Casamento é negócio. Amor é supérfluo

A concepção de casamento por amor é algo que só surgiu no final do século XIX. Antes disso, matrimônios nada mais eram do que grandes ou pequenas negociações, momento em que pais trocavam seus filhos em busca de uma vida melhor, para si ou para os rebentos. As filhas eram educadas toda a vida para serem boas esposas, para fazerem jus à transação. Todo o processo de namoro e noivado envolvia dotes, promessas, fusões. Hoje não é mais assim.

Ou é?

Escola chinesa para "garotas de ouro"

Dá pra seguir carreira no ramo de "esposa dedicada e mimada pelo merido" na China. É o que propõe o Centro de Pequim de Educação Moral para as Mulheres. Essa escola tem como meta ensinar mulheres solteiras a arte de conseguir um bom casamento com um homem rico. Lá, os professores ensinam como falar com uma voz suave, atraente e sexy, como fazer a maquiagem perfeita, como fazer, de forma correta, o tradicional derramamento de chá. Tudo isso para conseguir fisgar um ricaço disposto a dar do bom e, claro, do melhor.

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É uma ia de duas mãos. Na China, as mulheres encontram dificuldades em encontrar um homem rico. No caminho oposto, parece estar mais difícil, para os homens, encontrar a mulher "adequada" para se ter como esposa. Somada a beleza, a margem cai mais ainda.

Na escola, paga-se pouco mais de U$ 3000 para ter de 10 a 30 aulas de "como abocanhar um marido rico" (deixem o trocadilho de lado, meu deus). Só no primeiro ano (o Centro abriu suas portas em 2o10), mais de 3000 alunas foram escritas no curso.

Para facilitar e fazer os estudos darem resultados, o Centro de Pequim de Educação Moral para as Mulheres oferece a ricos homens solitários visitarem o local para verificarem se há mulheres "nos padrões" para serem suas futuras esposas. A competente e/ou felizarda ganha um casamento, uma vida de madame e, se tudo correr bem, a herança do maridão.

Será que dá certo?

Um misterioso bilionário chinês está crente que sim. Para encontrar a esposa ideal, o abastado gastou quase U$800 000 com uma empresa de matchmaking (que organiza encontros para juntar casais "perfeitos") que selecionou, em 10 cidades chinesas, 320 garotas que seriam, a princípio, seu par ideal. No total, se candidataram 2800 meninas chinesas.

No pedido do bilionário, sua princesa deve estar entre os 20 e 26 anos, pesar cerca de 50kg, pode ser inferior a 1,62m, mas não mais alta que 1,70m. Ela deve ter ensino superior, ser de boa aparência, ter uma figura agradável e, mais importante, ela deve ter um corpo puro.

Sim. A escolhida deve, acima de tudo, ser virgem.

As meninas foram cuidadosamente selecionados por funcionários da empresa de matchmaking e, para melhorar as chances, essa ainda "tercerizou" o trabalho na forma de um prêmio de "talentos". Quem, por aí, achar que conhece a garota perfeita para o chinês misterioso, pode fazer a recomendação que, se aceita, já renderá ao "olheiro" uma comissão de cerca de U$7000. Se a menina for a escolhida, quem indicou receberá um apartamento de quase U$500 000.

Mas nem tudo são névoas. O homem que fez tudo isso revelou um pouco de si, para que as candidatas pudessem saber qual é o tipo que pode vir a se tornar seu marido: ele tem menos de 50 anos de idade, é um empresário bem conhecido, gosta de golfe, tem um corpo forte e saudável.

Candidatas chinesas, preenchendo "casta" na ficha

E o amor, fica onde?

Provavelmente na América Latina. Dos gringos que se hospedam no meu hostel, a maioria reclama, em papos sobre mulheres, de como as europeias e americanas são frias no amor, de como elas veem a carreira muito a frente do amor. Quando falamos das garotas brasileiras, além da beleza, chovem elogios à paixão das nossas pequenas, da maravilhosa entrega que, ao que me contam esses gringos, só elas possuem.

Se o casamento por interesse parecia ser algo medieval, hoje a união pelo amor parece a coisa mais demodê que se possa imaginar.

O futuro? Esperar o primeiro Centro de Pequim de Educação Moral para as Homens, para garotos que veem, em mulheres bem sucedidas, a oportunidade perfeita de passar o resto dos dias à beira da piscina, pensando se pede mais um coquetel pra criada gostosa ou se chama a massagista tailandesa pra tirar o stress.


publicado em 05 de Junho de 2012, 11:43
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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna Do Amor. Tem dois livros publicados, o livro Do Amor e o Ela Prefere as Uvas Verdes, além de escrever histórias de verdade no Cartas de Amor, em que ele escreve um conto exclusivo pra você.


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