Profissão DJ: primeiros passos

Muito se fala sobre ser DJ, uma das profissões mais cobiçadas pelos jovens. Atrás da pickup, com a música na mão, homens e mulheres são vistos como interessantes, descolados, bem relacionados. Mas, afinal, o que é ser DJ?

A complexidade da pergunta representa a difícil missão de tocar bem e agitar o público. Na teoria é simples, basta seguir estes dois pontos... o problema é alcançá-los!

Listando alguns significados para a profissão, vemos que para muitos os DJs são simplesmente “os responsáveis pela vibe”. Se mandam bem, a balada é boa; caso contrário, atrapalham a noite de muitos. Também são vistos como produtores, sonoplastas (infelizmente a visão mais equivocada que recebemos) e animadores.

É preciso saber interpretar o ambiente e o público, escolher a track certa, traçar um roteiro, estabelecer sintonia, mixar com exatidão e personalidade (quem nunca foi surpreendido ao ouvir uma música conhecida remixada em uma versão completamente diferente?)... Enfim, compreender o que é a profissão, sacar o público e proporcionar a todos uma energia insuperável. Ser DJ é algo muito além de saber tocar: envolve o sentimento, o amor à profissão e a dedicação em oferecer diversos estados aos ouvintes.

Link YouTube | Trailer do filme "It's All Gone Pete Tong", uma história incrível de superação na carreira de um DJ. Recomendo.

PC ou toca-disco?

Os primeiros DJs surgiram pelas rádios, executando a sequência musical através do gramofone. Posteriormente, chegou ao mercado a tecnologia do Long Play, disco de vinil, o famoso “bolachão”. Juntamente com os LPs, apareceu em cena a figura do DJ que víamos até a década de 90, representada pela manipulação dos discos em turntables (toca-discos).

A partir desta década o CD ganhou força e importantes marcas de equipamentos para DJs começaram a investir seus estudos nos lançamentos de novas tecnologias. As CDJs (equipamento para manipulação de CDs como se fossem vinis) foram introduzidas no mercado rapidamente, tornando-se a bola da vez.

Ao adentrarmos a era da tecnologia, muitos passaram a ter a oportunidade de ser um pouco DJ. Existem inúmeros softwares que simulam os equipamentos de mixagem e são grandes ferramentas para quem possui algum know-how na área. Apareceram, então, os novos DJs, adeptos do computador.

Surgem daí alguns questionamentos sobre a identidade do DJ. A mídia utilizada influencia ou não na profissão? Será se quem usa um computador com software tem o mesmo direito de ser designado DJ tal como um profissional que toca com discos de vinil? O computador deve ou não ser adotado pelas boates?

Fui adepto do computador durante três anos e sempre achei que a mídia não é determinante. Pra mim, o crucial é o feeling, palavrinha mágica que resume o bom DJ.  Tudo o que precisamos ter é um feeling apurado; ele é nosso sensor. Quando o adquirimos ao longo da profissão, passamos a nos designar DJ e ter a livre consciência para desempenhar nosso trabalho, independente de nosso instrumento.

Porém, quando eu aderi às CDJs, confesso que acessei um outro universo. Durante alguns anos toquei em computadores, mas nunca, durante este período, pude alcançar nem parte do prazer que obtive nas CDJs. É algo surpreendente. Você se sente mais integrado ao processo e manipula com maior precisão as tracks.

Acho que a disputa entre DJs de PC e DJs de toca-disco sempre vai existir, cada um defendendo seu lado. Quem usa mídia digital relata sobre a praticidade (indiscutível) de armazenamento das músicas. Quem usa CDJs ou turntables alega o prazer em tocar o equipamento, colocar a mão na massa.

Fato é que devemos pensar, acima de tudo, na satisfação do cliente. Independente do que será usado, devemos proporcionar um som de qualidade, envolvente, delirante.

Link YouTube | Pascal Kleiman, o DJ que toca com os pés

Como ingressar na carreira de DJ?

O primeiro passo consiste em se questionar: quero mesmo ser um DJ? Amo música e estou disposto a buscar continuamente novos sons?

Após responder “Sim” convincentemente às duas perguntas acima, deve-se analisar as possíveis atuações. Existem DJs produtores (muito deles donos de estúdios e gravadoras), DJs de festas particulares (aniversários, matrimônios, formaturas etc), DJs de baladas e festas abertas ao público (pubs, boates, clubs, pvts, raves, bailes), DJs empresários (com empresa de estruturas audiovisuais para eventos) e DJs de rádios, para citar só as mais comuns.

Outro ponto importantíssimo é definir o nome profissional. Sugiro que use um nome bem particular, que pode ser o verdadeiro, claro. Explore sua criatividade. Defina com cautela seu nome profissional para evitar encontrar futuramente outro DJ com o mesmo pseudônimo seu.

Após definido o nome, sugiro criar um email para realizar seus contatos profissionais. Na medida do possível, faça cartão de visita, garanta seu domínio na internet (mesmo que inicialmente não coloque nenhum site no ar), entre no Twitter e outras redes que lhe interessar. Só para ilustrar o poder da Internet: tenho mais de 70 mil downloads em apenas um site de compartilhamento.

No decorrer da profissão o DJ deve mapear seu repertório, se possível focando em um estilo. Quanto mais habilidade tiver em um determinado estilo, mais poder criativo e de atuação terá.

Não se esqueça de estabelecer um valor comercial compatível ao seu serviço. Não deixe o mercado ainda mais prostituído, cobrando preços miseráveis para obter contratos. Já ouviu falar dos “DJs de Cinquentinha”? São aqueles que cobram valores irrisórios para tocar. Valorize-se.

Link YouTube | História de Pascal Kleiman

Quais equipamentos e softwares usar?

Após elaborar as partes formais (nome, área de atuação, público alvo, estimativa de valores etc), é hora de colocar a mão na massa, digo, no vinil. Sugiro começar a tocar em festas pequenas, se possível para amigos, visando adquirir um pouco de experiência (chamo isso de estágio). Aos poucos o profissional vai adquirindo confiança e passa a fechar eventos maiores, confirmando seu crescimento.

Quanto aos equipamentos, deve-se definir entre mídia digital (usando computadores, controladores), CD (usando CDJ ou dual players) ou disco de vinil (usando turntables). Além destes, ainda há alternativas mescladas, como o sistema timecode (também chamado de “interface”), constituído por turntables conectadas a um computador através de uma placa de som que permite manipular nas turntables as músicas lançadas pelo computador.

O passo mais conservador seria usar seu próprio computador e coleção musical. Como mencionei, existem excelentes softwares no mercado (a maioria com versão trial). Abaixo, segue uma lista indicativa de bons softwares, separados por finalidade:


  • Reprodução (usado para rolar um set de música ambiente): Winamp, Foobar, The KMPlayer.

  • Mixagem (utilizado para mixar tracks, adicionar loops – “djing”): Virtual DJ, Atomix MP3, Traktor DJ, Kramixer.

  • Produção e edição: Sony Acid Pro, Expstudio Audio Editor, Sound Forge, Wavosour, Adobe Audition, Acid Xpress, Fruity Loops.

  • Sampler (usado para fazer montagens de sampler ao vivo, simulando aparelhos como Akai MPC5000, M-Audio Trigger Finger): BPM Studio.

Caso opte por CDJs, sugiro analisar com calma os recursos oferecidos. A diferença de preço está cada vez menor entre equipamentos de ponta e equipamentos básicos. Quanto à marca, definitivamente a Pioneer comanda o mercado nacional, mas tem sido “incomodada” pela Denon. Se aderir aos toca-discos, a Technics lidera, mas há outras marcas em ação, como Stanton, Gemini, Numark e Vestax.

Além do player, é necessário (no caso do uso de CDJs e turntables) ter um aparelho para fazer a conexão entre os equipamentos. Denominado mixer, será o grande responsável por fazer a ponte entre os players e permitir a mixagem. Como no caso das CDJs, existe uma quantidade razoável de marcas no mercado. Um fator importante é o número de canais do mixer escolhido, uma vez que este limita o número de equipamentos conectados.

Contudo, a ferramenta de trabalho primordial e indispensável para todos DJs não é o player nem o mixer, mas sim o fone (headphone). Não use qualquer fone. Escolha um para proporcionar um bom áudio e que seja confortável. O fone é tão importante que é primeiro ponto que reparo num DJ; considero seu cartão de visita.

"Oi, qual seu headphone? Sou aspirante a DJ..."

Um bom fone deve proporcionar no mínimo 105db, respondendo entre 5Hz-25Khz. Mas saiba que não existe “o melhor fone”. O melhor fone é justamente aquele com o qual o DJ mais se adapta, que proporciona a melhor relação performance x conforto.

Há fones que propagam melhor as frequências baixas, outros que representam com exatidão frequências altas, fones sensíveis, fones robustos, fones para todos os gostos! O importante é analisar com calma as características de cada modelo, se possível fazendo testando-os para então definir o seu companheiro de labuta. Destacam-se as marcas Sony, Pioneer, Technics, Ultrasone, Sennheiser, AKG, Denon, German.

Existe segredo para obter a fama?

Apesar do potencial técnico, confesso que os DJs dependem de contatos ou intermediadores para adentrarem grandes casas. Infelizmente é um mercado fechado, restrito, concentrado na mão de poucos. Quebrar esta barreira requer tempo, inteligência e reconhecimento.

O maior segredo consiste no amor à profissão. Quando amamos, não desistimos nunca, lutamos até o fim por nossos ideais. Quem quiser crescer na profissão precisa se dedicar muito, estudar os estilos, manter-se atualizado, inovar e principalmente dar seu máximo para promover ao público uma vibe perfeita. Se você amar sua profissão de DJ, a maior gratificação que poderás receber será o sincero reconhecimento do público pelo seu trabalho.


publicado em 24 de Julho de 2010, 21:26
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Felipe Oliver

DJ especializado em Electro, atua também como publicitário. Amante da e-music, do marketing e das baladas.


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