Briga de bar: garrafada vazia ou cheia?

Como já escrevi anteriormente no Não Dou Atestado, alguns dos efeitos relacionados ao consumo do álcool são a euforia e o bem-estar. O que para alguns pode significar um comportamento agressivo e potencialmente perigoso.

Por exemplo, você está em um bar com amigos curtindo aquela merecida cerveja, quando por algum motivo estúpido (sempre é) alguém resolve que precisa brigar com você. Como seria a melhor maneira de se defender? Ou ainda, dos objetos disponíveis, com o qual haveria mais danos ao atingir, por exemplo, sua cabeça?

Arte da porradaria. Ilustração foderosa pelo usuário Elandain, do DeviantART.

Foi pensando nessas perguntas que Dr. Bolliger e sua equipe de pesquisadores realizaram a pesquisa: “Are full or empty beer bottles sturdier and does their fracture-threshold suffice to break the human skull?”. Ou, em tradução livre:

Garrafas de cerveja cheias ou vazias são resistentes o suficiente para quebrar o crânio humano?

Apesar de ser da opinião de que o desperdício de cerveja é um crime independente do motivo, esta é uma pesquisa importante na área de Medicina Legal. Acho que todos já viram em séries do gênero investigadores tentando remontar a cena de um crime a partir de elementos encontrados em análises laboratoriais e anatomopatológicas. Então, foi pensando nisso que a revista Journal of Forensic and Legal Medicine publicou em 2009 este artigo.

A resistência das garrafas foi testada utilizando-se uma drop-tower (um aparato no qual alguns pesos são derrubados em materiais para testar suas propriedades). As garrafas foram colocadas em uma placa de madeira sobre argila para simular a dispersão do impacto no crânio e no cérebro. Então, um peso feito de aço de 1kg foi jogado sobre as garrafas de diferentes alturas (entre 2 e 4 metros).

Observou-se que as garrafas cheias toleravam energia proveniente do choque de mais de 25J, mas quebravam-se aos 30J. Enquanto as garrafas vazias eram destruídas somente a 40J. Duas teorias foram feitas para explicar esta diferença:

(1) A cerveja é um fluido praticamente incompressível, e mesmo uma pequena deformação leva a um grande aumento da pressão interna, o que leva à destruição da garrafa;

(2) A cerveja é uma bebida carbonada, e a pressão do gás pode contribuir para que a garrafa quebre mais facilmente.

A aplicação destes dados para a situação real no bar necessitou ainda de alguns cálculos adicionais, uma vez que o estudo pesquisou o efeito de objetos caindo sobre a garrafa e não sobre o impacto da garrafa sobre uma superfície. Após estes cálculos serem refeitos, os pesquisadores concluíram que uma garrafa cheia de cerveja atinge seu alvo com 70% a mais de energia que a garrafa vazia. Em outras palavras, necessita-se de menos força muscular para se conseguir um impacto com maior energia quando realizado por uma garrafa cheia, mesmo descontando-se a energia gasta com o movimento feito para se erguer a garrafa e atacar o alvo.

Em termos de danos ao crânio, pesquisas anteriores com cadáveres demonstraram que a fratura ocorre a partir de níveis energéticos entre 14.1-68.5J dependendo da área atingida. Ou seja, tanto garrafas cheias quanto vazias podem fraturar determinados locais no crânio.

Link vídeo | Demonstração prática. Repare, aos 5:03, que caso seu oponente seja o Steven Seagal, é melhor nem arriscar pegar uma garrafa.

De qualquer maneira, eu acho que, se é para dividir uma garrafa de cerveja cheia com alguém, que seja servindo copos vazios. Porém, se aquele brutamonte mal encarado vier em sua direção e você não tiver para onde correr, ter uma garrafa de cerveja cheia por perto pode te dar alguma vantagem (ou pelo menos descontar parte da desvantagem).

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Referência:

Bolliger, S., Ross, S., Oesterhelweg, L., Thali, M., & Kneubuehl, B. (2009). "Are full or empty beer bottles sturdier and does their fracture-threshold suffice to break the human skull?" Journal of Forensic and Legal Medicine, 16 (3), 138-142 DOI: 10.1016/j.jflm.2008.07.013


publicado em 13 de Maio de 2011, 17:19
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Rafael Pivovar

Estudante de medicina da Universidade Federal de São Carlos e autor do blog "Não dou atestado".


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