Descer uma montanha do Japão em uma tora de dez toneladas: Conheça na série Archaic Festivals

A Onbashira acontece a cada seis anos, com 16 troncos de grandes árvores simbolizando deuses xintoístas descendo a montanha com centenas de pessoas em cima

Uma festa que já tem mil e duzentos anos em Suwa, bem no centro do Japão.

A Onbashira acontece só a cada seis anos, 16 troncos de grandes árvores, simbolizando deuses xintoístas, são trazidos das florestas e colocados ao lado dos templos para proteção. Esses corpos de dez toneladas são carregados à mão com a cooperação de milhares de pessoas por uma distância de dez quilômetros para, logo depois, haver a seleção de quem vai descer morro abaixo na montanha de Kiotoshi Hill (que significa "árvore caindo"). 

 

Trata-se de uma festa religiosa dedicada ao Xintoísmo, espiritualidade tradicional japonesa que considera as forças da natureza e dos ancestrais em suas vidas. "Muitos homens sem medo dão suas vidas. Um preço que a população de Suwa estão dispostos a pagar para servir aos deuses".

Primeiro, o Yamadashi, ou "saindo das montanhas", o momento de escolha, corte e decoração das dezesseis árvores que irão para o chão com o trabalho de machados e pequenas enchadas, para depois receberem ornamentos de cordas e panos em vermelho e branco. Um mês depois, durante o Satobiki, eles devem colocar as toras nos quatro cantos dos quatro templos em Suwa. Usando as cordas grossas, eles precisam puxar os troncos de 16 metros para a posição vertical, com homens jovens sentados sobre eles.

É uma grande honra ser escolhido para arriscar a vida em nome dos deuses e montar nas madeiras durante o festival. A fala é de uma singularidade sem igual quando perguntado a um deles se não tem medo:

"Não é sobre medo. É sobre não incomodar as outras pessoas. Quando você se machuca, dói. Mas é responsabilidade sua. Atrapalhar as outras pessoas com suas feridas pode machucar a alegria do festival. Meus amigos não podem se machucar, temos que manter mulheres e crianças seguras durante a descida. Você faz de tudo para protegê-los".

Dúzias de pessoas perderam suas vidas em todos esses anos de festival, esmagadas elos troncos na descida, nocauteadas pelo ricocheteio das pesadas cordas ou na queda contra o solo da montanha. 

 

 

Precisão, trabalho em equipe, respeito ao que está sendo feito. Um ritual milenar que traduz muito bem o que permeia toda a sociedade japonesa.

Do Archaic Festivals, já publicamos o primeiro episódio, o Um rugby com 7000 homens e "Cascamorras", um homem contra dez mil. Nas próximas semanas, daremos sequência na série.

* * *

Obs.: Este texto foi produzido do outro lado do mundo, no Japão! Estou em viagem na terra do sol nascente e escreverei daqui pelos próximos dias, com a ajuda da Seta Viagens, que me botou aqui. Acompanhem meus próximos artigos lá na minha página de autor.


publicado em 04 de Maio de 2017, 00:00
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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna Do Amor. Tem dois livros publicados, o livro Do Amor e o Ela Prefere as Uvas Verdes, além de escrever histórias de verdade no Cartas de Amor, em que ele escreve um conto exclusivo pra você.


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