A Escola de Dados ocupou o PapodeHomem pra ensinar a programar

No último sábado (22 de fevereiro) a Escola de Dados ocupou a sede do PapodeHomem. Lentamente, a sala de reuniões foi se enchendo – nove pessoas ao todo. Gente de diferentes bagagens, diferentes histórias.

A Nahema trabalha no setor público, a Paula é jornalista. O Tom é físico e a Monise é socióloga. E assim vai. Foi a primeira reunião de uma série bimestral, toda semana, todo sábado. Quem não puder ir aos sábados pode ver o grupo às terças também.

O objetivo dos nossos encontros é simples. E complicado. Queremos provocar a emancipação tecnológica-computacional dos participantes. Queremos que as pessoas aprendam a transformar problemas do mundo real em problemas que podem ser mastigados e resolvidos pelos computadores.

Queremos acabar com um tipo diferente de analfabetismo, um que só entrará para os índices estatísticos ao longo deste século. Queremos que as pessoas aprendam a programar. Que elas sejam protagonistas na relação homem-máquina.

Em um dia, todos já programaram sua primeira linha de código
Em um dia, todos já programaram sua primeira linha de código

A Escola de Dados é um projeto da Open Knowledge, fundação que luta pela abertura de conhecimento em mais de 40 países. A nossa escola também possui versões em inglês, espanhol, francês e grego. Mais estão por vir. A missão da Escola de Dados é disseminar a cultura dos dados em alto nível. Nossa visão é que essa cultura, se bem disseminada, fortalecerá nossas instituições democráticas a partir do nível individual. A partir da base da pirâmide. Essa é a parte abstrata da coisa. Todo o resto são tentativas de fazer com que esses ideais se materializem.

Um exemplo são as nossas Expedições de Dados. Escarafunchamos uma base de dados com grupos multidisciplinares em um espaço colaborativo. Gente com mais experiência trabalha com quem tem menos experiência. Designer com programador com jornalista com curioso dos dados. Ou algo assim. No fim do dia, todo mundo aprende uma coisa ou outra. Também temos uma série de tutoriais em nossa página de internet. De quando em quando publicamos análises ou convidamos um especialista para dar dicas e pitacos nessa coisa dos dados.

A nossa mais recente tentativa de fazer valer nossa missão foi ao sábado e se repetiu na última segunda-feira (24). Pegamos carona no excelente curso do Massachusetts Institute of Technology, Introdução à Computação e Programação usando Python -- na incrível plataforma edX -- e facilitamos a criação de um grupo de estudos.

Everton tenta convencer o grupo a não desistir do curso após o carnaval
Everton tenta convencer o grupo a não desistir do curso após o carnaval

As pessoas fazem o curso em casa e se encontram com a gente para tirar dúvidas, manter a disciplina e conhecer pessoas. O grupo se tornou uma opção irresistível para aqueles que sempre tiveram o desejo de aprender a programar, mas nunca tiveram aquele empurrãozinho.

É completamente natural questionar o que diabos aprender a programar tem a ver com disseminar a cultura dos dados. É uma excelente pergunta. Um questionamento que está sob constante reflexão nos corredores virtuais da Escola de Dados.

Sempre que nos perguntam a resposta é mais ou menos assim:

Aprender a programar é só uma desculpa. Um meio de se chegar ao fim. Programar bem não é pra qualquer um. Requer muita disciplina, atenção obsessiva ao detalhe, um chamego com a matemática e com a lógica e estar disposto a ficar horas e horas olhado para a tela de um computador.  Nossa intenção não é formar exímios programadores, apesar de que objetivamos esse alvo com mira laser.

Aprender a programar é a forma de colocar os dois pés em um mundo que toma cada vez mais conta da nossa realidade, mas que é acessado por poucos. Aprender a programar significa desenvolver um filtro que te faz enxergar possibilidades antes invisíveis na solução de problemas de qualquer natureza. Significa aprender como os computadores funcionam e como podemos usá-los ou requisitar que outros os usem para solucionar nossas encrencas.

Ninguém questiona a ubiquidade dos sistemas de informação. Não apenas os bancos dependem fundamentalmente da computação. Mercado financeiro. Pesquisa científica. Medicina. Sistemas de navegação. Distribuição de energia e outros recursos naturais. Meios de comunicação. Meios de locomoção. Compras. Setor público. A internet e tudo que vem dentro, tipo o Google e o Facebook.

Isso quer dizer que os seres humanos geram uma quantidade colossal de dados todos os dias. São informações que nos definem enquanto sociedade, que dizem respeito aos nossos prazeres, nossas predileções, nosso comportamento, nossa vitória ou nosso fracasso enquanto empreendimento humano.

Quer dizer também que estruturamos a civilização de modo tal que dependemos dos sistemas de computadores para nossa sobrevivência quase tanto quanto precisamos de água. Ou ar. Ou sexo.

De um lado a produção homérica de dados. De outro a dependência dos sistemas de informação. A Escola de Dados se posiciona nessa encruzilhada. Queremos facilitar o acesso e o entendimento dos dados gerados todos os dias nas diferentes esferas da sociedade.

Parte desse esforço passa por mostrar para as pessoas como elas podem demandar esses dados dos sistemas de informação, como elas podem tratá-los, como elas podem interpretá-los e usá-los de forma útil, de forma que haja impacto positivo que nos fortaleça enquanto sociedade, enquanto democracia. E uma forma bastante eficaz de chegar lá, assim acreditamos, é entendendo como essas máquinas funcionam, por meio de lógica e programação. Um importante primeiro passo.

Não sabemos se chegaremos lá. Se o encontro de sábado for um indicativo, as chances são muito boas. Sabemos, contudo, que programar não é a resposta para todas as coisas. Sabemos também que não é para todos. Destacamos, apenas, a importância que nos é evidente.

Quer participar?

O nosso convite quer ser despretensioso. E é mais tranquilo do que se imagina. Sem perceber, com apenas um encontro, todos já escreveram pelo menos uma linha de código.

Logo mais, estarão escrevendo seus próprios programas, livres para criar e fazer com que os computadores resolvam seus problemas.

Aqui você pode acompanhar o grupo de estudos e agendamento dos encontros.

Que tal? Vem com a gente?


publicado em 27 de Fevereiro de 2014, 10:47
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Marco Túlio Pires

Coordenador da Escola de Dados e Assessor de Inovação e Transparência na Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado São Paulo. Jornalista, é programador interessado na interseção entre ciência da computação, jornalismo, novas plataformas e governo aberto. Escreve de vez em quando em Bitcount.


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