[18+] Bom Dia, Leticia Cazarroti

A Letícia foi fotografada pelo Gui Ferretti

Nota editorial: estamos em busca de Bom dias com homens e com mais diversidade de corpos e peles — aqui explicamos em mais detalhes o contexto atual da série, suas origens, obstáculos e nossa visão de futuro para ela. Se você é fotógrafo(a) ou tem um ensaio que deseja publicar, fale conosco pelo jader@papodehomem.com.br .

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Meu primeiro ensaio nu foi feito pelo Guilherme há quase um ano, quando a Julia Mazaia me convidou com o intuito de criarmos um "shoot" tão simples quanto o amor próprio deveria ser.

Na época, eu pouco conhecia sobre o nu e, além disso, estava passando por diversos problemas pessoais que me faziam sentir como se eu não tivesse controle sobre minha própria vida e, quando tinha, falhava miseravelmente.

Quando ela me fez o convite para posar, já visando o bem e a ajuda que isso traria a mim, ainda fiquei receosa com como seria aceito pelas pessoas que conviviam comigo, se essa seria a escolha certa a se fazer. Acredito que grande parte dessa insegurança tenha vindo da ligação que as pessoas fazem entre nudez e pornografia.

 

 

 

 

 

 

No dia desse primeiro ensaio, as fotos começaram a ser feitas com roupas e fomos tirando as peças aos poucos, de uma forma tão natural e desenvolta que esse medo foi sumindo, dando lugar a experiência incrível que só um ensaio nu pode ser. Porém, depois que recebi as fotos (que por sinal estavam ótimas), admito que tentei esconder que era um nu de verdade de algumas pessoas que eu conhecia: o medo tinha voltado. E com medo do que as pessoas achariam de mim, não pude conter aquela alegria que vibrava aqui dentro, aquela felicidade de ser quem eu sou.

Hoje, quase um ano depois, acompanhando cada vez mais a cena do nu, ainda com grande ajuda da Julia, percebo que desde o começo eles estavam tentando me mostrar essa visão de que o nu pode ser sensual sem ser sexualizado, que as fotos são feitas para mim, e que o fato de o meu corpo estar exposto não é uma porta de entrada para ninguém além de mim mesma.

No segundo convite, eu já tinha formado um outro olhar sobre toda a situação, sobre ter meu corpo ali, para as pessoas verem, sobre como isso não me desvalorizaria de maneira alguma e quão linda é essa arte de mostrar o corpo, o orgânico, como ele é e ponto final. Claro que ter a ajuda e o apoio da Julia, que realizou as transações durante todo o processo, quem idealiza os projetos, faz toda a produção, encontra as modelos (e no meu caso) que também deu todo o suporte que é necessário para segurar a barra que realizar ensaios do tipo pode ser, que na real faz tudo acontecer (desde a locação que melhor se encaixa até a entrega das fotos) e um fotógrafo, um artista, tão capacitado não somente em clicar com seu olhar único, mas também em como tratar a modelo que está ali da forma mais pura e vulnerável possível ajudou muito, e eu não tive que pensar duas vezes antes de dizer sim novamente. E com um ano de amadurecimento tanto deles quanto meu, o resultado foi infinitamente melhor.

Afinal, dessa vez o cenário era completamente diferente, eu estava livre dos medos e incertezas que estar exposta trazem, certa de que aquele momento era meu e que ninguém podia tirar aquela satisfação de mim. Descobri na fotografia uma nova paixão, que não cessa, que se redescobre a cada ensaio. Um jeito novo de me amar o independentemente de onde estou, de como fui criada e do que se passa ao meu redor.

As fotos são do Gui Ferretti.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Boa semana a todos.


publicado em 10 de Abril de 2017, 00:00
Bio jpg

Leticia Cazarroti

Paulistana de 19 anos, formada em gastronomia, apaixonada por padaria e confeitaria que começou a encontrar na fotografia uma maneira de expressar sua essência e se amar mais.


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