7 games que tratam de transtornos mentais

Alguns games que vão colocar você um pouco mais próximo dos lugares mais assustadores da sua própria mente.

Nos últimos anos, principalmente com o advento de criações de desenvolvedores independentes, os jogos têm se mostrado um meio muito rico na entrega de experiências.

Ao contrário do senso comum, games podem servir não somente para entreter, mas também para ajudar a recuperar pessoas de malefícios diversos.

Com tamanha potência de imersão, uma possibilidade que os desenvolvedores começaram a explorar foi a de colocar o jogador em lugares indesejados, como o de vilão, perseguido, injustiçado ou até mesmo transtornado.

A lista que trago aqui são de sete jogos que tratam de transtornos mentais das mais diversas maneiras, seja para tentar criar empatia com aquele amigo ansioso, seja para se reconhecer e se entender enquanto pessoa com depressão; as abordagens são tão variadas que certamente valerá a pena testar cada uma.

Darkest Dungeon (NSwitch, PSVita, PS4, XOne, Windows, Linux, Mac, iOS)

Um dungeon crawler que se vale do manjado sistema de turnos para mostrar um cenários baseado no universo de Cthulhu, criado por HP Lovecraft. E, se tem Cthulhu, não tem sanidade que fique ilesa.

O jogo trata dos horrores que a exploração de masmorras traz a quem se propõe a fazê-lo.

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Funciona assim: um contador de estresse cresce conforme o personagem se aventura. Quando completo, algo acontecerá na mente do personagem. Algo bom pode acontecer, como ter mais fé, se tornar destemido ou focado, mas comumente as doenças e distúrbios mentais se manifestam. Nasoquismo, paranoia, egoísmo, entre outros se enraízam entre personagens e tem consequências dentro do próprio jogo. Por exemplo, um masoquista se machuca constantemente em busca do prazer e prejudica sua saúde, um paranóico costuma não obedecer os comandos por medo de ser manipulado… Não chega a ser realmente perturbador, mas mostra um limite pouco explorado em jogos, o mental.

Actual Sunlight  (PSVita, Windows, Mac)

Evan Winter sofre de depressão. Melhor dizendo, está encarando uma crise de depressão desde o início do jogo. Em princípio, pode parecer chato ou mesmo irritante, pois por vezes o jogo indica que você precisa fazer coisas comuns como comer, tomar banho, dormir... mas Winter não responde aos seus comandos; isso porque coisas comuns e (aparentemente) fáceis como essas se tornam extremamente difíceis para quem está passando por uma crise de depressão.

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O jogo consegue, nas suas mecânicas, mostrar os problemas que alguém com depressão pode enfrentar com a sociedade e consigo mesmo. Um tema bem delicado (principalmente no caso de pensamentos suicidas), mas no jogo é abordado de uma maneira bem honesta.

Spec Ops: The Line (PS3, X360, Windows, Linux, Mac)

Estresse pós-traumático. Quando se fala em estresse, lembramos de fatiga e outras somatizações, mas quando o estresse não passa? Quando algo te chocou a tal ponto que não se consegue mais perceber quando se está mal?

Esse jogo, um shooter em terceira pessoa que não difere muito de vários outros jogos do gênero te joga numa situação bem parecida com a que soldados do Vietnam passaram, te dando decisões difíceis a tal ponto que sua mente não suporta.

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Nem precisa ir tão longe no passado, guerras recentes como a do Iraque e mesmo a guerra na Síria mostram o sofrimento de pessoas inocentes. Como lidar com isso?

Esse jogo te coloca numa posição difícil e usa isso como plot para mostrar como um trauma pode realmente ser um transtorno, algo que te tira da realidade.

The Cat Lady (Windows, Linux)

Susan Ashworth se tornou imortal após tirar a própria vida.

A pergunta que surge e baseia o game é: 

“Se o suicídio não for mais uma opção, como lidar com os problemas que te levaram a tal ação?”

O jogo tem uma capa de clássico point-and-click com um plot de vingança/justiça, mas se sustenta em tentar fazer Susan seguir em frente com o cuidado de manter sua saúde mental em equilíbrio.

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Um jogo que trata de forma sensível sobre a depressão e as possíveis tendências suicidas que advém de tal, fazendo você começar do suicídio de Susan, do fundo do poço, e conduzi-la até um estado mental melhor.

Rainy Day (Web Browser)

Um jogo brasileiro, feito por uma mulher, e que trata do dia-a-dia de quem sofre para viver.

Baseado em texto e algumas imagens, focado em escolhas, que ilustra como simplesmente sair da cama é difícil para quem sofre de transtorno de ansiedade e depressão.

Sair da cama não é nada fácil. As notificações no celular se acumulam e fica difícil acompanhá-las. Jogar videogame é prazeroso, mas logo não mais; o início do dia de quem está numa crise pode ser bem cruel, a ponto de funcionar como um jogo inteiro.

Pequeno e rápido, é um bom começo para tentar entender o que se passa no íntimo de quem não consegue ver motivos para fazer qualquer coisa.

Neverending Nightmares (PS4, PSVita, Windows, Linux, Mac, Android, iOS)

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Em Neverending Nightmares, Thomas se encontra num looping de pesadelos que pioram com o tempo, tentando sair de sua trágica visão de mundo e preocupação com sua irmã; o transtorno não é evidente, mas depois do quarto ou quinto pesadelo se repetindo, o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) começa a passar pela cabeça; o designer do jogo Matt Gilgenbach admite que os pesadelos repetidos são uma metáfora para seu próprio TOC.

O jogo é de terror, a despeito de ser cartunesco.

Hellblade: Senua’s Sacrifice (PS4, Windows)

Não à toa deixei esse por último. De todos, é o que traz o transtorno como mecânica principal do jogo, seja na jogabilidade, na história e, principalmente, na experiência do jogador.

Hellblade usa as ilusões de sua personagem principal como metáfora para uma terrível história fantástica, uma batalha contra o incontrolável da mente.

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Visualmente bonito e sombrio, Hellblade conta a história de Senua, uma guerreira celta que está numa jornada para reestabelecer uma árvore sagrada para sua cultura, mas isso é apenas uma metáfora para a luta que Senua estabelece com seu próprio transtorno. Vozes são escutadas pelo jogador (o uso de fones de ouvido para esse jogo é altamente recomendado) ordenando ações condenáveis, por vezes Senua não responde aos comandos, o jogo não facilita em nada tanto para a heroína quanto para o jogador que a controla. Aqui você pode ter uma experiência próxima do que é ter esquizofrenia.

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E aí, gostaram da lista? Conhecem outros títulos que podem ser adicionados? Como sempre, a conversa continua nos comentários.


publicado em 21 de Março de 2018, 10:45
Marcio lins jpg

Márcio Lins

Artista visual, designer, professor, gamer, pesquisador e doutorando da área de jogos. Sempre pronto pra segurar umas crises existenciais e um bom copo no bar.


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