Auto-estima e beleza do homem negro | Caixa-preta #3

O "enxergar-se bonito" é um processo complexo para a grande maioria das pessoas

Nota editorial: hoje, 20/11, é o dia da consciência negra, uma data criada para refletirmos sobre a inserção das pessoas negras em nossa sociedade. O Brasil tem 54% da população negra ou parda, mas essa mesma fatia detém apenas 17% dos mais ricos.

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Link do Youtube

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Retirei esse trecho de um artigo que escrevi há alguns meses:

Minha primeira boneca foi uma barbie bailarina. Ela tinha o cabelo loiro brilhante, pareciam fios de ouro. O tom da pele plastificada, se é que dá pra chamar assim, era branco. Cintura fina, pernas longas, olhos verdes. Linda.

Levava ela para o dia do brinquedo da escola, toda toda. Na hora do recreio, sentávamos eu e outras meninas pra decidir qual das barbies cada uma ia representar. A regra era uma só: tínhamos que parecer com a que fossemos escolher.

Meu cabelo não era liso nem loiro. Meus olhos não eram verdes. Minha pele não era branca. No “aí faz de conta que eu sou essa barbie”, eu nunca tive uma boneca parecida comigo. Isso me incomodava de uma forma que eu não sabia explicar. Era quase como um tampão invisível na minha boca.

Estamos no terceiro episódio da Caixa Preta (venha por aqui pra assistir os outros episódios), a série de relatos masculinos do PapodeHomem. Decidi trazer de volta o trecho desse artigo porque o danado do sentimento de “tampão invisível na boca” deu as caras durante a conversa com o Ian Black, nosso entrevistado da vez. O papo foi sobre auto-estima do homem negro e, apesar de ser uma mulher, eu me senti intimamente ligada aos pontos levantados na discussão, principalmente por ter sentido muitos deles na pele (literalmente).

O “enxergar-se bonito” é um processo complexo para a grande maioria das pessoas.  

Quando se é negro, a construção de uma imagem esteticamente positiva de si mesmo é ainda mais complicada, já que nós somos bombardeados desde a infância por diversas referências brancas: de super-heróis e protagonistas de filmes a rostos estampados em revistas e paquitas, como bem citou Ian. Essa falta de representatividade acaba afetando nossa identidade, auto-estima e cultura, e cria noções engessadas do belo.

Por exemplo, se você fizer uma pesquisa rápida no Google Imagens buscando pela expressão “homens bonitos”, pare por alguns segundos e veja quantos rapazes negros aparecem nos resultados. Provavelmente a contagem não vai demorar, porque o número será praticamente nulo. Essa é uma forma simples de avaliar o quanto estamos imersos em uma espécie de algoritmo cultural que tende a presumir um padrão branco na maioria das situações, como já discutimos no artigo "Qual é a cor da Turma da Mônica?Racismo e Normalidade", e colocá-lo como o ideal de beleza.  É o tal do tampão invisível nas nossas bocas.

A boa notícia é que ele está diminuindo cada vez mais, e esse terceiro relato do Caixa Preta aponta para isso. A pele preta está ocupando espaços e mostrando que não há nada de feio na cor, no cabelo ou no nariz largo.

O Ian Black compartilhou a história dele com a gente e eu quero convidar vocês para continuarmos esse papo na caixa de comentários. Como construíram sua autoestima e noção de beleza? E em especial, homens negros, como foi pra vocês?

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Para se aprofundar um pouco mais no assunto:

- O privilégio de não ser um negão (Racismo e Normalidade - Parte 1)

- Vamos nos livrar da normalidade (Racismo e Normalidade - Parte 3)

- A pessoa mais linda do país

- "Eu te amava...até saber que você é negra!"

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Você conhece homens com histórias que poderiam virar relatos do Caixa Preta? Conta pra gente!

Não é de hoje que o PdH quer construir uma relação aberta e de colaboração com a comunidade. Pensando nisso, e buscando aumentar o alcance de relatos, nós queremos sua ajuda nesse projeto. Com certeza você convive com diversos homens que carregam vivências construtivas. Não seria incrível se essas histórias pudessem ser compartilhadas com mais pessoas?

Caso você tenha alguma sugestão para a nossa série do Youtube, deixa nesse formulário. É bem simples.

Vamos juntos?

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Caixa Preta é uma série de relatos em primeira pessoa, na qual homens quebram o silêncio e discutem momentos importantes de suas vidas ou do masculino. Sai toda quinta, aqui no portal e em nosso canal no YouTube


publicado em 23 de Março de 2017, 08:10
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Carol Rocha

Leonina não praticante. Produziu a série Nossa História Invisível , é uma das idealizadoras do Papo de Mulher, coleciona memes no Facebook e horas perdidas no Instagram. Faz parte da equipe de conteúdo do Papo de Homem, odeia azeitona e adora lugares com sinuca (mesmo sem saber jogar).


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