Som ambiente: entre a loucura e a criatividade

Se o seu trabalho tem um mínimo de necessidade de concentração e criatividade, grandes são as chances de que você já tenha se deparado com um incômodo relativo a dois extremos em termos de ambientação sonora: barulho e silêncio.

Ambientes de trabalho cheios de gente são um ótimo palco para pequenos conflitos de preferência sonora. Se você é obrigado a compartilhar uma sala, grandes são as chances de que uns prefiram silêncio e outros gostem de um barulhinho ou alguma música de fundo, para estimular. Fones de ouvido imperam nessas situações.

Afinal de contas, o que é melhor? O ruído ou o silêncio?

Barulhinho
Barulhinho

Câmara sem eco e a loucura pelo silêncio

Muita gente diz que prefere trabalhar de madrugada por conseguir se focar melhor. Alguns dos fatores atribuídos a isso costumam ser a diminuição das interrupções, o aumento da energia no corpo – o ciclo circadiano exerce um bom papel aqui – e o silêncio.

Como seria um espaço de absoluto silêncio? Como seria nossa reação?

Salas sem som algum são chamadas de câmaras anecoicas.

Uma câmara anecoica (an-echoic, sem eco) é uma sala projetada para conter reflexões, tanto de ondas sonoras quanto eletromagnéticas. Elas também são isoladas de fontes externas de ruído. A combinação de ambos os aspectos significa que elas simulam um espaço aberto de dimensão infinita, que é uma característica útil quando influências externas podem interferir nos resultados.

Em Minnesota (EUA) tem uma câmara anecoica conhecida como a sala mais silenciosa do mundo. A sala é construída com tratamento acústico de fibra de vidro de quase 1 metro e parede dupla feita de concreto, de 30 cm cada camada. A sala é tão revestida que consegue absorver 99,99% do som externo. Costuma ser usada para testar o som emitido por certos produtos sem intervenção externa.

O mais curioso é que a sala não costuma ser usada para testes em humanos, pois o silêncio pode simplesmente deixar alguém maluco ali dentro.

O nível máximo de exposição que alguém pode ser submetido ao silêncio da sala é de 45 minutos. Acontece que o corpo se adapta ao silêncio. Quanto mais tempo você permanece em um ambiente silencioso, mais sutis se tornam as percepções de ruído. Depois de algum tempo, você se torna capaz de ouvir seu próprio batimento cardíaco, os movimentos do seu estômago, o inflar e desinflar do seu pulmão. A coisa vai se intensificando até o nível no qual você enlouquece.

Cena de filme de terror.

Link Youtube

O ruído é sempre ruim para a concentração?

A resposta é: depende.

Muita gente reclama do barulho e da dificuldade de concentração que pode surgir pelo excesso de estímulos auditivos vindo de forma involuntária. Isso é o ruído: o som que você não quer ouvir.

Um ambiente extremamente ruidoso prejudica nossa capacidade de concentração e nos leva a um estado de dispersão mais acentuado, que dificulta a criatividade e outros aspectos da cognição.

Ruído em níveis elevados aumentam os níveis de processamento no cérebro, que podem levar à distração e dispersão. No entanto, isso pode ser afinado para chegar a um nível ideal de estímulo que faz com que a criatividade aumente.

É o que diz o artigo de Ravi Mehta, Rui Juliet Zhu, e Amar Cheema, chamado "Is Noise Always Bad? Exploring the Effects of Ambient Noise on Creative Cognition" (ou "O ruído é sempre ruim? Explorando os efeitos do ruído ambiente na cognição criativa", em tradução livre).

Coffitivity, som ambiente para turbinar a criatividade

Com base nisso, quatro amigos, Justin KauszlerNicole HortonACe Callwood e Tommy Nicholas se reuniram para criar um singelo aplicativo para simular aquele aconchegante som ambiente possa estimular a criatividade. É o Coffitivity.

O aplicativo é bem simples e contém gravações de ambientes como cafés e universidades em diferentes horários. Além disso, você pode enviar seus próprios áudios e é incentivado a compartilhar o que você está fazendo enquanto tem sua mente turbinada pelo sonzinho do app.

Eu, particularmente, me atrapalho bastante com pessoas conversando ao redor, sempre me pego prestando atenção no que está sendo dito.

Gosto de trabalhar em silêncio ou ouvindo música.

Minha preferência em geral é rock 'n roll. Rolling Stones e Black Sabbath me deixam bastante empenhado. Mas, para escrever, esse tipo de música me faz passar do ponto de agitação. Com AC/DC então, mal consigo ficar sentado na cadeira. O ideal para fazer as ideias fluírem, em geral, vem com algum tipo de música orquestrada, seja trilha sonora de filmes, de games ou mesmo alguma obra clássica.

E vocês, como turbinam a produção do dia? Qual o som que toca por aí?


publicado em 09 de Setembro de 2013, 05:23
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Luciano Ribeiro

Cantor, guitarrista, compositor e editor do PapodeHomem nas horas vagas. Você pode assistir no Youtube, ouvir no Spotify e ler no Luri.me. Quer ser seu amigo no Instagram.


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