Aprenda a viajar o mundo por um ano | Encontro no PapodeHomem

O Rafael Câmara tirou um ano e viajou o mundo todo. Agora ele vai sentar com a gente para contar como foi todo o processo para que a viagem acontecesse

Acho que a ficha só caiu mesmo quando eu entrei no avião. Ou nem isso. É que aquela não era uma viagem normal, de férias, mas uma jornada que levaria cerca de um ano e passaria por quatro continentes.

Quando contei meus planos de viagem, alguns meses antes da data de partida, minha família achou que eu era louco. Meus amigos pensaram que eu tinha ficado rico. E todos se chocavam ao saber que eu iria largar um emprego estável para mochilar por meses.

Quase três anos depois da minha volta para casa, no segundo semestre de 2012, posso dizer com certeza: viajar pelo mundo por um ano mudou minha vida. Minha visão de mundo, objetivos, sonhos e até a carreira profissional, tudo mudou depois daquela aventura. 

 É clichê, eu sei, mas a pessoa que voltou para casa era outra.

Claro que sei que uma viagem dessas não é o sonho de todo mundo. E que assim como eu cresci ao colocar uma mochila nas costas, muita gente alcança as mesmas coisas ao trilhar outros caminhos. Inclusive quando o caminho escolhido é se esforçar para subir na carreira, alcançar um emprego estável ou ter uma casa própria.

Cada pessoa escolhe os sonhos que deseja perseguir. Se o seu é parecido com aquele que eu tive em 2011, a boa notícia: viajar pelo mundo por um ano não é algo necessariamente muito caro ou um sonho impossível. Eu, por exemplo, gastei na viagem o valor de um carro popular. E de um carro usado.

Esse tal de ano sabático

Tirar o ano sabático é uma prática mais comum do que a gente imagina, pelo menos no exterior. Em várias culturas, é normal que uma viagem dessas seja feita antes ou logo depois que a pessoa sai da faculdade. E tem quem já esteja trabalhando há anos, mas resolva tirar um período para descansar.

É lógico que eu queria conhecer lugares incríveis, ter novas experiências, conhecer outras culturas. Mas também encarei a viagem como uma oportunidade de crescimento profissional. Foi por isso que mesclei essa volta ao mundo com um intercâmbio na Índia.

Durante um ano sabático, você tem aquilo que muitas vezes faz falta no dia a dia: tempo. É possível usá-lo das mais diversas formas, como para fazer um curso de idiomas ou de culinária, para fazer trabalho voluntário, um intercâmbio ou somente para viajar, mudando de cidade a cada semana.

Tem quem faça viagens temáticas, tipo ir atrás das melhores ondas, perseguir destinos de inverno ou conhecer lugares marcantes por conta da espiritualidade. A escolha do roteiro depende dos seus gostos e preferências. O meu, além do tempo na Índia, incluiu Espanha, Itália, França, Inglaterra, Malásia, Tailândia, Nepal, China, Cingapura, Indonésia, Nova Zelândia, Chile e Peru.

Mas e a grana?

Antes de mais nada, encare a viagem como um investimento. A gente não investe dinheiro em um monte de coisas, como em carros, casa e eletrônicos diversos? Viajar também pode ser tão importante para você como um carro - é tudo uma questão do que você vai priorizar.

Rolf Potts, em seu livro Vagabonding, afirma que essa noção de que investimento material é de alguma forma mais importante que investimento pessoal está intrincada na sociedade de consumo e é o que nos leva a acreditar que nós nunca poderíamos pagar por uma viagem mais longa.

Assim, acabamos adquirindo propriedades e não experiências. Como eu já disse antes, não há nenhum problema em preferir investir em bens materiais e não numa longa viagem. Mas também não há nada de errado em escolher o outro caminho.

Para viajar pelo mundo por um ano, faça uma poupança de viagem. Planeje-se durante meses, pensando quanto dinheiro você precisa ter e o que pode fazer para alcançar a soma necessária.

Não espere que o dinheiro caia do céu. Se sua ideia for esperar por aquele prêmio da loteria, lamento te dizer que sua viagem dos seus sonhos pode nunca acontecer. É preciso ter um plano real, algo palpável.

Comece repassando sua rotina e veja onde você pode economizar. Corte gastos, inclusive os mais simples. Tenha em mente que o custo de vida em outros países pode ser muito baixo.

Além disso, pense no que você pode fazer para ganhar mais dinheiro. Eu busquei freelas e um segundo emprego em um cursinho de inglês. Vender meu carro, que afinal de contas ficaria parado na garagem durante a viagem, também ajudou a completar a grana necessária.

Se para viajar você vai largar seu emprego, quanto você receberá no acerto? Isso já pode te ajudar a levantar a grana necessária. E por falar em dinheiro, um dado importante: eu gastei R$ 25 mil na minha viagem, realizada há três anos.

É lógico que as circunstâncias eram diferentes, afinal entre 2011 e 2012 o dólar estava mais barato e a viagem foi realmente econômica. Se fosse feita em 2015, acho que essa mesma viagem custaria entre 35 e 40 mil. É muita grana, não é para qualquer um, mas com foco e planejamento pode ser possível.

Como consigo tempo?

Não tem jeito, você vai ter que parar de seguir o rumo da sua vida por um tempo. Isso pode significar largar um emprego, dar uma pausa em algum projeto importante ou congelar outros objetivos.

Para viajar, eu pedi uma licença não remunerada. Outros viajantes pedem demissão mesmo, enquanto muitos aproveitam uma mudança não esperada na vida como uma espécie de oportunidade. Por exemplo, gente que é demitida e resolve viajar pelo mundo antes de retomar a carreira.

O ponto é simples: assim como para conseguir levantar a grana, para viajar pelo mundo por um ano é preciso priorizar isso. E a ideia de largar tudo, tão difundida em frases de Facebook, não é exatamente correta.

Ninguém larga a vida toda ao cair na estrada - tem até quem leve parte da vida nas costas durante a viagem. Isso inclui quem viaja com namorada(o), amigos ou famílias. E também aqueles que, usando das vantagens da Internet, conseguem dar um jeito de trabalhar durante a viagem, usando um bom sinal de wifi e um pouco de paciência para contornar os problemas do fuso horário. Só você pode determinar qual caminho escolher.

E como planejar uma viagem dessas?

Se planejar uma viagem de 15 dias já é complicado, organizar uma viagem de um ano é uma tarefa enorme. A parte boa é que você pode fazer isso até durante a viagem, só pensando em coisas práticas quando estiver prestes a mudar de destino. Por exemplo, eu só me preocupava com hospedagem quando a data de chegar ao novo destino se aproximava.

Além disso, é preciso pensar em vistos, passagens aéreas, num bom seguro de viagem e em montar um roteiro de viagem de forma organizada e coerente. Um dos maiores erros que cometi, durante minha volta ao mundo, ocorreu quando eu já estava na estrada há meses.

Compramos uma passagem para ir de Cingapura para a Indonésia. O destino final no país era Bali, mas preferimos comprar a passagem para Jacarta, supostamente para economizar, e fazer o resto do trecho por terra.

O problema é que a Indonésia tem milhares de Ilhas. Jacarta está na ilha de Java, numa ponta do país, enquanto Bali é uma ilha na outra ponta. Só mesmo com uma complexa troca de ônibus, trens e balsas a gente chegaria lá - e a viagem ficaria muito mais cara que pegar um avião.

A lição é clara: planeje a viagem com cuidado e calma. Não faltam informações na Internet sobre esse assunto, inclusive de brasileiros que resolveram viajar para os mais remotos cantos do globo - e postaram online todas as dicas.

O livro "Como viajar pelo mundo por um ano"

Se você se interessar pelo tema, deixo a dica do livro digital Como viajar pelo mundo por um ano, o terceiro e-book que publicamos no 360meridianos e que foi lançado nesta semana, depois de meses de trabalho. 

São 160 páginas de dicas para organizar uma longa viagem, dos mais diversos estilos. De uma viagem de volta ao mundo a um intercâmbio no exterior.

Como é impossível abordar todo esse tema num único texto, e a gente queria marcar o lançamento desse projeto de forma especial, resolvemos tentar algo diferente: fazer um encontro no QG do Papo de Homem. 

Se inscreva para o encontro fechado para conversarmos sobre como viajar pelo mundo por um ano com o Rafael Sette Câmara, jornalista e autor do PapodeHomem

(Na foto, a Natália Becanitini, que também estará na conversa, o Rafa Câmara e a Luíza, autora do 360Meridianos que está em Portugal)

A ideia é discutir o assunto com um grupo de interessados (e dar dicas para quem também sonha em fazer uma longa viagem). E aí, topa participar com a gente?

Onde? na casa do PapodeHomem, que fica na rua Monte Alegre, 1370, Perdizes. Na cidade de São Paulo.

Quando e que horas? No dia 18/06, uma quinta-feira. A recepção começa às 19h. A conversa mesmo começa às 19h30, pra todo mundo ter tempo de chegar.

Quantas pessoas? Vamos selecionar apenas 20 dentre os inscritos no formulário abaixo, por limitações de espaço. Nossa escolha será pautada pela diversidade, para compor um grupo plural, com pessoas que tenham diferentes relações com viagem – desde quem já é íntimo com o tema a quem não sabe nada, mas está aberto.

Quanto custa? Nada, esse é por nossa conta.


Vemos vocês lá.


publicado em 14 de Junho de 2015, 00:00
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Rafael Sette Câmara

Virou mochileiro ao mesmo tempo em que se tornou jornalista. Desde então, se acostumou a largar tudo para trás - inclusive empregos - e cair na estrada. Ele escreve sobre viagens no 360meridianos, mas pode ser encontrado também no Facebook e no Instagram.


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