Um pote de creme nunca mais será o mesmo

Oi.

O que eu estou prestes a contar pode ser aterrorizante, e pode fazer você vomitar. Essa história só pode ser lida por maiores de 34 anos acompanhado dos avós. Na verdade, é melhor deixar seus avós fora disso. Acho melhor inclusive você nem ler. É sério.

(...)

Então. Você não vai desistir mesmo? Ok. Como dizemos aqui em Minas, “cê qui sabe”.

Vai vendo

Eu era apenas mais um adolescente idiota quando ouvi essa história. No colégio, tínhamos um amigo chamado Carlos, vulgo Carlin, que tinha um certo fascínio acerca daquilo que a maioria dos adolescentes é fascinado: sexo. Carlin era um cara criativo e nos fazia chorar de rir das suas histórias de novas formas de se conseguir “prazer” a qualquer custo. A história da mexerica era bem famosa, mas nada se comparava ao “Pote de Creme”.

Carlos chegou um dia no recreio e disse “Fiz uma promessa!”, já abrimos um sorriso esperando a próxima loucura do nosso amigo que por mais amigo que fosse ninguém no colégio apertava a mão dele (qualquer mão) e muito menos pedia algum pedaço de algum lanche. Carlin então soltou o seguinte “Ontem eu estava sem ideias, sem objetivos... o pote de creme que eu roubei da minha irmã tinha acabado, se é que vocês me entendem. Então decidi fazer uma promessa. Se eu não perder a virgindade até encher o pote de creme de porra eu viro padre.” No início não levamos a sério, obviamente, mas a coisa foi ficando séria. Ele estava se esforçando de verdade. Pelos cálculos dele, ele demoraria cerca de 9 meses para concluir a tarefa. O que era até poético, convenhamos.

Para concluir o “projeto”, Carlos teria que fazer apenas aquilo que fazia de melhor – palavras dele. Porém, os meses foram se passando e percebíamos que ele estava perdendo, digamos, a força. Emagreceu, estava sempre com olheiras, e ficava com aquele olhar fixo nas aulas que começou a dar medo nas pessoas. Lá pelo quarto mês, contrariando toda lógica, ele arrumou uma namorada. A coisa foi ficando cada vez mais interessante. Carlin prometeu que a promessa continuava como sempre, e que ele iria manter. Nós já fazíamos apostas. Quando tudo terminou de forma trágica, estávamos em quinze para um. Valendo quase trezentos reais. Uma pessoa apostou não só que ele não conseguiria perder a virgindade, como também que tudo iria acabar muito errado.

Foi por volta do fim do ano quando Carlin chegou assustado e revelou que o pote já estava quase cheio, e que talvez tivesse que pagar a promessa. Revolta geral. Eu, que era muito amigo da namorada dele e inclusive eu apresentei os dois, liguei para ela e disse “Renata, não tem outra forma deu falar isso... mas você tem que dar pro Carlin”. Eu tinha apostado um dinheiro que eu não tinha, você tem que entender, a esse ponto, eu estava cagando para o que aconteceria, eu só queria o dinheiro de volta. Renata soltou um sonoro “Quê?!” do outro lado da linha. Mas antes que ela pudesse desligar eu disse que ele tinha feito uma promessa de virar padre se não perdesse a virgindade até dia 27 de Novembro. “Olha que romântico Renata, você vai ser sempre a mulher que salvou a vida dele, se isso não é romântico eu não sei mais o que é”. Ela desligou. Fiquei desesperado. Já era dia 25. Sim, de novembro.

O que eu não sabia, era que não era só eu que estava desesperado. Até hoje ninguém sabe ao certo, uns dizem que a irmã do Carlos achou o Pote de Creme no quarto dele, outros dizem que alguém foi até lá, pegou o Pote e deixou no quarto da irmã. Até hoje ninguém imagina o que fez o Pai e a Mãe dele usarem o creme. Mas o que todo mundo conta é que Carlin chegou em casa e naquele sábado dia 27 de novembro depois do treino de futebol pela manhã encontrou a Mãe e o Pai sentados no sofá enquanto a irmã dele passava o famoso Creme no rosto dos dois, dizem que foi com massagem e tudo.

Oi

O pior, ainda contam, é que quando viu Carlos, a irmã passou o dedo no pote, experimentou e disse “Cá, achei meu creme, aqui diz que além de fazer bem para qualquer tipo de pele é comestível. Tem um gosto estranho, mamãe adorou. Quer passar um pouquinho?”

A história diverge um pouco se foi nessa hora que ele desmaiou ou se foi quando o Pai dele disse “Me dá mais um pouquinho”, abrindo a boca e colocando a língua para fora. Sabemos com toda certeza que ele desmaiou. De qualquer forma, ninguém no colégio nem na cidade de João Monlevade nunca mais viu aquela família ou qualquer membro dela. Dizem que mudaram para Vitória no Espírito Santo e que Carlin de fato acabou virando padre. Outras pessoas dizem que todos eles se mataram e que a casa que eles moravam agora é amaldiçoada.

O que ninguém nunca vai saber é se Carlos contou ou não a verdade sobre o creme. Uma lição foi aprendida pela juventude monlevadense: nunca guarde porra num pote de creme se você tiver uma irmã.


publicado em 16 de Agosto de 2012, 07:45
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Pedro Turambar

Pedro tinha 25 anos e já foi publicitário. Ganha a vida fazendo layouts, sonha em poder continuar escrevendo e, quem sabe, ganhar algum dinheiro com isso. Fundou o blog O Crepúsculo e tem que aguentar as piadinhas até hoje. No Twitter, atende por @pedroturambar.


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