Deadpool e a difícil missão de fazer rir

Filme de ação e comédia da Marvel dirigido por Tim Miller com Ryan Reynolds, Morena Baccarin e Ed Skrein

Esse não é meu filme favorito do ano, mas não ousaria dizer que ir no cinema para assisti-lo foi uma perda de tempo ou dinheiro mal investido.

Essa é a melhor definição que posso fazer sobre Deadpool. O filme do anti-herói da Marvel que demorou dez anos pra sair do papel.

Ele não é uma obra de arte (mas também nunca se propôs a ser). Tampouco é desperdício. Ele fica num meio termo, e por isso escrever sobre ele se torna tão difícil.

Você pode ver o lado positivo das coisas. Falar que a plateia inteira da sua sessão riu. Que o filme se propõe a ser exatamente o que é. Que a atuação do Ryan Reynolds é uma tremenda redenção. E que o filme não exagera e nem fica devendo em relação às cenas de ação. É bem verdade.

Ou você pode dizer que o roteiro é previsível. Que toda a promoção do filme entregou mais do que deveria sobre a história. Que boa parte das piadas foram forçadas, talvez didáticas demais e para alguns até preconceituosas. Que o romance do meio pro final da história é uma muleta do diretor. E tudo isso também é verdade.

Por essas e outras que gostar ou não de Deadpool é uma questão de perspectiva.

A partir de agora eu vou contar a minha. Sinta-se a vontade para contar a sua ali nos comentários.

Se você me conhecesse, saberia que eu não sou a pessoa mais bem-humorada do mundo (você vai reparar isso durante esse texto) e por isso um filme de comédia precisa ser cirúrgico para me agradar. Deadpool não chegou lá.

O roteiro enfia uma piada atrás da outra goela abaixo numa tentativa evidente de emendar aquela sequência implacável e fazer você não parar mais de rir. Uma tentativa honesta, devo dizer, mas talvez um pouco mal executada. Dessa forma, se você não embarca na primeira, fica difícil se divertir com o resto.

No meu caso, eu ri de verdade umas cinco ou seis vezes durante a sessão. Pouco para um filme de comédia, ainda que notadamente acima da minha média. Confesso.

Agora, tem algo particular que me deixa um pé atrás com o filme e se trata de um pressuposto no qual a história inteira se baseia: a quebra da quarta parede. Isso influenciou demais a minha experiência.

Eu não gosto de um personagem narrador. Pra mim, colocar alguém pra contar a história é, na maioria das vezes, simplesmente escolher a opção mais fácil. Ainda que exista quem saiba fazer isso com maestria, esse não me pareceu o caso. O que rola em A Grande Aposta, por exemplo, é perfeitamente aceitável. O que rola em Deadpool é um pouco demais, mesmo para um "super-herói" que nos quadrinhos tem o poder de sair da narrativa, se vingar de seus criadores, etc.

Se você ainda não assistiu ao filme: não é como se ele fosse falar com você na introdução pra depois esquecer de ti e retomar só lá no finalzinho (ou depois dos créditos) pra te arrancar boas risadas. Ele fica ali conversando contigo durante duas horas, até você se dar conta disso e ficar irritado pela quantidade de vezes que o diretor usa esse recurso.

Mas calma lá, nem tudo são pedras no rim.

O filme tem alguns diálogos fodas. A ironia e o sarcasmo com o qual o protagonista interage com os demais personagens é algo que vai confortar a tua mente, ainda que não te faça rir. O modo como ele conhece a namorada, a forma como ele trata o amigo de bar e, claro, o jeito como ele reage ao vilão vão fazer você acabar gostando do cara. Ele se torna capaz de gerar empatia conforme você reconhece ele como um cara mundano.

Além disso, a cena de abertura merece seu destaque. O longa não espera você esquentar o lugar e já te enfia no meio de um engavetamento com tiroteio em cima da ponte. Tem assassinato, piada, luta, piada, e você vai entendendo do que se trata aquele “herói” enquanto lá vem outra sequência de piadas.

Em geral o filme tem um monte de peito, bunda, piada com sexo e aquela vergoinha alheia desconfortante de quem não acredita que ele foi capaz de fazer/falar isso, mas também tem personagens maneiros – meus favoritos: o amigo de bar e a senhorinha cega.

Só que a melhor notícia de Deadpool – o filme que seu filho adolescente vai adorar e repetir as piadas pelos próximos dois meses – é que a Marvel conseguiu recuperar um super-herói desacreditado e poderá incluir um tempero bem humorado nos demais filmes da franquia. Afinal, a sensação que fica é essa: Deadpool não foi tão bem explorado a ponto de justificar o seu protagonismo (apesar de confirmada sua continuação), mas com certeza será um belo coadjuvante em outras produções daqui pra frente.

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publicado em 25 de Fevereiro de 2016, 19:20
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Breno França

Editor do PapodeHomem, é formado em jornalismo pela ECA-USP onde administrou a Jornalismo Júnior, organizou campeonatos da ECAtlética e presidiu o JUCA. Siga ele no Facebook e comente Brenão.


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