Assistir programas de TV de boa qualidade faz de você uma pessoa melhor?

Assistir bons programas de TV pode ser um exercício de empatia

Se você por acaso já se sentiu remotamente culpado com o vasto tempo que passa assistindo TV, minhas sugestão é que se agarre aos resultados do estudo publicado em Psicologia da Estética, Criatividade e as Artes.

Nele os autores afirmam que assistir a dramas de alta qualidade na TV – programas como Mad Men ou The West Wingpode incrementar sua inteligência emocional. Isto é, assistir TV de boa qualidade pode fazer de você uma pessoa mais empática.

No artigo, os autores descrevem dois experimentos que os levaram a essa conclusão favorável à televisão. Num deles pediram a 100 pessoas que primeiro assistissem um drama de TV (Mad Men ou The West Wing) ou um programa de não ficção (Como Funciona o Universo ou Shark Week: O Tubarão Ataca Novamente).

Depois todos os participantes fizeram um teste que muitas vezes é usado por psicólogos para medir a inteligência emocional: são mostrados 36 pares de olhos, e o voluntário julga a emoção que cada par de olhos está exibindo. Os resultados mostraram que quem assistiu aos programas de ficção se saiu melhor no teste do que os que assistiram não ficção.

Então fizeram o teste novamente, apenas trocando os programas (The Good Wife e Lost versus dois documentários sobre ciência, Nova e Através do Buraco de Minhoca) e adicionando um grupo de controle, que fez o teste de interpretação dos olhos sem assistir TV.

Novamente os resultados mostraram que os índices de empatia de quem assistiu ficção foram superiores, embora aqueles que assistiram a documentários também tenham obtido índices médios superiores aos dos que não haviam assistido qualquer coisa logo antes.

É um resultado similar ao de um estudo amplamente divulgado de 2013 que afirmava que ler literatura de ficção estaria ligado a melhores resultados nesse mesmo teste que mede empatia. Os autores daquele estudo, e os deste novo, postulam que uma narrativa ficcional complexa força o leitor ou espectador a considerar um problema sob várias perspectivas; além disso, já que nem todos os personagens manifestam emoções explícitas, os expectadores precisam exercer algum esforço mental para preencher essas lacunas, tentando adivinhar o que se passa na psicologia interior do personagem.

Aquele estudo de ficção literária, no entanto, foi amplamente criticado por seus métodos. Especificamente, a ficção que os autores escolheram para seu estudo era de autores como Louise Erdrich ou Anton Chekhov; e a não ficção, por outro lado, era um artigo do Smithsonian escolhido entre três, com títulos tais como "Como a batata mudou o mundo."

Não o menciono com a intenção de desdizer tubérculos deliciosos (jamais o faria), mas para apontar que as amostragens de não ficção que escolheram não tinham conteúdo relacionados a pessoas.

Não é de se surpreender que os voluntários do estudo fossem melhor capazes de interpretar emoções humanas quando acabaram de passar algum tempo lendo sobre emoções humanas.

E esse novo estudo também apresenta um problema semelhante: será tão surpreendente que as pessoas estejam num estado mental mais empático depois de tentar entender o que está se passando na cabeça de Don Draper do que depois de assistir a um programa da Semana do Tubarão? O que isto realmente nos diz?

Talvez não diga muito, mas se você está buscando uma desculpa para fincar a bunda no sofá vendo séries direto, faça o que quiser dessa nova pesquisa.

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Este texto foi originalmente publicado no The Science Of Us.


publicado em 08 de Novembro de 2015, 21:29
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Melissa Dahl

Escritora e editora no @thescienceofus do @nymag.


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