Dicas para escrever bem e fazer rir (ou como diminuir a quantidade de porcaria na internet)

Como diria o Fidel, democracia é uma merda. Em um mundo onde você escuta “mas por que não?” quando fala que não tem um blog, não é de admirar a quantidade de conteúdo de qualidade duvidosa que existe por aí. E como na internet a bajulação alcançou níveis estratosféricos, as pessoas recebem tantos elogios falsos e bajulatórios em seus textos que realmente acreditam que tudo o que escrevem é muito bom. Ledo e Ivo engano, como diria o Verissimo.

Por isso nós, do PapodeHomem, fizemos este post. Não pretendemos mudar o mundo nem virar manual da ABL, pretendemos tão somente ajudá-lo a escrever melhor, mostrar o que funciona e o que não funciona, e falar um pouco sobre humor. Vamos lá.

1. Título

Se não souber fazer título, tudo bem: coloque esse GIF antes do primeiro parágrafo.

Na mídia impressa o leitor já está com o seu texto na mão, e provavelmente pagou por aquele jornal ou revista. Então, como ele já pagou, provavelmente vai ler tudo. Já na internet você tem que convencer o usuário. A facilidade em mudar de site ou simplesmente fechar o seu texto é imensa, então você precisa fisgar o leitor na parte do seu texto que chega primeiro a ele: o título.

A primeira regra é: evite títulos auto-explicativos ou simplistas. Se vai escrever sobre seu medo de tubarões, como eu já fiz em certa ocasião, não bote “Meu medo de tubarões” no título. O leitor vai achar que é somente um desabafo, e não vai ler. A título de curiosidade, o título do meu texto sobre meu medo de tubarões é “Sobre tubarões, medos e boquetes”. Bem mais atrativo, não?

Evite títulos como “O problema de blablabla” ou “Falando sobre blábláblá”. Alguns títulos que considero bons de textos meus são: "Isso nunca me aconteceu antes", "O Homem maduro e a Bunda", "Campanha ‘Ajude um amigo veado a sair do armário’"e "Aqueles filhos da puta”. Não antecipam conclusões do texto e instigam o leitor a ler o texto.

2. Aprendendo com Hitchcock: surpresa e suspense

O Mestre Hitchcock tinha uma teoria genial sobre suspense e surpresa. Imagine que tem duas pessoas jantando em um restaurante. Tem uma bomba debaixo da mesa. Você sabe que tem a bomba, eles dois não. A bomba vai explodir em dez minutos e, enquanto eles conversam, você vê a contagem regressiva. A bomba explode. Isto é suspense. Agora imagine um casal em um restaurante. Eles estão conversando quando, de repente, uma bomba explode. Isso é surpresa. Enquanto a surpresa alivia e liberta o leitor, o suspense o prende e o deixa curioso.

O suspense deve ser usando durante o texto, e a surpresa ao final do texto – ou no fim de cada parte do texto. Se seu texto é sobre um sujeito pobre que vira presidente, não faça nenhum movimento no texto que leve o leitor a desconfiar disto. Nunca. Faça-o pensar que ele vai morrer pobre, criando suspense, e no final, faça-o presidente, se utilizando da surpresa. É comum ver pessoas se confundindo e utilizando a surpresa já no título e usando o suspense erradamente.

A teoria do suspense/surpresa é a base de qualquer piada. O suspense cresce durante a piada, e surpresa vem no fim. E você ri porque a surpresa contradiz o suspense. Aprenda a utilizar o suspense ao seu favor no humor, levando o leitor para um lado, quando na verdade você está indo para outro. Este suspense que “dribla” o leitor sempre funciona. E, ao contrário do que se pode pensar, o leitor não se ofende em ser ludibriado, ele gosta do efeito da surpresa no final.

Nunca pensou nele como mestre do humor, né?

3. Verdade e dor, ou, o DNA do humor

Em seu livro chamado The Comic Toolbox, John Vorhaus cria uma teoria na qual ele diz que o humor é feito de verdade e dor. Qualquer piada, esquete, filme ou texto de humor pode ser dissecado em verdade e dor. Qualquer. A verdade é o que cria a identificação com a piada ou o texto. A dor é o que nos faz rir. Quando você vê uma esquete boba onde um soldado marcha, pisa em uma tábua e esta bate na sua cara, a verdade é que ele é um soldado e está marchando, e isto é verdade. A dor é que ele foi burro, pisou na tábua e levou na cara.

Ele cita uma piada que vou tentar traduzir: um homem morre e encontra Deus. Ele pergunta ao Criador: “Deus, por que você fez as mulheres tão carinhosas?”, e Deus responde: “Para que vocês possam amá-las”. “Deus, por que fizeste as mulheres tão meigas e bonitas?”, “Para que vocês pudessem amá-las”, repete Deus. Ao que o sujeito pergunta: “Mas Deus, por que fizeste as mulheres tão burras?”, e o Criador responde: “Para que elas pudessem amar vocês”.

Esta piada ilustra tanto o que eu disse sobre suspense e surpresa, quanto a teoria do Vorhaus sobre verdade e dor. As perguntas o sujeito criam um suspense, quando você se pergunta qual será o elogio máximo que o homem fará às mulheres. Quando ele pergunta por que Deus fez as mulheres burras, é uma surpresa/suspense, pois aqui se pensa que a piada vai achincalhar as mulheres e, ao mesmo tempo, queremos saber o fim da piada. Quando Deus diz que as fez burras para que elas pudessem amar os homens, entende-se que os achincalhados são os homens.

A verdade desta piada é que realmente as mulheres (a maioria, pelo menos) são carinhosas, meigas e bonitas. E aqui, a dor na verdade são duas dores: a de que Deus fez as mulheres burras, e a de que ele as fez burras para que elas pudessem amar os homens. Assim, a primeira dor é quando o homem diz que as mulheres são burras. A segunda dor é quando Deus fala que as fez assim para que pudessem amar os homens. E então, rimos da dor da piada, que foi criada pela verdade dita ao longo dela.

Vamos usar uma piada velha como exemplo. A clássica: “Sabe aquela do pintinho que não tinha cu? Foi peidar e explodiu”. É uma piada engraçada, mas boba. É engraçada pelo ridículo da situação e sua inverossimilhança. A verdade é que é triste um pintinho sem ânus. Realmente. A dor é que, se ele não tem ânus, se ele peidar ele explode. Como vocês podem ver, até mesmo uma piada nonsense e com palavrões se encaixa nesta teoria. Façam este exercício e tentem identificar a verdade e a dor de piadas e textos de humor que vocês conheçam.

Tirinha do André Dahmer (www.malvados.com.br)

4. Erros comuns

Se pararmos para analisar textos de humor, veremos que muitos deles erram nos mesmos lugares. Vamos falar sobre alguns deles:

Explicar piadas. Este é um erro recorrente e acomete também profissionais e humoristas já conhecidos. Exemplo: se você fala que está mais por fora do que umbigo de bailarina do Faustão, não precisa dizer “porque aquelas roupinhas que elas usam, né, não tampam nada”. O leitor não é burro. Explicar uma piada é privá-lo da sua parte em no humor: fechar o sentido do que foi dito, e então achar graça ou não.

Ser rebuscado demais. Algumas pessoas acham que escrever difícil é escrever bem. Nada mais distante da verdade. O melhor escritor brasileiro vivo (na minha opinião), Luiz Fernando Verissimo, raramente usa palavras ou expressões muito rebuscadas. E é um dos sujeitos mais cultos e com mais referências literárias que conheço. Utilize as palavras certas, mesmo que elas sejam fáceis.

Achar que existem sinônimos. Anote: não existem sinônimos. É isso mesmo. Um bom escritor sabe que não existem sinônimos. Cada palavra – cada uma delas – significa uma coisa diferente, e saber as nuances dos significados faz muita diferença. Acreditem, de tanto ouvir cada palavra com um sentido diferente, o leitor está acostumado com estas nuances, ainda que de maneira inconsciente. Aprenda o significado de cada palavra e as use de maneira a potencializar o seu texto.

Igualar humor e piada. Não são só piadas que fazem rir. Este é um erro destruidor. Você pega um texto de humor para ler e ele tem piadas do início ao fim. Tantas que até cansa. E entre tantas piadas, muitas são, invariavelmente, ruins. É perfeitamente possível fazer rir sem uma piada propriamente dita, através de situações engraçadas, personagens caricatos ou de outras maneiras. Se você escreve um texto com piadas excessivas em sequência, acaba anestesiando o leitor e queimando cartucho de piadas que, com destaque, poderiam ser mais bem apreciadas. E a vantagem de fazer o leitor rir sem usar piadas é que a identificação dele é muito grande, e ele acaba rindo por identificação e auto-ironia.

Estes são os erros mais comuns. Erros de português também estão no topo, mas nem é preciso listá-los. Na dúvida, procure um dicionário. Tenha cuidado com o que escreve, na internet tudo fica pra sempre, então seu erro será reverberado ad infinitum.

Estas são só algumas dicas. Não pretendo fazer disso um manual definitivo, longe de mim. Só listei alguns tópicos que podem fazer a diferença no seu texto, e acreditem, realmente fazem. Comentem com suas sugestões e críticas. E nos dêem feedback caso o texto lhes seja útil. Até a próxima.

[18+] Oferecimento: Marcus James (com promoção)

Link YouTube

Nota do editor: O pessoal da Marcus James está com uma ação bacana e o PdH fará um sorteio adicional. Para participar:

1. Assista aos episódios da websérie "Certo que sim", conheça as histórias de Fabrício e Dudu e invente o final, o que acontecerá no último episódio. Dudu vai conseguir se livrar do hóspede folgado? Fabricio vai resolver seus problemas amorosos? Basta a ideia, o argumento, o plot mais básico, a sinopse, manja? Exemplo bobo:

"Fabrício vai embora para a França encontrar uma menina que conheceu nos comentários de um post do PapodeHomem".

2. Envie pelo formulário no rodapé do site www.certoquesim.com.br

3. Volte aqui nesse post e cole nos comentários a ideia que enviou.

Pelo concurso deles, a melhor ideia vai virar o roteiro do último episódio da série e o autor ainda ganhará uma filmadora digital. Você pode enviar até 8/7. O resultado sai 28/7.

Aqui entre nós, vamos sortear (daqui uma semana) uma caixa com 6 garrafas do vinho Marcus James Cabernet Sauvignon apenas entre os leitores PdH que deixarem comentários com as ideias enviadas – se você tiver menos de 18 anos, esqueça.


publicado em 11 de Maio de 2011, 10:03
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Leonardo Luz

Fã de polêmicas, adora cutucar onça com vara curta. Também detona no blog "Eu e Meu Ego Grande".


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