A intrigante cultura ninja

Eles são alvo de nossa curiosidade e de nossas produções audiovisuais duvidosas, mas por quê?

Os ninjas sempre foram alvo de muita curiosidade da minha parte. A representação ocidental tantas vezes superficial e até estereotipada faz com que a maioria de nós tenha uma visão limitada dessa cultura. Mas não podemos negar que o próprio fato desses guerreiros serem escolhidos tantas vezes para figurar em produções deste lado do mundo desperta um grande interesse e até uma admiração.

Não são poucas as representações que o ocidente, sobretudo os EUA, fizeram deles. Em grandes produções como Kill Bill e Batman Begins, os ninjas aparecem seja em métodos de treinamento ou em pleno combate. Acontece que toda essa história envolvendo os seguidores do Ninjutsu vai muito além.

Em 2009, os EUA importaram e remodelaram um seriado japonês chamado Sasuke criando o American Ninja Warrior.

Link do Youtube

De fato, o circuito montado pela produção do programa não é nada fácil e a desenvoltura que é exigida dos participantes é de impressionar. Mas, apesar de tudo isso, chamá-lo de ninjas parece um pouco demais ou, como diriam os americanos, too much.

A origem dos ninjas

Seus predecessores podem ter existido desde o início da era Kamakura, no século XII. Mais tarde, durante o período Sengoku (séculos XV - XVII), mercenários e espiões contratados surgiram das regiões de Iga e Koga no Japão onde formaram-se os primeiros clãs que originaram o conhecimento sobre os ninjas. A princípio eles forneciam serviços secretos em troca de pagamento.

Os grupos eram formados por camponeses, chineses e coreanos refugiados, clãs samurais derrotados em batalhas feudais e outros desertores. Além disso, há teses de que a base da cultura se formou através pela habilidade dos truques de mágica que andarilhos trouxeram ao grupo junto às técnicas de caça e pesca que os camponeses criaram para sobreviver.

Tudo isso deu fundamento para um cultura muito heterogênea que foi se desenvolvendo com o passar do tempo e se configurou de forma singular. Mas tudo que cerca os ninjas está encoberto por uma camada difícil de ser transposta.

Os ninjas viviam em locais de difícil acesso e repassavam o conhecimento apenas dentro de suas famílias, de geração para geração. Por isso, é difícil encontrar documentos da época que comprovem o que é fato histórico e o que é mito.

Após a unificação do Japão sob o xogunato Tokugawa, os ninjas tiveram uma fase difícil e desapareceram da cultura popular japonesa. Em contrapartida, foram encontrados manuais como o Bansenshukai (1676) em quantidade significativa no interior da China, o que mostra um certa migração dos clãs.

Escritos como esse são os primeiros a revelar a variedade de filosofias, crenças religiosas, a sua aplicação na guerra, bem como as técnicas de espionagem que formaram a base da arte ninja.

Depois disso, os ninjas tiveram mais um intervalo no limbo até ganharem um novo impulso no século XX durante a Guerra Russo-Nipônica e no período da Segunda Guerra Mundial. Com isso, os ensinamentos do Ninjutsu se espalharam pelo mundo e suas técnicas de batalha e infiltração são repassadas até hoje por organismos estatais e organizações militares de diversos países do mundo.

As armas ninjas

Os ninjas tinham uma variedade muito grande de armas. A mais famosa delas é a espada conhecida por Ninja to que era adaptada às suas técnicas de batalha. Essa espada possuí a lâmina reta e menor do que uma Katana (espada samurai) por exemplo, permitindo maior facilidade de transporte e ocultamento. Além disso, ela é projetada para utilizar a força do corpo inteiro, ao invés de apenas os braços, como os samurais faziam.

Além da espada, eles também utilizavam a Kawanaga ou Kaginawa. Uma espécie de gancho que serve para transpor obstáculos como muros e árvores. Existiam variações no comprimento e na número de ganchos dessa arma que também servia para atracar embarcações ou mesmo acoplar a outro equipamento que permitiria, por exemplo, remover grades.

Algumas escolas ninjas passaram a utilizar bombas de fumaça chamadas de Kemuridamas. As bombas variavam na sua composição, mas a sua maioria era formada de pólvora, serragem e areia, lacradas com cera de abelha que, quando arremessadas ao chão lançavam uma cortina de fumaça. Aos poucos, as Kemuridamas foram se desenvolvendo e passaram a incorporar outros elementos químicos que serviam para desnortear os oponentes, dando vantagem aos ninjas na fuga ou na aplicação de um golpe.

Mas dentre todas as armas ninjas, a mais lendária com certeza são as Shurikens. As famosas estrelas ninjas nada mais eram do que lâminas com duas ou mais pontas que os ninjas arremessavam nos inimigos como parte de seus golpes. Existem duas formas de classificação das Shurikens.

Pelas pontas:

  • Nipo shaken - 2 pontas
  • Goho shaken - 5 pontas
  • Shichi ho shaken - 7 pontas
  • Happo shaken - 8 pontas
  • Kuho shaken - 9 pontas
  • Jippo shaken - 10 pontas
  • Ju yon po shuriken - 14 pontas

Pela forma:

  • Hangetsu shaken - meia-lua
  • Hishi gata shuriken - losango
  • Tepan shuriken - quadrado
  • Senban shuriken - quatro pontas com bordas côncavas e sem afiação
  • Juji shaken - cruz
  • Tsume shaken - garra
  • Manji shaken - símbolo budista
  • Tatami juji shaken - dobrável com formato aberto de cruz

Por último, os uniformes ninjas também podem ser considerados armas já que eram fundamentais para a camuflagem. O Shinobi Shozoku tinha como função facilitar a 'invisibilidade' sem limitar os movimentos. Apesar de sempre imaginarmos os ninjas com uniformes pretos, as cores mais utilizadas eram azul marinho e marrom escuro. Segundo relatos, o preto se destacava mesmo no escuro e essas cores se confundiam melhor com o ambiente.

Os treinamentos ninjas

Ao contrário do que se pensa, os ninjas eram mais bem treinados para técnicas de espionagem, sabotagem e infiltração do que propriamente para combate. Assim, seus treinamentos estavam focados em resistência e inteligência, além de terem um fator psicológico-espiritual muito forte.

O treinamento incluía técnicas especiais de fuga, métodos de caminhar silenciosamente, escalada de obstáculos, luta dentro d’água, técnicas de envenenamento, hipnose, alongamentos e flexibilização das articulações, técnicas de dramatização, pressão de pontos vitais, luta desarmada e armada.

Além disso, os guerreiros eram treinados para aguentar longas exposições ao frio e ao calor e tinham capacidade de ficar mais tempo embaixo d’água sem respirar do que a média.

Os ninjas tinham como protocolo nunca entregar os companheiros. Sendo assim, quando capturados, era comum que os ninjas se suicidassem.

Outro mito criado que se revelou era de que os ninjas nunca podiam fugir, mas ao contrário disso na cultura Ninjutsu fugir significava uma nova oportunidade de aprender e cumprir a próxima missão.

Dento dessa tradição, as missões sempre eram pensadas pelos mais velhos e designadas aos ninjas mais novos.

Na organização dos clãs havia três categorias:

Os Jonin eram os mais experientes. Eles treinavam os melhores lutadores e supervisionavam as aulas dadas aos mais jovens.

Os Chunin eram treinados pelos Jonins e lideravam as ações mais difíceis, além de treinar os aprendizes. Eles também chefiavam as missões e eram responsáveis por executar as estratégias dos Jonins.

O último grupo é dos Genins, aprendizes jovens que eram treinados desde criança e faziam as ações mais simples de disfarce.

Segundo os relatos, também havia mulheres ninjas que eram chamadas de Kunoishis. O seu treinamento incluía, além dos ensinamentos dos homens, uma técnica de sedução conhecida como Kisha, elaboração e aplicação de venenos, e a preparação para utilizar uma arma chamada Tesen (um leque com lâminas de metal).

Nas suas missões, elas atuavam combatendo ou seduzindo homens de alto poder político, em troca de informações ou mesmo com a intenção de assassiná-los.

Tudo isso dá uma noção do quanto a cultura ninja é complexa. Divididos em clãs, espalhados pelo mundo, não importa o quanto de informação disponível sobre eles tenha, eles sempre vão continuar alvo da nossa curiosidade e de nossas produções audiovisual questionáveis. Afinal de contas, nós adoramos mistérios.

Deixe nos comentários suas referências sobre os ninjas e vamos descobrindo mais sobre essa cultura fantástica.

Leia também:


publicado em 19 de Novembro de 2015, 11:00
Breno franca jpg

Breno França

Editor do PapodeHomem, é formado em jornalismo pela ECA-USP onde administrou a Jornalismo Júnior, organizou campeonatos da ECAtlética e presidiu o JUCA. Siga ele no Facebook e comente Brenão.


Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.

Sugestões de leitura