Porque vamos fechar o Arco

Hoje o Arco deixou de existir. Em linhas gerais, vamos fechar porque o dinheiro acabou. 

Como muitas startups, precisávamos de um investimento que nunca veio para escalar o negócio. Infelizmente não conseguimos convencer ninguém de que investir em social commerce é olhar pro futuro, mas acho que fomos bem longe sozinhos. Segundo as minhas próprias métricas, o Arco foi uma startup muito bem sucedida.

É estranho ter orgulho de fechar uma empresa e sei que parece demagogo, mas “não dar certo” foi uma experiência enriquecedora. 

Antes de explicar o porquê, quero deixar claro que este é um ponto de vista pessoal (não falo em nome de todos os meus sócios). Também quero agradecer a paciência de quem entendeu, de coração, o conceito “Beta”. De uns meses para cá tivemos que deixar a operação enxuta, então sabemos que muitos usuários aguentaram firme esta reduzida de marcha. Obrigada. Mesmo. 

Eu uso muitos serviços digitais e sei o quanto a gente espera que uma ferramenta seja impecável, rápida, bonita e surpreendente o tempo todo. Acontece que por trás de cada linha de código existe um universo muito maior e mais complexo do que eu imaginava: pessoas e a sua própria relação com a tecnologia. Programadores, usuários, fundadores, investidores, entusiastas ou críticos: nada mais difícil do que alinhar expectativas a respeito do que uma tecnologia pode/deve ou não fazer.

A palavra “inovação” está sempre na boca do brasileiro. 

Empresas precisam inovar, pessoas precisam inovar, as relações precisam inovar e tudo precisa sair da caixa ASAP. O que ninguém entende é que não dá pra pular na piscina sem molhar o cabelo. Até o último fio. Tem que correr risco, tem que duvidar, tem que pular do precipício dando mortal de olho aberto. 

Isso se aplica ao empreendedor, mas também à marca, empresa, agência e principalmente investidor que quer ver o seu nome atrelado a um projeto do caralho mas que não tem coragem de pagar para ver. Literalmente.

Sim, acho que fomos perigosamente otimistas. O Paul Graham, um cara que me ensinou muito sobre startups, diz uma coisa ótima a respeito:

“Você deve tratar o seu otimismo do mesmo jeito que se trata o centro de um reator nuclear: como uma fonte poderosa de energia que é também muito perigosa. Você tem que construir um escudo ao redor dele, ou então ele te frita.”
Em 2013 ganhamos o prêmio de melhor start up pela revista Info na categoria 8-bit. Otimismo nos define.

Mas sem otimismo não dá pra fazer. Não dá nem pra pensar em começar, então talvez tenha sido uma questão de dosagem. Também acho que menosprezamos a complexidade (em todos os sentidos) dos processos de investimento e venda de uma startup. 

Contamos com vários acordos apalavrados com pessoas, fundos de investimento, agências de publicidade e empresas, todos apaixonados por inovação e apavorados pelo risco

Passamos por infinitas rodadas de aprovação com um gigante do mercado interessado em comprar tudo, chegamos a destampar a caneta para assinar papéis com uma outra galera, mas em algum momento vinha a pergunta (quase nunca neste formato): “quando é que o meu dinheiro volta?” 

Nos preparamos muito para essa resposta e é claro que tínhamos as nossas projeções, mas se tem uma coisa que eu aprendi nestes anos é que na hora de botar a mão no bolso a inovação é o item menos valioso. Vi muita startup esculpindo números em gráficos lindos e planilhas absolutamente subjetivas. 

Como é que se calcula o EBITDA de uma parada que nunca existiu? Como se projeta a escalada de um serviço inovador que nasce com a premissa de formar público? Como desenhar um modelo de negócio eficaz sem ter a liberdade de experimentar e testar as opções que a ferramenta oferece? Tá mentindo todo e qualquer empreendedor que consegue medir inovação com réguas antigas. 

Dá pra projetar, imaginar, inferir… mas de fato saber quando volta o dinheiro… é bem difícil. Como diz um grande amigo meu, “é menos arriscado vender a sua casa, ir pra Vegas e apostar toda a grana no vermelho 23”.

Mesmo assim: como foi legal ver o bichinho crescer por nossa conta e risco. Esses dias lembrei que, antes de lançar, ficamos imaginando quanto tempo demoraria pra aparecer o primeiro “comprar” orgânico (que não os das nossas famílias e amigos orgulhosos). Uma semana, dez dias, eu chutei. Um dia depois já tinha um doido copiando o comentário de um comprador-amigo só pra ver o que acontecia. 1 dia.

Esse é o brasileiro na internet: social, curioso e destemido.

a nossa primeira venda < 3

Foram quase vinte mil os empolgados que interagiram com a gente de alguma forma (clientes, fãs, seguidores) durante estes anos. Pessoas que acharam a nossa idéia boa e nos deram espaço para explicar como funcionava essa ferramenta estranha que nunca ninguém tinha ouvido falar. 

Alguns podem pensar “vinte mil? pff… Vão comer arroz e feijão, galera.”, mas a minha leitura é diferente. Ajudamos VINTE MIL pessoas a entender o valor do social commerce e a forma como a tecnologia pode mudar a relação delas com micro, pequenas, médias e grandes marcas na Internet. Ajudamos micro e pequenas marcas a entender o potencial da rede que já está ao seu redor e a relativizar essa ânsia cada vez maior por likes e seguidores. Para mim, essa é a grande prova de que o Arco deu certo.

O processo de formação de público foi muito interessante. As pessoas foram bem mais rápidas do que a gente imaginou.

O Arco ajudou a vender desde sabonetes decorados de uma senhorinha fofa do Nordeste até câmeras fotográficas Leica, numa campanha global no Instagram. Criamos uma rede, colocamos micr0-produtores em contato, ajudamos artistas, criamos público, ampliamos boas mensagens, apresentamos concorrentes (e multiplicamos seus mercados), divulgamos trabalhos que escolhíamos a dedo e sobrevivemos dois anos sem vender 1 post sequer no nosso perfil.

Onde acertamos? 

Dentro das possibilidades, fizemos tudo o que deu vontade. Inventamos o Arco Social, o Arco Stats, criamos um sistema para ativação de hashtags, convencemos as nossas marcas brasileiras preferidas a venderem no Instagram e criamos campanhas lindas de instavídeos com o Luis, a Valentina, o Edu, a Camilla e o Ian (obrigada Taci < 3). 

Sem falsa modéstia? Eu sei que fizemos muitos queixos caírem, mas hoje eu vejo que ideias milionárias são as mais miseráveis. O importante é permear o contexto, e isso nem sempre depende de uma ideia sexy.

O Arco Social foi uma adaptação da nossa ferramenta para ONGs e instituições sociais. Não tínhamos nenhum lucro nessas transações.
Bruna e Teta, que abraçaram a jornada do comprador/vendedor e nos ajudaram a enxergar um monte de insights importantes.

De qualquer forma: fizemos brainstorms incríveis, tivemos brigas homéricas e ralamos para caralho. Conversamos de igual para igual com os gigantes, ouvimos (e aprendemos muito) dos pequenos, batemos na porta de quem nos deu vontade e sentamos na mesma mesa dos 50 profissionais mais inovadores do Brasil. Faltou grana, paciência, confiança e resiliência, mas não dá pra dizer que foi qualquer coisa menos do que incrível.

Obrigada Arthur/Jurema, Camilla e Luciana por esse debut corajoso. Aprendi muito com vocês.

* * *

Ever tried.

Ever failed.

No matter.

Try Again.

Fail again.

Fail Better.

(S. Beckett)


publicado em 29 de Julho de 2015, 18:02
Diana assennato

Diana Assennato

Jornalista e mestre em Mídia Digital. Curiosa e crítica em relação à tecnologia, novos meios e humanidades digitais. Mais em: http://diassennato.com


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