha paradisíaca. Isso acontece e poderia ser você a pessoa obrigada a ir embora porque já combinou com os amigos outros planos. As oportunidades que surgem durante a viagem são suas e cabe exclusivamente a você escolher o próximo rumo. E mais! Só de pensar em não ter pressa pra tirar um milhão de fotos do jeitinho que você gosta ou ler com calma aquele livro que você não via a hora de devorar sem precisar dar atenção a mais ninguém, já vale muito.

Talvez viajar sozinho seja o ápice do egocentrismo, mas e daí? Essa experiência pode ser um passo fundamental para aprendermos a viver melhor acompanhados mais pra frente, ou talvez você se descubra um apaixonado por si mesmo e aprenda a levar a vida numa boa sozinho. O fato é, tudo que nos ajuda a nos conhecermos melhor, nos torna seres mais conscientes das próprias atitudes diante das dificuldades do cotidiano. E ter consciência da nossa responsabilidade no mundo é metade do caminho para uma vida de feliz.

Além disso tudo, talvez o ponto mais relevante do ato de viajar sozinho é se tornar um formador de opinião. Nos dias de hoje, estamos impregnados de clichês e nos iludimos com a quantidade de informações lançadas na internet. Apresentamos nossos pontos de vista com propriedade, quando na verdade nossa opinião foi formada por um misto de três artigos que lemos em sites diferentes e ainda nos orgulhamos por estarmos antenados. Tudo bem, aceitamos que o tempo é escasso e é impossível dominar todos os assuntos que bombam no dia-a-dia. E aí é que entra o viajar sozinho. Em grupo, o mesmo acontece, inconscientemente. Nos voltamos para os amigos e a viagem gira em torno deles. Fazemos programas que nem nos interessava tanto só para acompanhá-los e curtir junto. Mesmo porque, ninguém quer ouvir as histórias engraçadas mais tarde sem ter participado delas. 

Sozinhos, nosso senso crítico aguça. 

Nem tudo está bom e muita coisa deixa de ser aceitável. Deixamos de seguir o fluxo como carneirinhos e descobrimos nossas preferências pessoais. Focamos em fazer com primor tudo que nos dá prazer. Indagamos muito mais e é a oportunidade perfeita para quebrarmos preconceitos. Os porquês que brotam em uma viagem é o que mais nos transforma. Uma inquietude surge e começamos a procurar verdades que nem imaginávamos que existiam. É claro que cada um vai descobrir em si seus próprios questionamentos. Pode ser que você encontre uma nova paixão na vida ou que talvez volte amando em dobro as suas conquistas. O fato é que novas referências serão criadas e na volta pra casa, nada será como antes.

E tem mais! Viajar sozinho não significa permanecer desacompanhado durante toda a viagem. Essa escolha vai acontecer naturalmente e companhia boa facilmente se encontra pelo caminho. Se quiser mesmo, sozinho você não fica. Até os tímidos aqui tem vez. É um ótimo exercício, recomendo. Mesmo porque, quando a gente não deve nada a ninguém, não tem problema falar outro idioma errado, se essa é a sua insegurança. 

Experimente se hospedar em albergues e ficar em quartos compartilhados. Você chegou da rua e a galera tá no quarto ou no lounge, lance logo um “e aí, galera? Tudo beleza? Acabei de chegar na cidade e tô super perdido. Vocês estão curtindo o lugar? Tem alguma dica bacana?”. Enfim, o que você vai falar é o de menos. Abra a cabeça e jogue limpo. Não sabe por onde começar? Sorria, caríssimo. Um sorriso em terras estrangeiras vale ouro e quem tem boca faz amigos. Então desencana e solte o verbo, sem exageros, claro. A sua chance de falar é qualquer momento que tiver alguém de bobeira por perto. Pode mandar bala sem pestanejar. Assim como você, viajantes costumam estar abertos a conhecer pessoas e se enturmar pode te render bastante coisa boa, acredite.

Festa de réveillon em Bali, comigo no centro cercada de novos amigos de vários países diferentes

Caso você esteja ensaiando sua primeira jornada solo, saiba que a escolha do destino pode ser crucial para o seu sucesso. Pense o seguinte: no inverno, em qualquer país do mundo, as pessoas são muito mais fechadas e saem muito menos de casa. Sendo assim, suas chances de interagir e criar novos relacionamentos, mesmo que temporários, diminuem consideravelmente. Em compensação, no verão, você pode ir às forras. O povo vai pra rua, fica mais solícito e sorri muito mais. O astral de qualquer cidade muda e a felicidade reina.

Depois disso tudo você ainda se pergunta qual o sentido de viajar sozinho? Bem, a sua razão só você vai saber, mas posso te assegurar que cada pôr-do-sol que você assistir, cada vez que alguém for generoso com você e te ajudar sorrindo e de coração aberto ou cada vez que você se arrepiar ao descobrir um lugar de beleza estonteante e perder o fôlego, você vai saber que era tudo muito simples, bastava escolher. 


publicado em 17 de Maio de 2015, 00:00
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Juliana Puppim

Entusiasta, viajante e muito curiosa. Pelo blog Meu Moleskine ela escreve sobre sua paixão de viajar pelo mundo e sobre as coisas boas da vida.


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