Qual filmaço merecia uma sequência?

Entre reuniões de pauta e campeonatos de peidos, a equipe do PapodeHomem gosta de sentar aqui no QG e conversar sobre filmes e músicas, gibis e games, essas besteiradas todas. A partir de agora, por pura preguiça de escrevermos textos inéditos todos os dias, vamos compartilhar com vocês nossas punhetas mentais favoritas.

Por exemplo, o último arranca-rabo que rolou por aqui foi o seguinte:

"qual foi o filmaço que merecia uma sequencia e nunca teve?"

Naturalmente, depois de spoiler pra cá e spoiler pra lá, a conclusão acabou sempre a mesma: melhor assim. Mais vale um filme fodaço com gostinho de quero mais do que um filme excelente dando origem a uma série medíocre.

Afinal, Matrix está aí que não nos deixa mentir!

Caçadores de emoção (Pointbreak, 1991) – Alex Castro

Muita gente diz que sou um homem mulherzinha – e talvez eu seja mesmo, pois o meu ideal de filme masculino-testosterona foi dirigido por uma mulher, Kathryn Bigelow, que acabou de ganhar o Oscar de Melhor Filme com Guerra ao terror. Além disso, Caçadores de emoção também tem a gatíssima Lori Petty (futura Tank Girl) em sua melhor fase e até o acabadaço Gary Busey dá um show – interpretando um igualmente acabadaço policial.

Cresci na praia da Barra da Tijuca. No verão, passava oito horas por dia dentro d'água. Todos meus amigos (inclusive eu) faziam surfe, bodyboard, canoagem, caiaque. Então, talvez eu goste tanto do filme pois o habitat natural do personagem de Patrick Swayze, onde Keanu Reeves vai se infiltrar, é justamente o meu ambiente, o meu mundo, o lugar onde me sinto mais à vontade. Conheço tudo ali – até mesmo os surfistas do mal, que defendem sua praia na porrada contra as "invasões" dos "haoles".

Com certeza, a melhor coisa do filme é a relação entre a dupla de protagonistas Keanu e Swayze. Dotada de enorme sensibilidade (um diretor homem teria feito o mesmo?), Kathryn Bigelow faz questão que nos importemos tanto com o ladrão de bancos Swayze quanto com o agente do FBI Keanu. São dois homens retos, sérios, honrados, disputando a mesma mulher e presos em um combate mortal. Apesar de sequências de ação absurdamente sensacionais (abaixo, veja Keanu pulando de um avião sem paraquedas para perseguir Swayze), é um filme que também reflete filosoficamente sobre as razões que nos impelem a arriscar a vida, a escalar montanhas, a perseguir a onda perfeita. O toque feminino de Bigelow acrescenta profundidade à trama, sem jamais ofuscar as sequências de ação mirabolantes.

Link YouTube | Escolhida pela revista Empire como uma das dez cenas de ação mais ensandecidas de todos os tempos.

No final (spoiler alert), o personagem de Patrick Swayze consegue escapar do FBI e Keanu Reeves vai encontrá-lo, meses depois, em uma praia da Austrália, onde está se preparando para surfar a maior onda de todos os tempos, que provavelmente o matará. Em deferência à honra de seu antagonista, ao invés de prendê-lo, Keanu deixa que Swayze vá atrás de sua onda fatal, enquanto ele mesmo joga seu distintivo do FBI no mar e desiste dessa vida bunda de prender pessoas.

Um final tão aberto e, ao mesmo tempo, tão fechado, mereceria uma sequência perfeita. Talvez com Swayze, tendo sobrevivido ao desafio, e Keanu, depois de desistir do FBI, ambos recomeçando suas vidas do zero em algum lugar, perto das ondas que tanto amam, e se reencontram, talvez no meio de uma crise (vulcão em erupção no Pacífico?), e eles ainda se respeitam e se odeiam, e tudo isso viria à tona enquanto buscam por maneiras de sobreviver... Hmmm. Não sei. E onde estaria a mocinha, Lori Petty? Com um deles? Ou com nenhum? Bem difícil bolar uma continuação para uma história perfeitamente fechada.

Enfim, se vocês me perguntarem: "deve haver uma sequência para Caçadores de emoção?", eu responderia não, porque com certeza não estaria à altura das situações e personagens, diálogos e filosofias do filme original. Mas se vocês me perguntam qual é o filmaço que merece sequência mas nunca teve, a resposta sem dúvida é Caçadores de emoção.

Snatch – Porcos e diamantes (Snatch, 2000) – Jader Pires

O filme que deveria ter continuação e nunca teve é Snatch – Porcos e diamantes, do diretor inglês Guy Ritchie. Dos filmes dele, esse é o mais redondo. Foi com esse filme, querendo ou não, que ele conseguiu renovar os filmes de gangues e de submundo, e lhes deu uma cara própria que tem sido copiada desde então.

Sou bem contra sequências completamente despropositadas, mas pensei em algo como uma busca pela Europa atrás do cigano Mickey (Brad Pitt). O sucessor do mafioso Brick Top, querendo mostrar que é um chefão ainda mais foda (para justamente manter todos sob suas asas), resolve que tem como missão máxima capturar toda a trupe de ciganos, incluindo o malfadado Mickey. Para isso, ele força os ainda colegasTurkish e Tommy (endividados novamente) a liderar a "tropa".

Link YouTube | Uma seleção das tiradas mais foderosas do filme: "nas palavras da Virgem Maria..."

Daí, meu amigo, rola aquela putaria toda de tiroteios, perseguições e tretas frenéticas até que, no ápice, eles encontram o novo acampamento dos ciganos e, segundos antes de invadirem e foderem a porra toda, são atacados de surpresa pelos amigos do Frankie "Four Fingers", que também tinham sede de vingança e estavam de tocaia o tempo todo. No final das contas, o novo chefe e seus capangas morrem, sobrando apenas os dois amigos, Turkish e Tommy, que são convidados pelos ciganos para uma aposta de perseguição de cães contra a lebre, valendo um trailer para o grandioso Mickey. Diversão melhor, impossível.

Quase famosos (Almost famous, 2000) – Flaco Marques

A grande maioria dos adolescentes tem dois grandes sonhos (não vou nem falar dos sonhos eróticos!): ser (a) um grande esportista ou (b) um astro da música. Coloco música aqui no sentido amplo, mas todos sabemos que, na adolescência, música é sinônimo de rock.

Naquele ano de 2000 eu já andava desiludido de ser um baterista fodido. Começava a cair minha ficha: tinha que tomar vergonha na cara e cuidar da minha vida. Ainda demoraria alguns anos para eu me tocar, mas o fim do colegial parece sempre ser um divisor de águas na vida de alguém.

Um amigo meu, também baterista e hoje roterista, chamou uma turma para ver em DVD o filme Quase famosos. Não sei por que fomos assistir só em DVD. Talvez no cinema de Rio Claro não tenha passado. Talvez não, quase certeza. O importante é que lá estávamos: pipoca e refri a postos.

O filme conta a história de um cara que tinha um fanzine na década de 1970. Fanzine, para quem não sabe, equivale ao blog de hoje em dia. O dono do fanzine, William Miller, não passava dos 15 anos e tinha um sonho: escrever para a revista Rolling Stone. A trama se desenvolve a partir do relacionamento do adolescente com a banda StillWater.

Entre muitos sons incríveis e grandes tomadas, aparece a figura de Penny Lane, interpretada por Kate Hudson. Nela, o protagonista encontra amizade, paixão e senso de liberdade – em forte contraste com o conservadorismo de sua mãe, Elaine. Após muitas loucuras, o adolescente acaba mergulhando profundamente no conflito entre os músicos e escreve um artigo cortante sobre a rotina da banda.

Link YouTube | Você já está em casa, seu tolinho.

O filme consegue captar toda a magia dos anos 70, mas deixa uma possibilidade real de continuação. Por quê? Porque se o protagonista não tem nem 15 anos, ele pode ter presenciado muitos outros momentos cruciais na história do rock.

O enredo poderia ser mais ou menos esse: William Miller, já com 25 anos, busca recuperar sua carreira. Assim, após a morte de sua mãe, resolve reviver momentos de sua adolescência. Retomando a amizade com o guitarrista Russell Hammond do Stillwater, embarcam na turnê de uma banda poser dos anos 80.

Essa turnê poderia levar os dois através de outros estilos que não o metal farofa: o punk britânico ou a new wave, por exemplo.

Não sei se essa continuação mexeria com os bateristas frustrados de hoje em dia. Mas seria um carinho na memória dos antigos.

Goonies (1985) – Guilherme Valadares

Assim como um mesmo golpe não surte efeito duas vezes em um Cavaleiro do Zodíaco, o meu sistema cognitivo se recusa a assistir um mesmo filme mais de uma vez. Não tem emoção, meu cérebro fica anestesiado diante do prospecto enfadonho de saber o que vai acontecer. Exceto por tramas de sensibilidade única, como Stallone Cobra, essa regra é inviolável.

Porém, há muito tempo, quando eu ainda não padecia dessa trava cinematográfica, lançaram um certo filme chamado Goonies. Eu tinha mais ou menos a mesma idade dos moleques do filme.

Putaqueopariu. Aquela foi a aventura suprema de uma geração. Me imaginava usando as geringonças do japa, lutando contra o Sloth e pegando a peitudinha gostosa do grupo. Assisti essa obra prima umas quinze a vinte vezes, quase que na esperança de descobrir minutos escondidos ou novas cenas. Infelizmente, nem tudo acontece como sonhamos. E Goonies nunca se estendeu.

Link YouTube | O gordinho confessa tudo. Tudo mesmo.

Uma sequência teria os filhos dos protagonistas em uma clássica aventura com a fórmula mágica do Spielberg em seus anos dourados. Como num bolo de chocolate e cenoura bem saboroso - você não precisa mexer nada nele, só fazer mais e servir pra criançada. Ou melhor, pros atuais marmanjos barbudos que eram fãs do original.

Superconfidencial (Top Secret!, 1984) – Daniel Bender

Um filme que desde sempre mereceu uma continuação é Superconfidencial. Para quem não se lembra, é aquele clássico non-sense da Sessão da Tarde em que um rockstar norte-americano visita uma versão da Alemanha Oriental pré-Segunda Guerra Mundial governada por nazistas comunistas.

Mais do que um filme de non-sense, trata-se de um roteiro recheado de piadas excelentes e bons atores, como Val Kilmer no início da carreira e Peter Cushing.

Um dos segredos para a longevidade de Superconfidencial é a qualidade das referências. O final, por exemplo, emula dois filmaços: Casablanca e O mágico de Oz. Nele, o roqueiro Nick Rivers (Val Kilmer) tenta levar a mocinha Hillary (Lucy Gutteridge) junto em seu avião, ela reluta e, no final, acaba aceitando. Ao se despedir dos colegas da resistência francesa, mais uma gag. O último colega é um espantalho.

Link YouTube | Algumas das melhores cenas, com legendas em português.

Na minha opinião, uma continuação poderia novamente colocar a vida de Nick e Hillary em rota de colisão com o vilão Nigel , vinte anos depois. Ele agora não é mais nazista e tem um negócio de importação e exportação de vacas de jardim. O produto se tornou uma moda nos Estados Unidos e toda a mídia o trata como um empreendedor de sucesso.

Nick Rivers é um solitário presidente dos Estados Unidos, e Hillary trabalha com ações na bolsa enquanto sonha com os bons momentos passados na Alemanha Oriental. Subitamente, ela é raptada por mexicanos que querem forçar os Estados Unidos a entregarem todos seus nachos para uma senhora em Tijuana.

O que Nick não sabe é que o sequestro foi apenas uma distração criada por Nigel para seu verdadeiro plano: explodir bombas de guacamole dentro das vacas de jardim e com isso transformar os norte-americanos em latinos enquanto Fidel Castro prepara uma invasão dos EUA usando uma exportação de porcos como desculpa.

E, claro, tudo isso acaba envolvendo uma galera do barulho nas mais altas confusões.

E você?

Qual é seu filmaço preferido que merecia uma sequência?

Aliás, que outras perguntas sobre cultura pop vocês gostariam de ver abordadas nessa série?


publicado em 09 de Agosto de 2011, 05:08
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Alex Castro

alex castro é. por enquanto. em breve, nem isso. // esse é um texto de ficção. // veja minha vídeo-biografia, me siga no facebook, assine minha newsletter.


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