Dia das Mulheres: como ser um apoiador da luta por equidade?

Separamos alguns caminhos que podem servir para homens que desejam ser apoiadores da luta pela equidade de gênero.

Entre os homens é comum uma noção de que o Dia Internacional das Mulheres é um dia pra celebrar a feminilidade, uma data na qual os homens dão flores, chocolate, rosas e outros presentes.

No entanto, a data tem uma carga política muito importante. O dia 8 de março foi escolhido como o Dia Internacional das Mulheres para relembrar os protestos de mulheres no começo do século XX que reivindicavam seu direito ao voto, melhores condições de vida e de trabalho. Especialmente para os homens, é uma data para reflexão.

Aqui nós separamos alguns caminhos que podem servir para homens que desejam ser apoiadores da luta pela equidade de gênero, com recomendações que vêm fazendo sentido no trabalho do PapodeHomem pelo Brasil, oferecendo cursos para empresas e pessoas de diferentes perfis.

Aprenda a ouvir e a dialogar com opiniões divergentes

Para se criar conexão, o passo zero é a escuta.

É necessário que se esteja em uma posição de abertura para aprender a ouvir verdades desagradáveis e até para se perceber um tanto vilão. Porém, esse diálogo pode resultar em uma transformação enorme, com chances de criar melhores relacionamentos em todas as direções.

Temos um ebook inteiro, feito em parceria com o Instituto Avon, só sobre isso, o Derrubando Muros e Construindo Pontes. Lá você vai encontrar uma série de dicas práticas para aprender a estabelecer contatos menos agressivos, quando confrontado em suas opiniões.

Nosso ebook só sobre ter conversas com quem pensa diferente. Só clicar e baixar.

Recomendo também, que se aprofunde na Comunicação Não-Violenta, como um meio hábil para criar formas menos agressivas de se expressar.

Aprenda o que realmente significa equidade de gênero

O termo está sempre em pauta, mas vemos bastante confusão. A verdade é que muita gente, apesar de ouvir falar e até ter opiniões fortes a respeito, não sabe bem o que significa “equidade de gênero”.

“Feminismo” e “machismo” também são termos que geram reações acaloradas entre muitos homens, mas que podem ser menos aterrorizantes, uma vez que sejam melhor entendidos.

Então, aqui fica a recomendação. Procure entender se você realmente sabe o que significa “equidade de gênero” (e outros ao redor) e tente se aprofundar um pouco mais, pra além de quaisquer pré-concepções que possam estar por aí. Talvez você se surpreenda.

Pra adiantar, a imagem abaixo já explica muito bem:

Ou seja, de modo resumidíssimo, o termo não é o mesmo que igualdade. Na equidade, cria-se condições justas contemplando as diferenças de raça, religião, classe social, idade, gênero, etc.

Deixo também dois links pra aprofundar:

Informe-se sobre as reivindicações das mulheres

Procurando uma recomendação de leitura pra começar?

Uma vez que entendemos o básico, um oceano de nuances começam a surgir. E, como tudo, a luta pela equidade de gênero não é preto no branco. Há muitas lutas, correntes de pensamento, formas de agir e de se manifestar e que não necessariamente são harmoniosas entre si.

Muitos homens não conseguem entender muito bem quais são ou do que se tratam essas lutas, como a reivindicação de mais presença e poder político, melhores salários, melhores posições no mercado de trabalho, fim do assédio, fim da violência doméstica, fim da cultura do estupro, liberdade de expressão, legalização do aborto, etc.

É importante entender como tudo se entrelaça e quais são essas reivindicações para poder enxergar um pouco as coisas além do seu próprio lugar como homem.

Para saber mais, pode começar por aqui ou ler o livro “Gênero: uma perspectiva global”, de Raewyn Connell e Rebecca Pearse.

Quebre o seu silêncio emocional

Um dos padrões da masculinidade tradicional é a figura do homem taciturno, de semblante misterioso. Inabalável.

Essa imagem acaba extrapolando as telas do cinema e as páginas dos livros e se torna um ideal que muitos homens tentam perseguir. Mas, ao invés da beleza poética de um herói durão, o que fica são marcas profundas ocasionadas por um oceano de emoções reprimidas.

Em 2016 lançamos o nosso primeiro documentário com pesquisa, que escutou mais de 20.000 pessoas. Ele nos mostrou que 7 em cada 10 homens não falam sobre seus maiores medos e dúvidas com os amigos.

Um caminho para que isso não acabe atingindo mulheres ao seu redor em forma de ações e falas violentas, é começar a se abrir.

Nosso documentário, "O Silêncio dos Homens", aprofunda esse tema. 

Link Youtube

Pode ser que você não consiga o ambiente favorável pra isso em seu círculo mais próximo de amigos e parentes. Por isso, temos os dois próximos pontos.

Faça terapia

Busque ajuda profissional para que as questões que doem em você não comecem a causar também prejuízo pras mulheres ao seu redor.

A terapia oferece algo que é raro de se encontrar no cotidiano: um espaço sem julgamentos, com o suporte de um profissional preparado pra orientar a encontrar o seu caminho sobre o que o aflige.

Lá você pode, literalmente, falar sobre tudo. Das questões mais íntimas, dos medos que carrega da infância, dos traumas que considera bobos demais pra contar pros amigos, até do próprio receio de ser percebido como ridículo em suas interações. Você pode chorar, deixar sair, enfim, soltar o peso.

Com o tempo e a paciência que o processo pede, você pode fazer avanços e melhorar a sua vida como nunca imaginou.

Ali dentro não é aconselhamento, nem dica de amigo. É ajuda profissional para que as questões que doem em você não comecem a causar também prejuízo pras pessoas, principalmente mulheres, ao seu redor.

Aqui temos dois artigos que podem ajudar:

Encontre um grupo de homens (ou forme um)

Uma das turmas de equilíbrio emocional conduzidas por Guilherme Valadares

Para além das mesas de bar, como os homens podem se reunir de maneiras construtivas? Como podem começar a falar sobre aquilo que importa?

Guilherme Valadares, fundador do PdH, vem viajando o Brasil, conduzindo dinâmicas com grupos de homens em empresas e sempre narra o quão potentes são esses encontros.

São homens de diferentes raças, idades, classes sociais, religiões, etc, que se reúnem para abrir suas questões mais profundas e, também, para encontrar pessoas que entendam suas vivências.

Aqui temos um mapeamento com 129 grupos e iniciativas que trabalham com a transformação das masculinidades.

Aqui temos um guia sobre como montar um grupo, caso você não encontre ninguém na sua cidade.

E aqui temos um artigo sobre como articular um grupo de acolhimento no WhatsApp.

Aprofunde-se e converse com outros homens sobre temas da luta pela equidade de gênero

Por mais que doa admitir, homens escutam outros homens. Então, que esse privilégio possa ser usado para ajudar na luta pela equidade de gênero.

Quando fizer sentido, aproveite a oportunidade para tocar em assuntos sensíveis de maneira hábil.

Claro que é muito complicado conseguir a brecha para ter essa conversa sem que as defesas sejam erguidas ou que se torne uma troca de farpas.

Mas, quem sabe, você pode puxar uma roda de conversa sobre um tema como a violência contra as mulheres, em um ambiente mais protegido. Você pode aprofundar em questões importantes, como a da livre expressão da sexualidade da mulher, estupro, sobre o aborto ou pela ocupação de espaços na política, no trabalho, nas artes e em posições de liderança pelo mundo.

Não é fácil, mas ninguém disse que seria.

Pra facilitar, nosso guia "Como Falar com Homens Sobre Violência Contra As Mulheres" lista obstáculos, contém dicas práticas sobre como falar com homens autores e não-autores de violência e o que fazer caso você precise auxiliar uma vítima. Além disso, conta também com um mapeamento nacional com mais de 50 grupos reflexivos para homens autores de violência, realizado em parceria com o professor e pesquisador Adriano Beiras, da UFSC.

Caso você ache esses temas muito difíceis de serem tratados em um primeiro momento, uma forma de começar a conectar homens - e fazer jus à noção de eqüidade, que fala em equilíbrio para todos - bastante utilizada nas dinâmicas oferecidas pelo Guilherme Valadares, é trazer à frente os números que mostram os impactos do machismo sobre os próprios homens.

Por exemplo, na faixa de 15 a 30 anos, pra cada 100 mulheres que morrem, morrem 396 homens (IBGE). Homens são 95% da população prisional. Vivem 7 anos a menos. Suicidam quase 4 vezes mais no Brasil. A licença paternidade ainda é de apenas 5 dias em inúmeras empresas.

Você pode saber um pouco mais assistindo ao vídeo da palestra do Guilherme no TEDx.

Link Youtube

Contrate e/ou promova mulheres (e pague o mesmo que paga aos homens na função)

Segundo pesquisa feita pelo Linkedin, mulheres têm 13% menos chances de serem selecionadas por recrutadores

Um estudo feito pelo IBGE mostra que mulheres ganham menos em todas as ocupações. Em média, recebem apenas 79,5% do que os homens ganham.

Caso você esteja em uma posição de poder dentro do seu trabalho, essa é uma forma concreta de se tornar um aliado.

Contrate mulheres. 

Melhor ainda se for para cargos de gestão, onde elas estão ainda menos presentes.

E, ao contratá-las, garanta que elas recebam o mesmo que um homem receberia na função. 

Neste artigo você pode ver mais ações que a sua empresa pode adotar para ser uma empresa apoiadora da luta pela equidade de gênero.

* * *

Certamente há muitos meios para que você possa se tornar um apoiador da luta pela equidade de gênero. Aqui temos apenas algumas possibilidades, pequenos passos que podem ser tomados agora. 

Porém, o caminho para termos uma sociedade mais igualitária é longo e vai bem além. Inclui nossa transformação pessoal, mas também como votamos, como falamos, como nos portamos, o que assistimos, ouvimos, lemos e até o que comemos.

O início da caminhada inclui a tomada de consciência. Quem sabe assim, homens possam chegar mais perto de problemas dos quais fazem parte e podem ser agentes transformadores.

E vocês, como começaram seus percursos como apoiadores da luta pela equidade de gênero? O que recomendariam para quem está chegando agora?

E, principalmente, vocês, mulheres, o que recomendam aos homens que querem se tornar aliados?


publicado em 06 de Março de 2020, 10:13
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Luciano Ribeiro

Cantor, guitarrista, compositor e editor do PapodeHomem nas horas vagas. Você pode assistir no Youtube, ouvir no Spotify e ler no Luri.me. Quer ser seu amigo no Instagram.


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