Como estar pronto para uma vida adulta

Na vida, você precisa passar por um processo árduo e insistente para se ajustar ao mundo que o cerca, enquanto vai criando uma maneira de construir bases seguras e uma vida significativa. Alguns nascem com condições externas mais favoráveis que outros e, curiosamente, nada garante um melhor ou pior desenvolvimento pessoal.

Diante da miséria e abandono, pode ser forjada uma personalidade resiliente e desenvolta, ou bloqueada e ressentida. Por outro lado, alguém que nasceu com estímulos materiais, apoio familiar e intelectual pode desenvolver leniência, tédio, soberba ou um senso de generosidade, propósito pessoal e abertura para a vida.

À medida que o tempo passa, a simplicidade passiva da infância vai se transformando, fase a fase, aumentando gradualmente de complexidade e exigindo três tarefas básicas de uma pessoa:


  • Cuidar de si mesmo;

  • Cuidar das pessoas próximas;

  • Cuidar do mundo para as próximas gerações.

O mundo exige de uma pessoa, no mínimo, uma das suas três tarefas básicas: cuidar de si mesmo.

É possível passar uma vida inteira se debatendo com questões usuais, sem causar um impacto que vá além do seu círculo pessoal e familiar, simplesmente porque está correndo atrás do próprio rabo e do mundo como ele surge aos seus olhos.

"Quero ser grande": um filme sobre ser adulto e continuar infantil
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Essas pessoas conseguem sobreviver em meio a outras porque podem ser força produtiva para a engrenagem social, mesmo seu foco não indo além de si próprias. De uma certa forma, as regras e leis os impedem de ultrapassar a linha que cruza a integridade física e social.

Entretanto, além de correr atrás de seus interesses, existem manobras mais complexas que podem compor uma vida adulta de qualidade.

A maturidade de uma pessoa pode ser medida por alguns marcadores bem específicos que denotam a existência de uma operação mais simples ou mais elaborada.

Imaturidade: o vício em olhar para o próprio umbigo

A natureza superior e sofisticada de sua mente será posta à prova quando o número de variáveis aumentar e você não puder contar com evasivas ou panos quentes.

A falta de maturidade pode ser mascarada quando você está de férias, em um primeiro encontro amoroso ou quando está diante da TV. No entanto, ela começa a se revelar quando precisa tomar uma decisão, está no trabalho ou em uma interação com a pessoa amada. A máscara fatalmente se desmontará diante de uma dívida, uma crise conjugal, uma rejeição profissional ou uma questão de vida e morte.

Uma pessoa age de uma forma quando está relaxada, de outra no seu estado usual e outra ainda quando está sob muita pressão.

A imaturidade é o descompasso entre as variáveis externas e respostas mais primárias que podem abafar um problema, sem resolvê-lo e nem transformar suas causas.

Diante de uma dívida você pode poupar dinheiro, conter seus desejos, se organizar socialmente, reduzir gastos, buscar ajuda de outras pessoas e se readequar a essa nova realidade. Ou também pode fingir que nada está acontecendo, continuar aumentando a bola de neve e compensando sua angustia com outras válvulas de escape e usar distrações como comida, games, trabalho etc.

Consumo: uma das principais válvulas de escape
Consumo: uma das principais válvulas de escape

As saídas imaturas buscam diminuição da pressão interna imediata e pouca resiliência ao enfrentar o núcleo do impasse. Você reage de forma reativa, parcial e imediatista, tentando apagar um incêndio jogando gasolina sobre ele.

De modo geral esse tipo de ação busca proteger o senso primitivo de conforto e autoestima rudimentar que se baseia em buscar ser aceito, afagado e recompensado sem fazer esforço e, menos ainda, produzir ação transformadora da realidade a sua volta.

A visão de mundo que alimenta a imaturidade é sempre pessoalista e visa atender desejos próprios enquanto finge contemplar as outras pessoas. O senso de ajuda é utilitarista, usando uma falsa empatia que nunca se coloca no lugar dos outros.

Por conta disso, o resultado é breve, perecível e aumenta o problema de longo prazo, ao mesmo tempo que sustenta uma sensação falsa de vitória, já que tudo é impactado por uma emocionalidade dramática e rasa.

Maturidade pessoal: a capacidade de equilibrar pratos

A maturidade comum já consegue olhar para múltiplos cenários e incluir os outros na hora de tomadas de decisão. O senso crítico é mais apurado, pois leva em consideração suas experiências pessoais, mas se cerca de outros elementos para ver o grande quadro.

A pessoa madura não fica esperando passivamente, está sempre movimentando recursos internos preventivamente, já que busca o equilíbrio físico, emocional, intelectual, social, financeiro e espiritual. Sua métrica de vida não é sobreviver, mas viver com um maior leque de opções e cultivar o máximo de liberdade.

Seu intelecto não é frio ou distante, mas considera as emoções como valioso recurso para análise. Seu senso de empatia é mais robusto, conseguindo sentir a realidade com os olhos da outra pessoa. Como sua noção de identidade não está pregada no aqui-agora ou em um único papel, consegue utilizar sua capacidade de abstração para imaginar cenários hipotéticos variados sem perder o foco.

"Eu abandonei a responsabilidade e abracei a frivolidade"
"Eu abandonei a responsabilidade e abracei a frivolidade"

Sua generosidade não surge de uma base carente na qual visa a reciprocidade cega, mas aspira um crescimento mútuo natural. Isso se deve ao seu senso de saciedade emocional, por isso a ideia de ansiedade tão comum às pessoas não faz muito sentido nessa fase de desenvolvimento.

A ideia de não estar no controle não é uma ameaça, afinal, as emoções como medo, raiva, culpa e tristeza são consideradas sinais de que precisa avaliar com calma o que se passa internamente, mas sem alarde ou dramatização.

A maturidade permite reagir de forma proporcional à uma situação conflitiva, sem exageros para mais ou para menos, tornando possível lidar com imparcialidade os efeitos de situações caóticas.

Nesse estágio, a pessoa consegue olhar uma oportunidade dentro do impasse ou o desafio num problema e, por isso, sabe se posicionar diante de situações imprevisíveis, oferecendo soluções que causam o menor impacto negativo na vida de outras pessoas.

Maturidade transpessoal: olhando para além do próprio cercadinho

Além de cumprir com as "obrigações" da vida cotidiana, existe uma maneira ainda mais sofisticada de operação mental que vive segundo um senso mais amplo de propósito pessoal e liberdade profunda.

O senso de identidade própria é totalmente não-convencional, pois não se fixa em alguma forma pré-determinada de estabilidade externa. Sua capacidade de desenvolver autonomia psíquica com práticas internas permite um trânsito maior por situações cotidianas sem os usais apegos e sofrimentos decorrentes.

Nesse estágio, a mente opera de maneira fluida e os sentimentos e pensamentos não tem concretude em si, são vistos como manifestações de uma percepção interna limitante. A pessoa sabe que seus filtros pessoais estão contaminados e a visão está turva. Com isso, consegue ver além do que está posto e transitar com mais facilidade em uma crise pessoal, ou seja, a manifestação de uma pessoa não se resume ao que ela aparenta, mas a uma cadeia de eventos que levaram a isso.

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Quando está enfrentando um impasse amoroso, por exemplo, consegue colocar a si mesmo dentro do conflito e não culpabilizar algo ou alguém. Ao notar que um sentimento destrutivo surgiu, o impulso imediato não é o de reagir, mas de conviver, contemplar, digerir e se deixar tocar por ele.

O sentimento de vulnerabilidade não é um problema em si. A capacidade de ter qualidade na presença pessoal faz toda diferença, pois não se trata de uma manobra racional e manipuladora e sim de uma tranquilidade treinada com frequência.

Apesar de parecer que está pouco fixada na realidade comum, essa mente vê a vida prática como um meio hábil para exercitar compaixão e sabedoria. Por isso, mantém uma curiosidade por tudo aquilo que surge ao mesmo tempo que não se perde nos fenômenos comuns. Cada oportunidade de conexão humana é uma possibilidade de multiplicar o sentimento de abundância e, por isso, consegue manter uma vida simples e focada no que é essencial.

Estar pronto para a vida adulta, portanto, pode ser meramente uma manobra de sobrevivência, uma maneira de resolver questões práticas ou um caminho para enriquecer a vida que nos cerca.

Para cada jeito de encarar o mundo você precisará se dispor a aprender, treinar sua mente e personalidade e forjar uma "matéria" de natureza diferenciada para questões que vão além de sua vida pessoal.

O desafio está posto e cabe a cada um olhar com carinho para que tipo de mente quer desenvolver.

Mecenas: Nivea Men

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Todos os dias, ao acordarem, homens fazem o que precisa ser feito. A insatisfação existe, é verdade, mas  aprendemos, trabalhamos, caímos e nos levantamos. Suamos a camisa, em contínuo aperfeiçoamento.

Neste canal especial do PapodeHomem, teremos diálogos e debates sobre diversas questões do homem. A conversa também acontece no Facebook oficial de Nivea Men, eles tem dito coisas bem interessantes por lá.


publicado em 22 de Abril de 2014, 08:00
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Frederico Mattos

Sonhador, psicólogo provocador, é autor do Sobre a vida e dos livros Relacionamento para Leigos" e "Como se libertar do ex". Adora contar e ouvir histórias de vida no instagram @fredmattos. Nas demais horas cultiva a felicidade, é pai de Nina e oferece treinamentos online em Fredflix.


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