A covardia do sexo forte

Quando precisa dar o fora num homem, a mulher não economiza sinceridade. Marca dia e hora pra si mesma, planeja a ação nos mínimos detalhes, ensaia as falas (não quer esquecer nada), escolhe a roupa adequada e afirma  com total objetividade os seus desejos.

Começam dizendo “Não dá mais” e depois explicam os motivos. Acham insuportável investir tanto tempo em alguém imaturo ou apegado demais à mãe; que não pensa no futuro, desempregado ou acomodado profissionalmente; que não sabe cuidar da namorada, que nem se toca de levá-la ao médico quando está gripada; que se veste mal ou é desleixado com a aparência; que não lhe desperta admiração nem borboletas do estômago...

Por fim, quando ele já está louco pra ligar a TV e assistir futebol, vem o golpe final:

"Você não passa segurança."

"Isso aqui me segura mais do que você..."

Mulheres gostam de esbanjar motivos. São máquinas de feedback. Talvez por isso ocupem cada vez mais cargos de liderança em grandes empresas. Nas conversas entre elas, se orgulham por demitir o cara que só atrasava suas vidas. É admirável a coragem do sexo frágil em querer ser feliz.

Nós, homens, somos frouxos convictos. Bebemos com os amigos a culpa por não amar. Muitas vezes, por falta de coragem de romper, aceitamos namorar, casar; alguns até comemoram bodas de prata.

O macho normalmente é passivo, deseja o fim em silêncio, torce pra ela tomar a iniciativa. No máximo, age nas entrelinhas, boicotando o relacionamento. Em último caso, brocha. O pânico de terminar muitas vezes é maior que a vontade de comer a amiga gostosa.

Claro, existem caras que preferem correr riscos e viver uma paixão verdadeira; mas são covardes em outros aspectos. Inventam mil desculpas pra completar o “Não é você, sou eu...”. Alegam incompatibilidade de gênios, colocam a culpa na ex-namorada: “Ainda não estou pronto pra amar de novo”; ou “Não rolou aquela química”. Inventam “A Outra”.

Revelam um extinto cafajeste que só existe no superego. Manipulam as moças a pensar que são chatas, mandonas, grudentas, carentes em excesso. Os menos criativos apelam: “A gente não manda no coração”. Os mais bonzinhos assumem uma falsa homossexualidade — tudo em nome de diminuir o sofrimento da moça.

Mas, nem em sonho e nem sob efeito de álcool; nem cheio de raiva ou tendo a virilidade ridicularizada; nunca, jamais, em hipótese alguma, um homem revela pra mulher que ela é feia.

E ainda somos rotulados de insensíveis.


publicado em 26 de Junho de 2011, 08:49
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Lisandro Pessi

Gaúcho e redator publicitário. Atuou como roteirista de dois curta-metragens ("Quando a vida imita a arte" e "Meu amigo secreto é"). Escreve crônicas e contos em seu blog e no Twitter @lisandropessi.


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