A liberdade de pensar no que queremos ser quando crescer

Eu adoro escrever. Adoro o fato dos temas estarem todos à nossa volta, cabendo somente a nós enxergá-los ou não. Essa semana mesmo, um assunto ficou me rodeando por dias, e eu, tonto que sou, demorei muito para me dar conta.

Em uma daquelas esclarecedoras conversas de bar, um amigo me confessou que, quando criança, era fã do programa de televisão do desenhista Daniel Azulay. À época, perguntou à sua mãe como aquele cara sabia desenhar tão bem. Sem pensar duas vezes, a mãe respondeu que ele só era bom porque desenhava todos os dias sem parar. E saiu para comprar cadernos e canetas para o filho, que desde então nunca parou de rabiscar o mundo em sua volta.

Atualmente, o menino desenhista tem sua própria agência de publicidade especializada em cartuns e desenha parte dos personagens das embalagens e produtos que você usa todos os dias. É um cara legal e feliz porque faz o que gosta.

Link YouTube | Eis aqui outra criança que faz o que gosta desde bem cedo

Coincidentemente, no dia seguinte me encontrei com uma amiga e falei sobre a conversa narrada acima. Essa amiga trabalha com pesquisas com células-tronco e me confidenciou que descobriu que queria ser cientista aos 4 anos de idade, quando ganhou um kit de química dos pais. Desde então não parou mais de brincar com tubos de ensaio e hoje está ajudando pessoas a voltar a enxergar graças às horas sem fim que passou “se divertindo” com tubos de ensaio nos laboratórios da Unifesp.

Não vou ser hipócrita e dizer que o mundo é feito apenas de pessoas assim, que seguiram seus sonhos e hoje são bem sucedidas. Esta não é a realidade, e infelizmente esses casos são exceção. Mas uma coisa nas duas histórias está se tornando raridade hoje em dia e me preocupa demais: as crianças de hoje têm menos liberdade e mais obrigações.

Quando observo alguns setores da realidade à minha volta, vejo algumas crianças que nem sabem escrever e já fazem cursos de idiomas, artes marciais, natação, tocam um instrumento musical e ainda praticam ioga! Tratados como adultos, esses pequeninos começam a agir como se estivessem crescidos. Esquecem da obrigação mais importante na idade deles: a de ser criança. Sonhar e se divertir livremente.

Tudo errado.

Acredito que esse peso nas agendas das crianças (ou quem sabe o simples fato de terem agendas) é responsável pela grande quantidade de adultos amargurados e sisudos que passam por nossas vidas. Caras que nunca souberam como é bom se sujar inteiro de lama correndo na chuva porque não tinham tempo pra isso. Afinal, depois da natação era hora de ir para a aula de inglês.

Sempre considerei a infância como um breve e delicioso ensaio de como vamos levar a vida durante os anos que vão se passar. Os adultos, além de educar, deveriam ajudar as crianças a sonhar, a desenvolver a imaginação e a descobrir que a vida não é uma corrida para ver quem sabe mais e chega mais longe mais cedo.

A intenção não é ensinar ninguém a viver, muito menos a criar seus filhos. Longe de mim! Mas, pelo que sei, sonhar nunca foi crime, e sempre foi legal pra caramba pensar no que a gente quer ser quando crescer. Você já parou hoje para pensar sobre o que vai ser quando crescer? Já perguntou isso para o seu filho? Se ele responder mágico ou astronauta, não vale dar bronca.


publicado em 24 de Dezembro de 2011, 06:58
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Luiz Gallo

Filho do seu Walter e da dona Leni, Luiz Gallo (@luiz_gallo) é jornalista, roteirista, odeia pés e não dispensa uma cerveja gelada num barzinho de esquina. Aqui no PdH dispara textos na série "Entre umas e outras".


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