007 seria um péssimo pai e um marido terrível

Você queria ser igual ao James Bond? Tem certeza?

Quando eu tinha uns 12 anos meu maior ídolo era o 007.

Eu achava que ele era o auge do que um homem poderia ser.

Um cara bonito, se veste bem, conquista as mulheres, uma mais bonita que a outra, se mete em tretas mas sempre consegue sair, sabe atirar, brigar, se defender, piloto invejável de carro, moto, jato, helicóptero, cavalo e qualquer meio de transporte, gênio do poker e faz tudo isso como se fosse algo simples e natural dele, sem perder a pose, sendo estiloso pra caralho, uma confiança gigante e com um senso de humor afiadíssimo.

Eu pensava

“Caralho, se eu fosse metade, não, 10% do que o James Bond é, eu seria um homem foda.”

***

Quando eu me pego em situações difíceis ou precisando tomar decisões difíceis, eu costumo me perguntar: “Como tal pessoa agiria diante dessa situação?”

E fico fazendo o exercício de como determinadas pessoas reagiriam e quais seriam os possíveis resultados que elas obteriam naquela situação.

Gosto muito de pensar em caras como o Obama, Felipe Ramos, meu pai, Abraham Lincoln, Tony Hsieh e outras pessoas que admiro em alguns espectros fariam se estivessem no meu lugar, seja por suas habilidades em negociação, tomada de decisões difíceis, minimização de danos, melhor solução para os dois lados ou capitalizar um problema para transformá-lo em algo positivo.

Mas eu também gosto de pensar como alguém muito idiota agiria para imaginar qual seria o pior resultado possível.

É um exercício legal e te ajuda a pensar em possibilidades.

Há alguns meses passei por um período bem difícil, muitas brigas com minha esposa, grana apertada e a Clara estava super sensível, chorando por qualquer coisa e muito irritada. Resolvi fazer o exercício de como o 007 agiria se estivesse no meu lugar. Como ele lidaria com as tretas de ser pai.

Como todo aquele charme, confiança e destreza do meu maior ídolo da adolescência poderiam me ajudar a ser um pai, marido e uma pessoa melhor?

Será que mostrando pra minha filha, uma criança de 1 ano e 9 meses, e minha parceira que já passou comigo por milhares de tretas, sabe dos meus medos, minhas fraquezas e minhas virtudes, quem é que mandava nessa porra e que elas podiam confiar em mim que eu ia resolver sozinho todos os nossos problemas as coisas iam melhorar? Será que eu ia me sentir melhor agindo assim também? 

Pensei e notei que o James Bond é um cara extremamente solitário, não tem muitos amigos, trabalha a maior parte do tempo sozinho, não tem família, ou se tem, é ausente. Das centenas de mulheres que se relacionou, nenhuma evoluiu para algo além de sexo (exceto no filme On Her Majesty's Secret Service, em que ele se casa). Não chora, não expõe seus problemas nem seus sentimentos para os outros, também não é muito bom de dialogar nem de ouvir as pessoas, porque sempre resolve seus problemas na base da violência ou da força.

On Her Majesty's Secret Service

Das características positivas dele: charme, estilo, conquista, habilidades com armas, carros e poker. Nenhuma dessas faz criança parar de chorar nem uma esposa parar de gritar quando ela está há dias sem dormir e encontra sua toalha molhada em cima da cama.

Confiança e senso de humor ajudam, mas só elas não são suficientes e não fazem criança se sentir acolhida nem dormir no seu colo.

Se eu fosse igual ao 007, não aguentaria uma semana como marido e, talvez, nem um dia como pai.

James, se algum dia você quiser pendurar as chuteiras, arrumar uma esposa e ter uma cria, você vai precisar de muita empatia, paciência e amor nesse seu coração gelado.


publicado em 07 de Março de 2017, 16:00
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Rodrigo Cambiaghi

é especialista em mídia programática, monetização de sites e BI. Reveza o tempo entre filha, esposa, cão, trabalho, banda, moto, games, horta de casa, cozinha e a louça que não acaba nunca.


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