Cerveja: encher a cara ou beber por prazer?

Uma questão que daria um bom livro, com todos os pontos que merecem ser destacado e citados. O "beber cerveja" é algo complexo e simples ao mesmo tempo.

Você pode entrar num posto de conveniência e comprar uma cerveja por R$2 e beber em menos de 5 minutos ou então você pode comprar sua cerveja do estilo Rauchbier, custando por volta de R$20, R$30, e degustá-la, harmonizá-la com uma bela carne de porco salgada.

Do céu ao inferno...

Não adianta, você encontra uma cerveja por menos de R$1 (a Guitts, por exemplo), mas você pode encontrar uma Deus, do estilo Champenoise, que custa por volta de R$200. A pergunta que fica: onde é o céu e onde é o inferno? Cerveja não é tudo igual depois da quinta latinha? Por que que eu vou gastar mais de R$5 numa cerveja se eu quero ficar bêbado?

Chegamos no ponto chave. Eu lhe pergunto, você quer encher a cara, ficar bêbado até cair ou quer saborear uma cerveja? No sexo, você quer só meter a rola, gozar e cair fora ou vai querer chupar aquela mulher sensacional toda, fazer mil posições, saciá-la de modo que vocês nunca mais esqueçam?

Crédito: Edu Passarelli | Degustação de cerveja: beber assim exige uma postura mais calma comparada à ansiedade do consumo exagerado

Sexo e cerveja, beber e transar

“Não tem nada a ver uma coisa com a outra”. Será? Tudo depende do modo como tratamos as coisas, como nós as consideramos. Vamos pegar o exemplo do sexo. Você chega num puteiro, arruma uma garota de programa toda gostosa, come ela toda e vaza pra casa. Acabou, tudo ok, fechou. Ela fez aquele oral absurdo, o deixou bem satisfeito.

Aí chega um camarada seu e fala:

"Porra, tu gastou R$300 numa mulher? Podendo comer várias aqui fora de graça? Maluco."

Realmente, ele está certo, você poderia pegar seu telefone e ligar para uma das gostosas que você tem contato e pronto, conseguiu. Se for na tua casa, melhor ainda, "digrátis".

Agora eu pergunto: por que você não pode sair um pouco da rotina e comer uma mulher maravilhosa, mesmo pagando tão caro? Mas tudo bem, vamos esquecer as prostitutas, vamos falar de uma peguete sua. Por que você vai comê-la sempre na mesma posição, no mesmo local, da mesma forma? Por que você não a leva num puta motel, sai da rotina, ou então fode no elevador, dentro do túnel, num táxi, em cima da árvore, que seja.

"E o que a cerveja tem a ver com o sexo, porra?"

A porra não tem nada a ver mesmo, mas pense nessa relação entre você e a mulher, agora pense entre você e a cerveja. Você tem uma loira quente que lhe dá bastante, mas você pode ter uma puta loira gelada, que vai lhe deixar muito satisfeito também.

Crédito: Ken Barton | Você realmente vai querer ficar bêbado?

Mulheres e cervejas* são complexas, isso é certo. Você consegue "degustá-las" de diferentes formas, todas tem um sabor único, que a cada dia, a cada experiência, podem ser diferente. Pode ter certeza que num momento que ela estiver muito satisfeita, os dois inspirados, vai rolar um puta sexo fenomenal, assim como você degustar uma cerveja do estilo Biere de Garde, com um belo prato de pernil de cordeiro, vai ser uma experiência única, bem diferente de uma Skol com frango à passarinho.

*Nota do editor: Estamos bem atentos aos problemas dessa comparação, especialmente em nossa cultura machista, mas o Dulcetti não encontrou outra imagem para esse argumento. E eu garanto que ele tem uma boa motivação.

A cerveja precisa ser compreendida

Não adianta querermos crucificar a Kaiser ou a Nova Schin por serem piores que a Original ou a Bohemia. Cada cerveja é boa naquilo que se propõe a ser. Devemos perseguir o melhor da cerveja, para termos o senso crítico e não bombardeá-las por causa de seus defeitos, senão nunca teremos boas cervejas e sim cervejas menos piores.

Cervejas de baixo custo são cervejas para serem bebidas em, digamos, larga escala. Nunca que vamos comprar várias Hoegaarden, Baden Baden pra um churrasco, pois são caras, portanto investimos nas mais baratas, como Itaipava, Skol, Brahma, Antarctica e afins. Afinal, nego quer é comemorar, encher a cara, certo?

O estilo de cerveja tem que ser o certo, no momento certo

É exatamente isso. Primeiro você tem de se perguntar "O que eu quero fazer hoje?". Vai me dizer que vocês nunca pararam e falaram consigo mesmo "Porra, hoje eu vou encher a cara e foda-se"? Pronto, já temos um objetivo, o que você realmente quer, encher a cara e foda-se. Traduza o "foda-se" para algo do estilo privada como travesseiro ou chão todo vomitado, ou nem tanto assim, mas algo perto disso.

É um churrasco entre amigos? Você quer falar merda, comer aquela picanha sagaz e rir com os amigos? Beba a que está lá e foda-se, o que importa é você estar bem, feliz, se sentindo bem no que está fazendo.

Assim como uma formatura ou casamento. Pode não ter um Blue Label no casamento, pode não ter uma Deus, mas quem se importa, a cerveja é Skol e o whisky que tem é Red Label, vamos encher a cara junto com os noivos e aproveitar esse momento deles porque eles merecem.

"Encher a cara é muito melhor, muito mais divertido"

Crédito: Kati Giblin | Beber e mamar: às vezes os homens realmente viram bebês em busca de colo

Será? Isso vai da evolução de todos. Há quem beba a cerveja, mas nem goste de beber, só bebe porque é barato mesmo e fica bêbado. É o clássico adolescente, que tem que arrumar uma forma de ficar bêbado pra chegar em todo mundo no carnaval e pegar o máximo de mulheres que conseguir. Mas na hora de almoçar, sair pra fazer um lanche, pede uma Coca-cola.

Há quem ache a cerveja amarga, e por isso foge. Mas como diria Cilene Saorin, Mestre Cerveira:

"O amargor, muito pelo contrário, não é uma característica sensorial a ser evitada. O ideal é quando esta instintiva rejeição ao amargor se deixa substituir pelo prazer. É o sinal de amadurecimento do paladar."

Amadurecimento, o ponto chave

Muitos bons papo que tive foi bebendo uma boa cerveja. Cerveja cara e artesanal não é sinônimo de frescura ou luxo. É apenas uma experiência nova, dentro de um mundo que você já conhece, seja bem ou mal, que é a cerveja, é quando você deseja se aprofundar nesse mundo complexo e não somente beber e foda-se.

É como o sexo, pois se fosse só por gozar eu tocaria uma punheta e acabou. Mas não, quero explorar cada parte do corpo daquela mulher, ver onde ela mais sente prazer, o que ela mais gosta e o que ela pode me dar em troca, me oferecer, tendo essa reciprocidade. A cerveja é o mesmo, ela traz uma nova experiência, novos sabores, complexos ou simples, e você também contribui com isso, amadurecendo seu paladar, para aí sim poder julgá-la da forma correta.

Um dia eu comentei com o Gus Fune que bebi uma Kaiser no voo da TAM e não achei ruim. Naquele momento ela me foi boa, não bebi com preconceitos que já vêm acoplados em cervejas de baixo custo. Bebi e fiquei agradecido por ter bebido uma cerveja e não um guaraná.

Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. E vice-versa. =)

Claro que já bebi até cair, mas falo que hoje isso se reduziu muito, mas muito mesmo. Bebo bastante em casamentos, formaturas, aniversários, carnavais... São épocas que pedem isso, não obrigatoriamente, mas te seduzem a fazer isso, porque ficar sóbrio vendo geral bêbado não é algo muito legal, portanto você entra na onda, mas eu evito ficar estragado.

A última ressaca que eu tive foi no carnaval, uma das ocasiões que pede um pouco disso de passar dos limites. Depois dessa, realmente não lembro quando tive ressaca.

Beber é uma arte. Só depende do artista e de como ele quer abordar sua arte, como quer elaborá-la.

Créditos: Fuzzirella | Uma verdadeira obra de arte leva anos para ser produzida

Cervejas artesanais vs cervejas tradicionais

Uma coisa é certa: você não consegue beber a quantidade de cervejas artesanais igual as tradicionais, que são as Standard American Lager e possuem no máximo 5% de álcool, enquanto uma Ale complexa, como uma India Pale Ale, uma Strong Ale, pode ultrapassar os 10% de álcool e com sabores marcantes e fortes, sendo bem difícil e não recomendado beber muitos copos.

As Standard American Lager nacionais são leves, um dos motivos de serem ótimas para serem bebidas na praia com a galera ou depois de um futebol, pois o corpo pede uma cerveja bem gelada.

No Sul do país esse consumo tende a ser diferente, pois o clima é mais frio e pede uma cerveja mais encorpada.

Finalizando...

Bom, fico por aqui e espero que tenham gostado. Provavelmente muitos devem criticar alguns pontos, mas são meus pontos de vista sobre o "beber cerveja" e estou aí pra saber o que vocês acham sobre eles. Aquele abraço.


publicado em 15 de Junho de 2010, 12:34
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Bruno Dulcetti

Bruno Dulcetti é apenas um modafoca que fala um monte de idiotices sobre coisas que pensa saber, para um monte de caboclos que pensam estar entendendo alguma coisa. É viciado em mulheres e cerveja, não necessariamente nesta ordem.


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