Boletim Papo de Homem no Pan Americano Rio 2007

Estimados leitores, a Papo de Homem cumpre sua missão informativa e traz para todos uma visão interna dos Jogos Panamericanos. Para quem não se recorda, este humilde doutor-repórterfoi selecionado para trabalhar na equipe médica do Pan.

Boa oportunidade para participar de um evento internacional, e claro, ganhar uma graninha. Sem falar na que pude conhecer o Lado B do Pan, que pouca gente viu.

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Pra quem não entende, esse jogo é um tédio

Então, minha estréia foi no dia 18/7. Me dirigi à Cidade do Rock (mesmo local onde foram realizados os Rock in Rios 1 e 3), para trabalhar no Posto do Atleta, onde estavam sendo disputados os jogos do Baseball.

Amigos, foi a primeira vez que assisti uma partida de baseball, entre Brasil (que mais parecia a seleção japonesa) e EUA. Mas que jogo chato de se ver! Por sorte eu entendo as regras. O Brasil até que jogou bem no começo, mas em uma das entradas, os EUA fizeram 5 pontos seguidos e acabaram vencendo o jogo.

Ruídos de Comunicação

A desorganização e a falta de bom senso já começaram ali. Tive problemas no acesso, pois a fiscalização rigorosa não permitia a entrada sem a credencial. E a empresa que me contratou não havia me enviado.

Fui informado que uma viatura da empresa me levaria a credencial e o uniforme, o que me custou 1 hora e 20 minutos plantado na entrada do evento. Quando chegaram, me trouxeram uma credencial provisória. Porém, ao chegar ao meu posto, quem estava lá me aguardando? Minha credencial original e meu uniforme. Comunicação exemplar.

Outro indício de falta de bom senso foi o ocorrido devido à chuva do dia anterior. Vários jogos de baseball foram suspensos e teriam que ser jogados naquela manhã. Porém, só permitiram a entrada de quem tinha o ingresso do dia anterior.

Quem chegou com o ingresso do dia só pôde entrar à tarde, o que gerou protestos generalizados na entrada. Após terminarem os jogos da manhã, o público que lá estava foi “convidado” a se retirar, e quem estava fora finalmente entrou.

Onde estão os atletas machucados?

Olha aí o bonequinho do Pan, alguém lembra o nome dele?
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A única coisa que não atendi naquele dia foram atletas. Em outro sinal de desorganização, voluntários e funcionários tinham acesso direto ao Posto do Atleta, ao invés do Posto Geral. E só foram atendimentos fora de minha especialidade - sou ortopedista - como dores de cabeça e resfriados, mas isso aí até um macaco bem treinado sabe resolver. Tirei de letra.

Devido ao pouquíssimo trabalho, a parte boa foi que pude circular livremente pela Cidade do Rock. Subi até nas arquibancadas para assistir os jogos.

Era necessário tomar cuidado com as bolas de baseball rebatidas para fora da quadra. Soube que no dia anterior, uma mulher foi atingida no pescoço, precisando de atendimento. Vi uma bola quase atingir um grupo de voluntários, caindo exatamente no meio deles. Uma outra atingiu a porta do Posto onde eu estava. Perigo!

Tráfico no Pan

Os voluntários corriam atrás das bolas rebatidas para guardar de lembrança. Aliás, os voluntários protagonizavam um capítulo à parte. O tráfico de pins e bottoms.

Praticamente todos tinham vários pins pendurados em suas credenciais. Vi um brasileiro querer trocar um uniforme de futebol, uma camisa do Juninho Pernambucano, por uma camisa da Seleção de baseball da Nicarágua. Se ele soubesse que ninguém curte futebol na Nicarágua, talvez imaginasse que não iria conseguir, aliás, o cara tinha uma mochila só com bugigangas para trocar com os gringos.

Após minha passagem pela Vila Panamericana (essa eu conto no próximo artigo), percebi o quão mania se tornou o tráfico de pins entre atletas, voluntários e quem quer que fosse.

O filho de Fidel

Uma delegação de baseball que me chamou a atenção foi a cubana. Diversos atletas, no intervalo dos jogos, fumavam animadamente charutos - ainda bem que isso não é doping. Reparei que um personagem da delegação cubana chamava a atenção, várias pessoas querendo tirar foto com o indivíduo. Um cara alto, branco, com o cabelo cheio de luzes.

Quando me contaram, não imaginaria nunca de quem se tratava. Era o médico da delegação cubana, chamado Antonio, e de sobrenome.... Castro! Isso mesmo, ele era filho do Fidel. Como não usava barba, ninguém iria imaginar. Deve mandar pouco lá na terra dele.

Assistindo os atletas "tirando água do joelho"

Ao final, tive uma surpresinha desagradável. Eu deveria esperar o último atleta terminar o exame antidoping para poder ir para casa. Os voluntários responsáveis pelo exame me contaram que não podiam forçar os atletas a beber água.

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Mais uma bela imagem do Pan, sem qualquer relação com o resto da matéria, por sinal

Pensei em dar uma palestra rápida sobre diurese para eles, mas fui dissuadido, pois descobri que se a urina estivesse muito diluída, o exame teria que ser repetido. Aliás, deve ser a função mais inglória do Pan, porque o voluntário responsável pela coleta do exame tem que literalmente ASSISTIR o atleta urinar, ninguém merece. Vários atletas se recusavam, o que gerou transtornos, e eu lá doido para ir para casa.

Para passar o tempo, resolvi puxar papo com o preparador físico da Seleção dos Estados Unidos. Perguntei a ele se tinha gostado das instalações, e me admirei com sua sinceridade: “Definitivamente, não”.

Eu tive que concordar com ele, para um país onde o baseball é esporte de milhões de dólares, as instalações e o campo, ainda que bons para padrões brasileiros, eram péssimas para eles. Ele me confessou que o campo tinha buracos, e que temia que um atleta se machucasse. A precariedade viria à tona mais adiante, pois no dia de hoje (23/7), um vendaval derrubou várias instalações, suspendendo as partidas de Softball.

Enfim, após duas horas e meia esperando, o último atleta americano fez o esperado xixi e pude retornar aos meus aposentos. Para um primeiro dia de trabalho no Pan, foi uma experiência e tanto.

E com aquela credencial podendo circular por todos os locais, fazia altos planos, inclusive de entrar na boate da Vila, onde diziam que a putaria rolava solta. Não foi bem assim, mas isso é assunto para o próximo Boletim Papo de Homem nos Jogos Panamericanos: Minhas “aventuras e experiências” nas 36 horas que fiquei na Vila Panamericana.

Aguardem...


publicado em 24 de Julho de 2007, 10:00
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Mauricio Garcia

Flamenguista ortodoxo, toca bateria e ama cerveja e mulher (nessa ordem). Nas horas vagas, é médico e o nosso grande Dr. Health.


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