A capa de hoje do jornal Estado de Minas é assunto porque não se poupa de falar o que tem de ser dito

Algo parece estar funcionando em Minas: o jornalismo

Vivemos pra ver um fodão de um dos maiores bancos de investimentos do Brasil ser preso pela Polícia Federal. Ontem, André Esteves foi em cana junto com o líder do governo Dilma, Delcídio do Amaral (PT-MS) – essa merda toda por causa da Lava Jato e as investigações que, a duras penas, estão driblando os obstáculos pra chegar onde precisam.

Nos últimos dias também vimos um mar de lama invadir o Rio Doce e a vida de incontáveis mineiros. Já chegou no Espírito Santo e no sul da Bahia, devastando não só o ecossistema, não só o turismo da cidade, mas a pesca, o trabalho e os meios de sustento de gente pelo Brasil todo.

Detalhe: os riscos tóxicos da catástrofe ainda não foram divulgados. E a ONU já soltou um relatório dizendo que as medidas tomadas pela Samarco e pelas controladoras Vale e BHP Billiton foram “claramente insuficientes”.

Quer ficar mais possesso? A Samarco está em dívida de R$ 22 milhões de reais com a prefeitura de Mariana, que está esperando, desde 2010, valores da Compensação Financeira pela Exploração dos Recursos Minerais (CFEM). Dinheiro esse que, sabemos, a cidade está precisada pra prover dignidade pra quem está sem ter onde morar.

Metade dessas informações eu já sabia. A outra parte delas eu aprendi em três minutos de leitura. Pois é, meu amigo, eu tenho uma notícia boa pra você: se tem uma coisa que tá funcionando em Minas, essa coisa é o jornalismo.

Parte da internet parou hoje de manhã pra ver e elogiar a capa do jornal Estado de Minas.

Bonita ou não, da minha opinião política ou não, cumpriu a função de pautar a conversa, botar a boca no mundo.

Só quem já fechou uma publicação sabe como pode ser difícil achar medidas certas: qual a quantidade de informação suficiente pra incitar a leitura, mas adequada pro espaço da página? Qual a melhor diagramação possível pra que o título mais importante possa ser visto a olho nu, de longe, na banca e, ainda assim, os espaços em branco tenham equilíbrio? Qual informação é destaque aqui? Há hierarquia entre o que se tem a dizer?

São muitos fatores a se considerar, e o Estado de Minas, nessa edição, achou o ponto de equilíbrio. Arriscou pesar no conteúdo, se aventurou ao estampar sua capa de lama, mas soube servir ao leitor quando escolheu por uma página limpa, horizontal, organizada. E crítica.

Além disso, a redação não se furtou do olhar apurado e coeso: diferentes assuntos se encontram num ponto em comum só por buscarem, pelo menos algumas vezes, representar quem os lê.

Não vou dizer que não há controvérsia: teve quem não gostasse. Os comentários negativos apareceram – a capa é simplista, feita para analfabetos políticos, sumária.

Sim, ela é sumária. A crítica precisa, sem dúvidas, ser desenvolvida. Mas é só uma capa.


publicado em 26 de Novembro de 2015, 18:00
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Marcela Campos

Tão encantada com as possibilidades da vida que tem um pézinho aqui e outro acolá – é professora de crianças e adolescentes, mas formada em Jornalismo pela USP. Nunca tem preguiça de bater um papo bom.


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