What’s so funny ‘bout peace, love and homem de peito depilado?

Mudanças sempre geram um desconforto inicial. Seja uma casa, um emprego, um relacionamento, ou um sabor do subway em promoção, justo naquele dia que você tinha se acostumado a pedir o sanduíche de almôndegas com queijo cheddar. A simples perspectiva de alteração em alguma rotina causa um estremecimento em praticamente qualquer ser humano, por menor que seja.

O mesmo vale para conceitos. Quando nos acostumamos com alguma verdade, por mais que ela não nos seja essencial, não tenha sido criada por nós ou exista sem nenhuma sustentação teórica, temos a tendência a ser um tanto quanto refratários a argumentos que queiram questioná-la. Não importa se vem de um artigo científico, uma opinião de amigo, ou se é apenas alguém na internet avisando que o certo é sobrancelha, não existe a palavra 'sombracelha', o sistema educacional brasileiro falhou contigo e você passou vinte anos escrevendo errado.

Nem todo mundo lida bem com as quebras de paradigmas
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No passado recente, poucos temas tiveram tantos de seus conceitos questionados e desafiados quanto a sexualidade humana e os papéis do homem e da mulher.

Homens trabalham e mulheres ficam em casa? Errado. Existem apenas dois gêneros? Não é o caso. Homens gostam mais de sexo do que mulheres? João Kleber entra fantasiado de Homem de Ferro e ataca suas convicções com o que parece ser um machado.

Conceitos que antes eram considerados verdades absolutas mostram não ser nem mesmo verdades relativas. Existe muito a ser discutido e aprendido em termos de igualdade de direitos e de representação.

Uma dessas pequenas, antigas, e sólidas verdades que vem sendo desconstruída durante os últimos anos é a dicotomia do homem peludo x mulher depilada. Sim, a ideia de que o homem tem o direito de ser peludo, felpudo, devidamente atapetado e a mulher, por sua vez, deve ser lisinha, raspadinha e depiladinha, num esquema de arquétipos meio Zé Mayer fazendo par romântico com Mel Lisboa, só que sem aquele final meio pra baixo de Presença de Anita.

Mas não é pra discutir a questão dos pelos nas mulheres que estamos aqui. Não apenas porque considero essa uma questão que deveríamos ter superado – assim como todos os outros temas que envolvem tentar ditar o que a mulher faz com seu próprio corpo – como também porque várias mulheres já escreveram sobre o assunto com muito mais autoridade do que eu jamais vou poder.

Não, estamos aqui pra falar de pelos masculinos. Eu sei, essa não é uma frase que eu costume escrever todo dia também, estamos empatados.

O virgem de 40 anos: infelizmente, essa é uma das únicas referências que a maioria de nós tem
O virgem de 40 anos: infelizmente, essa é uma das únicas referências que a maioria de nós tem

O ano é 2014 e são grandes as chances de que ao menos um cara que você conhece se depile. Seja o colega da pelada, o irmão mais novo ou o amigo que tem um armário pros suplementos alimentares maior do que aquele que você tem pras suas roupas. Hoje em dia quase sempre tem alguém.

Se você fizer parte de um grupo de caras dentro da média do homem brasileiro, esse amigo provavelmente vai ser motivo de zoação. Sim, aquela brincadeira pesada, aquela referência meio rude, aquele questionamento de orientação sexual, aquela imitação meio mal-feita daquele vídeo envolvendo o Away de Petrópolis.

E ainda que eu vá ser o último a me colocar contra uma pilha entre amigos – eu mesmo já fiz brincadeiras assim – no cerne dessa zoação, talvez residam algumas coisas que não tenham tanta graça assim.

E nem falo da questão óbvia de que em toda piadinha questionando a sexualidade de alguém se esconde, de maneira nada sutil, a ideia de existirem orientações sexuais certas e erradas, das quais se envergonhar e das quais se orgulhar. Falo de como a maneira de alguns lidarem com questões simples, como depilação, é a ponta do iceberg de uma certa crise de identidade do “homem moderno” que – vamos admitir – talvez venha durando um pouco demais.

Sim, vivemos numa época que deixou de lado boa parte dos nossos antigos marcadores de masculinidade. O homem como provedor e dono do mercado de trabalho, patriarca da família, monopolizador da libido no universo, todos foram conceitos que ainda cambaleavam na época dos nossos pais e hoje em dia estão entre o desacreditado, o obsoleto e o “coisa que seu avô fala quando bebe demais e sua avó finge que não ouve”.

Nem todas as famílias são assim, por exemplo
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Diante da dificuldade para lidar com essas mudanças, com essa ausência de paradigmas, com esse novo ambiente, acabamos nos apegando ao que restou dos antigos marcadores de masculinidade.

Não podemos mais dominar o mercado de trabalho? Temos que nos preocupar com o prazer da parceira? A mãe tem tanta autoridade quanto o pai? Tragédia! Reafirmo minha masculinidade sendo peludo, não me comprometendo com relacionamentos, levando futebol a sério demais. Porque, basicamente, isso é o que restou da ideia de homem que eu conhecia.

A verdade é que ninguém é menos homem por depilar o peito, não gostar de futebol, não ser assertivo, não estar no controle ou mesmo por gostar de outros homens.

Não porque a gente sabe exatamente o que é ser essa tal coisa, ou porque sê-lo é exatamente algo tão importante a ponto de ser buscado com tanta vontade. Mas sim porque ser homem, e ser um dos bons – que é o mais importante – sempre vai passar pelo conceito de ser uma boa pessoa. E eu acho que isso sempre esteve mais ou menos claro pra todos nós.

Então, ainda que a ideia de zoar o amigo depilado possa parecer tentadora pra alguns, é sempre bacana lembrar que, se a sua maneira de medir o quão homem alguém é for através da contagem de pelos – ou qualquer outro traço de aparência física – provavelmente, você precisa pensar com mais calma sobre o que isso significa.

E, claro, você está numa batalha perdida. Afinal, o Tony Ramos sempre vai ser mais homem do que você.

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publicado em 25 de Abril de 2014, 08:30
Selfie casa antiga

João Baldi Jr.

João Baldi Jr. é jornalista, roteirista iniciante e o cara que separa as brigas da turma do deixa disso. Gosta de pão de queijo, futebol, comédia romântica. Não gosta de falsidade, gente que fica parada na porta do metrô, quando molha a barra da calça na poça d'água. Escreve no (www.justwrapped.me/) e discute diariamente os grandes temas - pagode, flamengo, geopolítica contemporânea e modernidade líquida. No Twitter, é o (@joaoluisjr)


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