Camisinha, o guia definitivo

"Peraí, Dr. Health. Todo mundo tá careca de saber como é que usa.”

Não é o que parece.

Tenho recebido muitas dúvidas, principalmente no que concerne a possibilidade de gravidez quando a camisinha escapa, ficando lá dentro da vagina. Opa, alerta máximo. Isto é sintoma de mal uso.

Posso não trazer informações novas para o usuário, mas, mesmo em época de inclusão digital, há muito engano por aí. Então, vamos lá.

Histórico

Na Ásia de antes do século XV, foi registrado o uso de preservativos de glande, ou seja, que cobriam apenas a cabeça do pênis. Na China, eram feitos de papel de seda oleado ou de instestinos de ovelha. Na Europa pós-medieval, o uso de preservativos contra a praga da sífilis começou a ser registrado, tendo os holandeses desenvolvido um preservativo de couro fino, que desta vez envolvia todo o pênis. E durante o Renascimento, surgiram os preservativos feitos de instestinos e bexiga de animais.

No século 19, o preservativo se espalhou pelo mundo, atingindo até as classes mais pobres. Objeções morais para os padrões da época dificultaram a popularização. Apesar disso, no final deste século, o preservativo era o meio mais popular de contracepção.

As guerras sempre foram meios de propagação intenso de DSTs, e não se sabia do papel do preservativo na prevenção destas. As taxas de DSTs na Guerra de Secessão Americana foram imensas entre os soldados. O Exército Alemão foi o 1º a distribuir preservativos entre seus soldados, e posteriormente, outros fizeram o mesmo, e realmente as taxas de DSTs entre os soldados despencaram.

A primeiro preservativo de borracha foi inventado em 1855. Em 1912, foi inventada uma técnica que consistia em mergulhar um molde de vidro numa suspensão de borracha crua. Para manter a borracha líquida, era necessária a mistura com gasolina ou benzeno, o que tornava o preservativo inflamável (já pensou?). Em 1920, foi inventado o látex (borracha em suspensão aquosa), o que tornou o preservativo mais fino e resistente, e não inflamável. E era bem mais barato que o preservativo de pele (intestino).

Na década de 60, com o advento da pílula, o preservativo perdeu o lugar de método contraceptivo mais usado. Com o advento da AIDS na década de 80, o uso do preservativo voltou a crescer. Como novidades mais modernas, temos o uso do poliuretano, diversos tipos e espessuras (mais finos, mais grossos, com espermicidas), a camisinha feminina e outras como camisinhas temáticas, comestíveis e aromatizadas.

Tipos

Látex: É o material mais utilizado, e possui grande elasticidade. São testados contra furos através de uma corrente elétrica. Se passam, são enrolados e vendidos. Um cuidado importante : Só devem ser utilizados lubrificantes à base de água. A vaselina, por exemplo, pode reduzir as propriedades elásticas do látex e aumentar o risco de rompimento.

Poliuretano: Tendem a ter a mesma espessura dos de látex. Conduzem melhor o calor, é menos sensível a temperatura e raios ultravioleta, durando mais, pode ser utilizado com lubrificantes oleosos, é menos alergênico e também é inodoro. São tão efetivos quanto os de látex na prevenção às DSTs. Como desvantagem, são mais caros, e têm risco maior de escorregar e romper.

Pele de carneiro: Ainda disponíveis, tem como grande vantagem a menor perda de sensibilidade, e são menos alergênicos que o látex. São eficazes como contraceptivo, porém, a eficácia contra as DSTs é reduzida, pois são porosos.

Com espermicida: Alguns preservativos eram lubrificados juntamente com uma substância chamada nonoxinol-9, que é um espermicida. O uso vem sendo descontinuado, pois foi comprovado que, além da resistência do preservativo ser menor, pode causar infecções urinárias na mulher. O risco de transmissão do HIV também pareceu aumentar com o uso prolongado.

Feminino: Em forma de tubo, contém um anel interno que visa a impedir que o preservativo escorregue para fora da vagina. Normalmente são feitos de poliuretano.

Colocando...

Não, não é assim

Pode parecer básico do básico, mas a colocação correta da camisinha pode evitar muita dor de cabeça. Vamos ao nosso curso relâmpago de colocação de camisinha e dicas adicionais.

1 – Observe sempre a data de validade. Quanto mais velho, mais desgastado estará o látex e maiores são os riscos de ruptura.

2 – Prefira sempre os preservativos lubrificados. Provavelmente não se vendem mais os “secos”, mas eu juro que já vi vender. Facilita de todas as formas.

3 – Guarde seus preservativos em local fresco. O calor danifica o látex.

4 – Ao usar um lubrificante, use somente à base de água (na maioria das vezes, o preservativo é de látex). Da turma do K-Y e afins.

5 – Muito cuidado ao abrir. Se usar os dentes para abrir o pacotinho, você pode inadvertidamente romper o preservativo. Use as mãos sempre que possível.

6 – O preservativo apresenta uma pontinha. Você deve esvaziar o ar dessa pontinha, e aí sim começar a desenrolar no corpo do pênis. Essa pontinha é o receptáculo do esperma, e a presença de ar ali pode ser fatal, aumentando a pressão quando da ejaculação, e o preservativo pode arrebentar

7 – Pequeno cuidado quando a parceira for colocar a camisinha com a boca, especialmente se ela tem algum desejo oculto de engravidar. Na hora do tesão, ela dá uma mordida na pontinha e você nem percebe...

8 – Se, por um acaso, você broxar com a camisinha (acontece), retire e coloque uma nova. Além de perder tempo enrolando, a colocação não será tão precisa e o risco de ruptura aumenta. Deixe de ser pão-duro

9 – Uma camisinha sobre a outra : Além de uma perda de sensibilidade absurda, o atrito entre elas aumenta o risco de ruptura.

10 - Finalmente, após a ejaculação, o pênis deve ser IMEDIATAMENTE retirado da vagina. Se amolecer lá dentro, a camisinha corre sério risco de sair, e o sêmen contaminar a vagina. E minha caixa de e-mails também agradece.

Concluindo

Enfim, camisinha é um mal necessário hoje em dia. Sabendo usar, tem eficácia de 98%. Sim, ela tira prazer, mas é bom enxergar o lado positivo disso: ela prolonga o tempo que você fica lá transando, o que pode dar alguns orgasmos extras para sua parceira. Por esse mesmo motivo, a camisinha é utilizada no tratamento da ejaculação precoce.

Dr Health, cuja única experiência com camisinha com espermicida foi traumática : o espermicida me anestesiou.

É sério, eu não sentia mais nada !!!


publicado em 30 de Julho de 2008, 08:55
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Mauricio Garcia

Flamenguista ortodoxo, toca bateria e ama cerveja e mulher (nessa ordem). Nas horas vagas, é médico e o nosso grande Dr. Health.


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