Bem-vindos ao governo dos ratos!

Os roedores faceiros tomaram conta da casa. E agora?

De quando em quando eles surgem. Os larápios roedores, moradores de buracos, sabedores das maracutaias. As pragas precisam sobreviver e, como não conseguem se impor, então trabalham em lúgubres instâncias, sempre um ajudando ao outro, sempre um abandonando ao outro quando a água bate na bunda. Eles morrem de medo de se afogar, mas vivem chafurdando poças enlameadas com porcos e todo o tipo de parasita atrás de uma boquinha.

Assim são os ratos.

Cheiradores e covardes, ou astutos (eles adoram ver os próprios copos meio cheios), espreitam oportunidades, aguardam pacientemente o momento mais resguardado de avançar e matar a fome. Distribuem as migalhas entre eles numa espécie de confraternização, mas eles não se enganam, sabem que estão entre ratos, que quando um cão aparecer, um vai passar por cima do outro em busca de abrigo, de escuridão. Mas os ratos, eles, vivem desse tratado. Colados um no rabo do outro, focinho com focinho, montam uma estrutura engenhosa quase sólida.

E de quando em quando eles surgem, tomados por uma soberba gelatinosa, crentes de suas capacidades de argumentação e astúcia, e tentam tomar à força o local desejado, seja um navio, a casa de alguém, um vilarejo, a porra do território todo. Crentes em seu poder conjunto, serpenteiam e vão roendo beirada após beirada, deixando marcas, esses dentinhos nojentos (às vezes chegam a cair, tamanha a veracidade), vão estragando o chão por onde passam, vão se aglutinando, subindo um no outro, uma colaboração nefasta em prol de sugar tudo o que dá porque sabem que o tempo é curto.

Poxa, não tem quem não se assuste com uma invasão de ratos. Aos montes, uma massa cinza e disforme, uma coisa asquerosa que não sabe sorrir, leva consigo aquela pasta úmida e preta de sujeira que traz nas patas, o odor dos esgotos, do coio deles. E a gente recua, vê a tomada deles, sua ascensão e posse, as regalias que criam perante a nossa letargia, durante o choque.

É nesse momento que se estabelece o governo dos ratos! São eles que mandam. 

Mas se a gente olha bem, são só ratos. Eles são frouxos, um todo em que cada parte só sente sua parte, só se preocupa com o seu pedacinho. Eles não valem nada.

São só ratos.

E sabe o que a gente faz com ratos como os que assumiram hoje? A gente enxota.

Obs.: As opiniões aqui expressas são as do autor como escritor e colunista e não refletem necessariamente as do seu empregador ou colegas.

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publicado em 12 de Maio de 2016, 12:25
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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna Do Amor. Tem dois livros publicados, o livro Do Amor e o Ela Prefere as Uvas Verdes, além de escrever histórias de verdade no Cartas de Amor, em que ele escreve um conto exclusivo pra você.


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