Viagem de casal não precisa ser algo chato e puramente romântico

Das coisas boas da vida, viajar é uma das minhas favoritas. Viagem de casal então pode ser melhor ainda: por que não ter companhia de uma pessoa querida durante uma grande aventura? E não pense que uma viagem em casal precisa ser necessariamente para aquele punhado de lugares que noivos costumam passar a lua de mel.

Conhecer o Himalaia, Machu Picchu, desertos... fazer uma longa viagem de trem, conhecer o sudeste asiático, a África ou as ilhas da Indonésia: todas essas viagens podem muito bem ser enquadradas como de casais.

Indochina
Indochina

Mesmo o mochilão mais roots pode atrair casais, desde que ambos tenham o espírito correto para tal. Já viajei pelo Brasil em um busão que tinha pelo menos umas 50 pessoas. Digo, umas 50 pessoas em pé, além de todos os passageiros sentados. E minha namorada estava lá, tão assustada quanto eu, mas feliz por estar na estrada. Nessa mesma ocasião tivemos que nos hospedar na casa de uma moradora, numa vila de Itacaré: nosso dinheiro não dava para pagar nem o hostel mais barato da cidade.

Juntos, acampamos, subimos montanhas, esquiamos, andamos no lombo de elefantes, camelos, avestruzes e até -- acredite se quiser -- de cavalos. Dormimos ao relento, pertinho da fronteira do Paquistão. Moramos na Índia, fizemos uma volta ao mundo e vivemos coisas que não são exatamente românticas. Tipo a viagem com as baratas.

A viagem com as baratas

Estávamos num ônibus que caía aos pedaços, na Índia. Nas paredes: baratas. Várias. E uma delas -- mentira, vamos corrigir isso -- e várias delas começaram a subir pelo ombro da minha namorada. Dei um tapinha de lado, para tirar os bichos.

-- "O que foi?", perguntou ela.

-- "Nada", respondi.

Eu até diria que rolou um orgulho imenso dela, que foi ótimo ver que minha namorada não deu um escândalo durante o ataque das baratas, mas isso seria meio ridículo: se não tenho medo dos insetos, eu mesmo também não gosto de estar cercado por eles. Tenho orgulho de nós dois. Ou melhor: de nós três, afinal fizemos aquela viagem no modo casal + amiga segurando vela. Com tudo isso, aprendi algumas coisas na arte de viajar em casal. Tipo que...

Viajar em casal pode ser a melhor coisa do mundo

Emerald Lake, Califórnia
Emerald Lake, Califórnia

Afinal, não é sem motivo que vocês são um casal: os dois gostam de passar tempo juntos e têm pontos em comum. Isso significa uma facilidade maior na hora de planejar a viagem, decidir o que vão fazer e como vão gastar os dias mais preciosos do ano -- o das férias.

Aproveite essa época como se fosse única, afinal, não deixa de ser: única no ano, pelo menos se a viagem for de férias e você for um assalariado, como a maioria de nós.

É essencial que o planejamento de viagem inclua programas que agradem os dois. Quer visitar museus e ele(a) não? Quer surfar, ou pular de bungee jump e ele(a) não? Lembre-se que a viagem não é de apenas um, mas de todos os envolvidos. Então nada de deixar todo o planejamento na mão da parceira(o).

Uma das melhores coisas de planejar uma viagem é poder sair da rotina e sonhar com a estrada antes mesmo de cair nela. Não perca essa chance. Você pode se arrepender depois, quando uma coisa que você fazia muita questão ficar de fora do roteiro.

Viajar em casal pode gerar brigas

"Já disse que eu não gosto de museu"
"Já disse que eu não gosto de museu"

O nosso estilo de vida não colabora. Passamos a maior parte do dia no trabalho e horas preciosas são desperdiçadas no trânsito. Isso significa que a maioria de nós fica a maior parte do tempo com colegas de trabalho, chefes e companheiros de engarrafamento. Por isso, um período de viagem em casal traz um benefício e um desafio: ficar várias horas do dia, durante semanas, com a namorada(o).

Isso é ótimo, mas tem uma cilada aí, Bino. Mesmo o mais sólido dos relacionamentos pode dar uma estremecida quando o casal convive 24 horas por dia, 7 dias por semana. Vocês simplesmente não estão acostumados a conviver durante tanto tempo assim. Fora que cada membro do casal é uma pessoa -- mesmo naqueles casais que compartilham tudo, até foto de perfil no Facebook e escova de dentes.

É preciso separar um tempo para você, principalmente naquelas viagens mais longas. O que nos leva ao próximo tópico.

Vocês não nasceram grudados

"Vamos lá, amor! Você não pode perder essa, pô!"
"Vamos lá, amor! Você não pode perder essa, pô!"

Regra básica para viajar com outras pessoas: tente conciliar os interesses. Não deu? Cada um para um lado, afinal ninguém nasceu grudado.

A regra também vale para casais, embora com ressalvas. O objetivo básico de uma viagem em casal é que ambos passem tempo juntos, portanto é sempre melhor conciliar. Esgotadas todas as chances de acordo, desgrudem, pelo menos em casos isolados.

Exemplo: ela(e) quer mergulhar com tubarões e você não. Negociem até onde der, mas tenha em mente que não tem o menor sentido ir arrastado para um programa desse tipo e esquecer suas vontades (e medos). E cabe também respeitar o direito do outro e até apoiá-lo na busca dos sonhos.

Respeite os seus limites (e os dela)

Essa regra vale para qualquer tipo de viagem, mas pode muito bem ser aplicada para o período de férias a dois. Viajar não é correr uma maratona. A ideia é que você relaxe, descanse e conheça novas culturas. Evite cair na cilada de colocar um caminhão de coisas no roteiro e não deixar tempo nenhum para uma boa noite de sono, para tomar aquela cerveja num bar local ou fazer alguma coisa que você goste muito.

Se respeitar os próprios limites é questão fundamental em qualquer viagem, a regra ganha ainda mais importância e desafios numa viagem a dois. Nesse caso não é preciso respeitar apenas os seus próprios limites, mas também os do outro. Tudo bem que você consegue caminhar o dia inteiro, mas será que ela(e) dá conta também? Seguir isso evita muitas reclamações depois.

Se preparem para o choque cultural

Pieter Hugo fotografou os domesticadores de hiena na Nigéria
Pieter Hugo fotografou os domesticadores de hiena na Nigéria

Ele é tão lendário quanto Atlântida e absolutamente poderoso. Pode criar antipatia com o país que você visita e estragar parte da viagem. O tal do choque cultural é um dos maiores desafios de uma viagem, principalmente se o destino é algum país do oriente. Lidar com ele envolve muita leitura antes de embarcar, cabeça aberta e reflexão.

O choque cultural me fez quebrar preconceitos que eu nem sabia que tinha. Terminada a viagem, o saldo é positivo, claro. Mas e quando tem um relacionamento no meio do caminho? Enfrentei isso durante os oito meses que passei na Ásia. Você se estressa com alguma coisa típica do país (barulho, sujeira, padrão de espaço pessoal, etc), mas vai brigar com quem? Com as pessoas locais, ou com quem você convive o dia inteiro e fala o mesmo idioma que você?

Acredite: em viagens mais longas (e para países um pouquinho diferentes) o choque cultural poder ser um tremendo vilão. Esteja preparado para enfrentá-lo e entenda que ele pode te afetar de uma forma e sua namorada de outra. No meu caso, o uso que os motoristas fazem da buzina, na Índia, simplesmente me tirava do sério, mas pouco afetavam minha namorada. Ela tinha que aguentar meu nervosismo toda vez que eu colocava os pés fora de casa.

Aproveitem muito

Itália
Itália

Apontei desafios, mas definitivamente viajar em casal é uma experiência fantástica. Volto ao começo do texto: aproveite a ocasião, faça coisas diferentes e conheça novas culturas. Te garanto que se o inseto das viagens te picar você dificilmente vai querer sair da estrada. Aconteceu comigo.

Mecenas: Blowtex

Cada momento em um relacionamento é importante. Do início ao fim, nós sempre elegemos as melhores trilhas para estas ocasiões. E as viagens também merecem esse carinho.

Blowtex
A Blowtex está sorteando 8 viagens com acompanhante para qualquer lugar do Brasil com a promoção "Escolha seu destino com Blowtex". É só responder "qual camisinha te leva para onde você escolher"? Vejam os detalhes no site da Blowtex para participar e ter o melhor dia dos namorados em qualquer ponto do Brasil.


publicado em 24 de Junho de 2013, 08:06
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Rafael Sette Câmara

Virou mochileiro ao mesmo tempo em que se tornou jornalista. Desde então, se acostumou a largar tudo para trás - inclusive empregos - e cair na estrada. Ele escreve sobre viagens no 360meridianos, mas pode ser encontrado também no Facebook e no Instagram.


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