Você sabe o que é uma "cantora tofu"?

Para mim só existem dois tipos de comida: a gostosa e a ruim. Picanha é gostosa. Jiló é ruim. Não importa qual é mais nutritiva. Se a comida não dá prazer não é “comida”. É “alimento”.

Mas tem comidas que ficam no meio termo. É o caso do tofu. Os chineses já inventaram um monte de coisa legal (seda e papel, preciso dizer mais?), mas tofu não é uma delas. É um tipo de queijo sem graça feito de soja, sem sabor ou cheiro. Não é ruim, mas não é gostoso. É nutritivo, mas não dá prazer de comer.

É aquela coisa, né. Tofu não dá liga, não junta a galera

Tem cantora brasileira que é como tofu: não tem sabor nem cheiro. Elis Regina é Picanha. Tati Quebra Barraco é Jiló. E gente como Marisa Monte, para mim, sinceramente, é tofu. Não é ruim, dá para engolir. Mas não tem graça.

Marisa Monte não está sozinha. As Cantoras Tofu são a maioria. Tem Maria Gadu. Tem Adriana Calcanhoto. Na verdade existem dezenas de "Cantoras Tofu". E elas estão sempre armando alguma parceria com Arnaldo Antunes ou Carlinhos Brown.

Se fosse a MPB fosse um rodízio, eu diria que as Cantoras Tofu estão tirando o lugar da costela e do carré de cordeiro. Você não passa fome. Mas não se satisfaz. Fica um vazio no estômago e na alma.

Todas as "Cantoras Tofu" se parecem muito. Seus discos têm nomes supostamente sensíveis e misteriosos. O novo de Marisa chama-se O que você quer saber de verdade e tem uma faixa com o nome de “Nada tudo”. O novo da Céu foi intitulado de "Caravana Sereia" ou algo assim. Todas elas adoram falar de amor, mas é sempre com aquelas rimas banais: “amor” com “ardor”. “Paixão” com “coração”. O amor das "Cantoras Tofu" não tem pimenta, não tem tesão. Deve ser complicado ir para a cama com uma delas.

As "Cantoras Tofu" dizem “optar pela simplicidade”, o que costuma ser um ótimo eufemismo para “falta de imaginação” e “preguiça”. Uma "Cantora Tofu não ousa". Quando quer surpreender, ela pede para colocar um berimbau na 5ª faixa. Só para fingir que fez uma “pesquisa de sonoridades”. Ou então elas citam Almodóvar e Frida Kahlo para mostrar que tem repertório cultural.

Você não ouve "Cantoras Tofu" quando está apaixonado. Ou puto. Nem mesmo quando está deprê. As "Cantoras Tofu" não provocam emoções. Elas são úteis para você ouvir quando está largado no sofá, pensando se vai ou não comprar uma samambaia para colocar ao lado do quadro do Romero Brito. Elas são a trilha ideal para a seção de hortifruti do supermercado. (“Amor, não esqueça de comprar o meu alface orgânico!”)

Marisa Monte é aquela coisa, né. Não dá liga, não junta a galera

É assim mesmo: as Cantoras Tofu não querem atrapalhar. Elas só querem ficar ali, dedilhando o violãozinho e fazendo a 26ª versão de alguma música manjada do Tom Jobim ou do Cartola. Adaptações anestésicas que sufocam todas as emoções presentes nas músicas originais. É para isso que servem as "Cantoras Tofu": para agradar gente que precisa de “música elegante”. De música conformista, daquelas que não atrapalhe a festinha com vinhos e queijos identificados por bandeirinhas.

Talvez você ache absurdo um texto como esse. Você deve achar mais justo falar mal de Calypso. Na verdade, você provavelmente tem um ou mais discos de "Cantoras Tofu" no iPod e deve estar querendo matar o autor desse texto. Mas Calypso é como jiló. Se eu morder, vou achar ruim e acabar cuspindo. Com Marisa Monte e Maria Gadu é diferente. Eu mordo, mastigo, mastigo e não consigo achar o sabor. Fica um gosto esquisito na boca. Normalmente só passa quando eu ouço Bezerra da Silva.


publicado em 21 de Janeiro de 2012, 08:17
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Walter Carrilho

Walter Carrilho é, na verdade, o pseudônimo de um jornalista que prefere manter o anonimato para poder falar tudo aquilo que você adoraria falar, mas não fala porque, sei lá, não pintou o clima, saca? Ele escreve no Jornalismo Boçal e no @waltercarrilho.


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