Boxe clandestino: homens em meio à máfia e violência

A Vice preparou um mini-documentário que retrata o crescimento do boxe sem luvas no Reino Unido

As diferenças entre homens são acertadas em lutas desde a pré-história.

Assim, nada mais natural que o boxe seja um dos esportes mais primitivos do mundo. O esporte, como conhecemos hoje, ganhou regras, limites, o máximo de segurança possível, mas o objetivo continua o mesmo: derrubar o adversário.

O boxe cresceu, se desenvolveu, passou a movimentar cifras milionárias. Criou ídolos históricos e ganhou desdobramentos.

Entre eles, o MMA. Os americanos reuniram diversas lutas marciais e fizeram o que fazem de melhor: transformaram num produto. Criaram eventos luxuosos, se espalharam pelo mundo, conquistaram visibilidade. Nascia o UFC.

O terreno logo se mostrou fértil para os brasileiros. Se antes, praticamente anônimos, lutadores brasileiros já faziam sucesso. Agora, o reconhecimento atraiu novos talentos. Ainda que o país não esteja mais no auge, o Brasil se transformou numa das maiores potências do MMA no mundo. E um dos principais públicos, é claro.

Na contramão de tanto glamour e de tanto dinheiro, do outro lado do Atlântico, revigorava um sentimento primitivo. Seja nos pubs clandestinos, nas garagens das vielas ou nos becos das periferias, se desenvolvia um esporte ainda mais antigo que o próprio boxe. Na verdade, seu antecessor. Ressurgia o ‘Bare-knuckle Boxing’. Numa tradução livre, ‘Boxe com as mãos nuas’.

Trata-se do estágio intermediário entre o boxe (de luvas) e as brigas de rua. Homens de todas as idades, todas as profissões, todas as classes sociais se encontrando para lutar entre si. Com quase nada a ganhar (em termos financeiros) e muita coisa a perder. É o risco, a realidade, a verossimilhança que despertou a atenção, principalmente dos ingleses, para essa nova velha modalidade de luta.

Nestes termos, impossível não lembrar de Fight Club, a obra-prima de Chuck Palahniuk. Mas a verdade é que tanta atenção crescente vem atraindo a atenção de pessoas que estão interessadas, inclusive, em começar a transmitir os confrontos. Tirar o caráter marginal dessas lutas e levá-las ao grande público, sem perder as raízes.

Diante de tudo isso, impossível ficar distante das discussões que giram em torno deste esporte. Para alguns, muito violento. Para outros, um favor à sociedade.

É bem verdade que a modalidade não oferece quase nenhuma segurança aos lutadores, mas eles estão longe de buscar segurança. Cientes das possíveis lesões a curto e a longo prazo, decidiram se arriscar.

Muitos encontraram nesse tipo de luta a saída para libertar o instinto violento que antes descontavam nas ruas. Outros abdicaram de suas condições sociais para viver um pouco da experiência de estar de igual para igual com simplesmente qualquer um. Nas lutas não há cor, credo, religião, nem sequer idade. É você e as armas do seu próprio corpo contra o adversário.

A Vice preparou um mini documentário muito elucidativo sobre a questão. Entrevistando todas as partes de um duelo que colocou frente a frente o campeão do Reino Unido e o campeão dos Estados Unidos numa briga por cinturão. Algo que, segundo eles, não acontecia desde 1863.

Link Youtube

No final, fica a lição dos homens que nunca chegarão ao esporte profissional. Homens que já erraram no passado e se arrependem. Homens que ainda têm seus problemas e que cultivam uma barriga de cerveja, uma barba descuidada e uma alimentação desregrada. Homens que estão procurando uma forma de abstrair e se divertir. Quem não está?


publicado em 09 de Novembro de 2015, 18:19
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Breno França

Editor do PapodeHomem, é formado em jornalismo pela ECA-USP onde administrou a Jornalismo Júnior, organizou campeonatos da ECAtlética e presidiu o JUCA. Siga ele no Facebook e comente Brenão.


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