Vodka: Dr. Drinks mostra o que é importante para escolher a sua

Ao contrário de muitos outros destilados cujos master blenders ficam anos aperfeiçoando a receita e o sabor pela adição de especiarias ou processos de envelhecimento em barris das mais variadas madeiras, a vodka tem por intuito simplesmente ser álcool. Ponto.

Lógico que hoje existem diversas opções saborizadas, aromatizadas e outras “adas” por aí, mas hoje falaremos da original, pura e simples wodka ("aguinha", diminutivo de woda, água em russo e em polonês), o destilado mais consumido no mundo.

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As origens da aguinha russa

Os primeiros registros do termo wodka datam do início do século XV (1405, Sandomierz, Polônia). Era uma água destilada de grãos enriquecida com camomila para tratar a pele irritada após a barba. Foi durante o feudalismo russo que a obtenção de álcool a partir de praticamente qualquer coisa que fosse possível se fermentar popularizou a água que passarinho não bebe, muito requisitada perante os impiedosos invernos do país dos Czares.

Foram justamente os últimos imperadores russos que tiraram maior proveito da afeição de seu povo pela bebida, chegando a decretar a produção de vodka como monopólio do estado, durante o reinado do Czar Nicolau II, quando viram crescer fortunas nos cofres de industriais como Piotr Smirnov (anos depois conhecido mundialmente por sua marca Smirnoff). Eles perceberam a possibilidade de aumentar ainda mais a arrecadação do estado, cujos impostos sobre a bebida já correspondiam a um terço de tudo que entrava nos cofres públicos.

Nicolau II

Tamanha é a importância desta bebida na história russa que até Dimitri Mendeliev (o cara da tabela periódica) se envolveu com estudos de melhorias do processo de destilação, como comprova sua tese de 1865: A combinação da água e do álcool.

Resultado desse percurso histórico: no final do milênio passado a média de consumo de vodka de aproximadamente 80% da população masculina russa era de, pasmem, 110 litros por ano.

Processo de destilação

Costuma-se dizer na Rússia que fazer vodka não é mais difícil que fazer sopa. Uma grande parcela da população tem em casa seus próprios apetrechos para fazer o samogon, uma forma rudimentar de vodka não raro com mais de 50% de álcool, ou seja, pega fogo e intoxica fortemente. Prova disso é que, segundo a revista Times, no ano de 2008 mais de 19.000 pessoas morreram intoxicadas por essa vodka artesanal.

Link YouTube | Vodka artesanal, da série "O que não fazer em casa"

Destilar vodka consiste basicamente em por  cevada, milho, trigo, centeio, ervas, figos ou batatas em água quente em fogo constante sem deixar ferver, apenas para inchá-los. Deixa-se em infusão por um tempo e acrescenta-se a levedura para fermentar os grãos. Após um tempo obtém-se um caldo levemente alcoólico, destilado várias veszes para separar o álcool do excesso de água e eliminar impurezas.

Estamos falando de um país basicamente agrário onde abundam variedades de grãos que, somando-se à propensão histórica dos russos para consumir vodka, tornam o acesso à matéria-prima perigosamente fácil. Qualquer camponês pode desenvolver seu equipamento de destilação e produzir sua própria vodka em casa. Um caminho extremamente fácil para perder a mão e virar alcoólatra, não?

À direita: antes. À esquerda: depois.

Como escolher sua vodka

Existem 4 critérios principais na hora da escolha:

1. Preço: Considere o uso e a quantidade. Se você quer fazer uma cocktail party, uma vodka entre R$16,00 e R$ 25,00 pode satisfazer perfeitamente suas necessidades. Por ser uma bebida de sabor neutro a maioria das pessoas não consegue diferenciar por marca ao misturar com outros ingredientes de um drink. Nesta faixa de preço as mais aconselháveis são Smirnoff, Skyy e Orloff.

boutique

2. Região: Aqui temos a maior amplitude de opções como o Leste Europeu (Rússia e Polônia), Europa ocidental (França, Suécia, Itália e Holanda) e ainda as diversas destilarias que pipocam em centros urbanos como Estados Unidos e Inglaterra.

Nesta categoria, as melhores são as super premium francesas Grey Goose e Ciroc, e a polonesa Belvedere. Também importantes são a holandesa Ketel One, a sueca Absolut, as russas Smirnoff Black e Stolichnaya, a finlandesa Finlandia e a polonesa Wyborowa.

Montagem ilustrativa sem proporção real.

3. Graduação alcoólica: Vodkas são feitas com índices entre 30 e 60% de álcool. As russas tipicamente ficam na faixa dos 40 % (80 proof). O samogon, por exemplo, tem pelo menos 50%.

4. Matéria-prima: Vodkas mais baratas tendem a ser produzidas com uma combinação de ingredientes abundantes, logo mais baratos, como sorgo ou milho. Já as premium são feitas de um único ingrediente, como trigo, batata ou uva.

Modos de beber

Por seu sabor neutro, a vodka tornou-se uma das mais versáteis bases de drinks, presente na maioria dos cardápios pelo mundo afora. Para degustá-la pura, no entanto, escolha uma das seguintes formas com responsabilidade:

Fria como na Rússia: Antes de consumir sua vodka, deixa ela uma temporada no freezer de sua casa. Isso proporcionará cremosidade e intensidade no sabor da bebida. Algumas horas já são suficientes e, se possível, gele o copo também.

Acompanhada: Não é aconselhável a ingestão de vodka de estômago vazio ou em carreira solo. Tradicionalmente os poloneses ingerem algumas fatias de pão com bastante manteiga antes de beber, pois a manteiga forma uma espécie de camada protetora no estômago, evitando que a bebida agrida muito suas paredes e cause azia. Belisque também alguma coisa enquanto bebe para manter seu organismo abastecido de energia e mais resistente aos efeitos do álcool.

Hidratada: Lembre-se sempre que um dos maiores incômodos de beber demais é a ressaca, intoxicação causada pelo álcool, cuja intensidade é diretamente proporcional à desidratação do corpo. Quanto mais hidratado você estiver enquanto bebe, menos intoxicado seu corpo e menores serão suas chances de ter ressaca, para não dizer que serão nulas.

Para os que gostam de coqueteis à base de vodka, nesse vídeo mostro com se faz um White Russian floater, meu drink de vodka favorito:

Link YouTube | Veja a receita no post

Espírito anfitrião, sempre

Agora que vocês já sabem tudo sobre vodka, usem de todo esse conhecimento para ser bons anfitriões e impressionar gatas e amigos com a maestria de quem tem certeza do que fala e faz.

Aproveitem e contem nos comentários quais suas boas e más experiências com vodka. Eu darei meu pitaco em cada uma delas, sempre tentando ajudá-los a melhorar essa relação.

Se tiverem dúvidas, vocês podem me mandar pelo Formspring do Dr. Drinks, assim criamos uma grande base pública de conhecimento sobre mixologia e cultura de drinks e bebidas em geral, afinal a sua dúvida também pode ser de outro leitor. Vocês também podem falar comigo por Twitter, Facebook ou email (drdrinks@papodehomem.com.br).

Se beberem não dirijam! Um beijo e até semana que vem.


publicado em 11 de Fevereiro de 2011, 11:53
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Junior WM

Um grande apreciador de história e histórias. Vive a vida de forma que seja lembrada como honrada e humana. Ama os prazeres da vida e sua família. Escreve sobre passar pelo mundo com dignidade e alegria. Contribui com a revolução digital por acreditar em seu caráter humanitário e num mundo melhor.


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