Carsharing: ninguém precisa ter um carro, mas pode precisar usar um

Ter um carro é o sonho de qualquer um ao completar 18 anos, certo? Você deve ter concordado se nasceu antes dos anos 80, mas se veio ao mundo depois, é provável que não.

Já virou tendência na geração millenials a opção por não comprar uma tonelada de metal contorcido para se deslocar por aí, especialmente nas cidades maiores onde o trânsito caótico desanima qualquer gearhead.

"Pai, eu não quero isso de presente de aniversário não. Me dá um hiPhone que tá bom mesmo"
"Pai, eu não quero isso de presente de aniversário não. Me dá um hiPhone que tá bom mesmo"

Sinal dos tempos

O símbolo máximo de status e independência da maioridade perderam espaço para o preço do combustível, do próprio automóvel e dos impactos ambientais. Ajuda também a facilidade de ter um pai ou mãe sempre disponível para transportar o filhão que se preocupa mais com celular e redes sociais do que com cilindros e torque -- o que não é mais nem menos correto, aliás.

Jovem ou não, porque no time dos sem-carro conheço muitos adultos e bem sucedidos, usar o transporte público, talvez aliado à bicicleta e um táxi quando necessário, pode resolver os problemas da grande maioria, com a vantagem de ser potencialmente mais barato e inquestionavelmente menos poluente.

O que nem sempre resolve

Mas...


  • Os ônibus e metrôs não são confortáveis e seguros como deveriam -- tampouco são gratuitos;

  • A bicicleta não o protege da chuva, exige condicionamento físico e faz você chegar suado ao destino;

  • O táxi costuma ser caro, tira a privacidade (especialmente para casais ou famílias) e transportar volumes é um problema em qualquer dessas opções, incluindo levar o melhor amigo pro veterinário, por exemplo.

Então ter um carro só em determinados dias ou mesmo por algumas horas pode ser necessário, seja em situações como essas ou para não ter um segundo carro em casa (não costuma valer a pena se for rodar menos de 17Km/dia), para fugir do rodízio, não ficar na mão enquanto o seu opalão 6 caneco está na oficina, sair à noite sem ter veículo próprio, ou sei lá, pra fazer compras no supermercado, levar a mesa de sinuca pro churrasco na casa do amigo e infinitas outras possibilidades.

Carro particular vs Táxi (Imagem: Folha de S. Paulo)
Carro particular vs Táxi (Imagem: Folha de S. Paulo)

O jeito é alugar e, meu amigo, se você já passou por isso sabe que além da diária não ser das menores, geralmente começando em uns R$ 80 para o modelo mais pelado do universo, daqueles em que até o volante deve ser opcional, tem também toda a papelada pra preencher, precisa deixar um cheque ou bloqueio de valor no cartão de crédito como garantia, só funciona em horário comercial...

Existir, existe, mas eu já usei e sei que vou evitar ao máximo.

O tal carsharing

A palavra da moda é carsharing, um sistema mais moderninho de aluguel. A ideia não é exatamente nova, mas só chegou ao Brasil há cerca de quatro anos, por enquanto apenas em São Paulo (capital).

Diferente do aluguel convencional, o sistema é completamente self-service, e você pode alugar um carro por uma ou algumas horas, inclusive de madrugada, ou seja, saiu da balada às 3 da manhã e quer um carro? Ir pro motel de táxi é chato, eu te entendo.

Entra no site pelo celular, faz a reserva, busca o carro e devolve na hora que escolher.

Também não tem papelada nem caução, o combustível é por conta da empresa (mas você paga o km rodado) e os carros estão disponíveis em dezenas de pontos pela cidade (chamados PODs), 24h por dia, guardados com segurança em estacionamentos.

Experiência de uso

Resolvi testar a única opção disponível no momento, a Zazcar, e é tudo mesmo bastante simples. Depois de me cadastrar pelo site, enviei uma foto do CPF e logo fui autorizado.

Analisando os carros (60 veículos ao todo, que vão do Novo Uno ao VW Jetta) e onde estão localizados (45 PODs espalhados basicamente no centro expandido de São Paulo, mas com previsão de ampliar para a Grande SP e outras capitais do país, começando pelo Rio de Janeiro), optei pelo Smart, até pela na curiosidade de dirigir aquele carro tão pequeno, mas isso é assunto pra outro artigo.

Faça a matemática acontecer
Faça a matemática acontecer

Ele estava disponível no horário que eu precisava -- pacote overnight, das 18h às 8h do dia seguinte -- e num POD próximo de onde estaria. Retirei meu “Zazcard” (um cartão de tamanho padrão) na sede da empresa (há a opção de receber por correio) e, no horário marcado, fui ao estacionamento buscar o carro. Sem falar com ninguém, encontrei o carro e encostando o cartão no canto superior-esquerdo do para-brisas as portas abriram automaticamente. A chave fica no porta-luvas e antes de poder ligar o veículo, é preciso responder em um computador de bordo se há avarias e se o carro está limpo.

Pronto, carro liberado, pude sair pra curtir a noite paulistana, mêo.

No dia seguinte, no horário definido, voltei ao estacionamento, coloquei o carro no lugar (a vaga fica guardada por um cone verde/branco com a logo da empresa), passei o cartão de novo no sensor e ele se trancou. Assunto encerrado e pagamento lançado no meu cartão de crédito.

Tem seus poréns

Apesar de tantos pontos de retirada de veículos, eles precisam ser devolvidos no mesmo lugar de onde saíram, então não pense em pegar o carro num canto da cidade e entregar noutro. Esse sistema de mão única, que me parece ideal e leva o nome “one way” -- bem criativo heim! -- já existe nos EUA e países europeus. Mas, no Brasil, apenas algumas locadoras tradicionais oferecem (e por uma taxa adicional).

Então, por exigir maior quantidade de carros e pontos pela cidade, não veremos isso aqui tão logo.

Também há a restrição de ser apenas na cidade de São Paulo por enquanto, o que impede mais ainda o uso em viagens, mas a ideia é ser uma solução de mobilidade urbana, servindo para resolver situações pontuais de pessoas que já tenham uma forma definida para trabalhar via transporte público ou individual, como bicicleta.

Outro ponto relevante é a inexistência de híbridos ou elétricos na frota, o que é compreensível dados os preços desses carros em terras tupiniquins. Apesar disso, abastecer sempre com etanol (lembrando que o cliente não paga o combustível) já é um bom passo para reduzir a pegada ecológica.

Caro
Caro

Uma opção extra

Com essa opção a mais, a ideia de não ter o próprio veículo acaba se mostrando cada vez mais viável, tanto financeiramente quanto ao eliminar situações em que ele realmente faria falta.

Você já faz parte desse grupo que não liga pra carros ou consegue analisar a possibilidade de ficar sem?

Faça as contas, mensure as opções. Seu bolso e sua qualidade de vida podem agradecer.


publicado em 06 de Maio de 2013, 10:00
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Juan Lourenço

Criador do eco4planet para ajudar o planeta e do 2Centavos para descarregar a vontade de escrever sobre coisas, lugares e pessoas. É administrador, desenvolvedor, cinéfilo, gamer e boa companhia. Diz ele.


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