Duas maneiras de levar a vida: mentalidade do carona e do motorista

Duas abordagens/posturas para ajudar a levar a vida de uma maneira mais leve e eficiente.

Todo texto tem um ponto de partida que ele precisa pra fazer sentido. O nosso é:

“A vida é uma viagem e o destino de todos é o mesmo.”

O significado filosófico da palavra “viagem”, claro, pode variar de pessoa pra pessoa. Aqui, vamos usar a busca por realização pessoal, satisfação, alegria… em resumo, felicidade. Seja lá o que isso signifique pra você.

Assim sendo, no caminho para esse destino, eu pergunto: você quer ir de carona ou dirigindo?

Calma lá. Eu explico.

Vamos pensar em duas mentalidades distintas para se encarar a vida.

De um lado do ringue uma mentalidade mais relaxada, solta, leve, de que o destino é inevitável e seria infrutífero tentar controlar o mundo à sua volta. A tentativa de controlar geraria sentimentos negativos, como estresse, ansiedade e frustração. Afinal, diante da complexidade do universo, o que seria de fato ter controle?

De outro, a mentalidade accountable, para usar a palavra da moda. Você seria responsável pelo seu destino e as suas escolhas durante a vida vão moldar os resultados vindouros. Seria preciso tomar responsabilidade pelos seus atos. Se você não se esforçar para construir o futuro que deseja, como vai consegui-lo?

A mentalidade do carona

O ditado já diz: tudo na vida é passageiro (menos o motorista e o trocador). Então do que adiantaria se preocupar demais com as coisas, não seria melhor só relaxar e aproveitar?

A mentalidade do carona é a essência de se estar relaxado. É viver a vida com o foco no presente, como uma criança ou um eterno turista, que aproveita todas as experiências ao máximo. Essa filosofia demanda estar aberto para as surpresas e encará-las como inevitáveis, surfando na onda dos acontecimentos. É a famosa máxima de que a viagem em si seria mais importante que o destino.

E para isso, é preciso ser um “bom passageiro”, ter gratidão pelo presente que é estar vivo e estar confortável com quem se é. Só assim poderíamos estar livres para observar o desdobramento do mundo à nossa volta.

É, basicamente, perguntar menos “já está chegando?”

Apesar das inúmeras vantagens de se levar a vida desse jeito, deixar demais o destino nas mãos de fatores externos pode te impedir de chegar onde se quer chegar. Se você tem uma vida isenta de ambições, o que dificilmente é verdade, pode ser que funcione. No entanto, se você tem ambições, ainda que não sejam de fama ou dinheiro, mas de algum tipo de evolução/realização pessoal, talvez você precise ser um pouco mais ativo.

A mentalidade do motorista

Por outro lado, para conseguir o que se quer é necessário assumir responsabilidade por suas ações.

Cada vez mais falamos de accountability (termo ainda sem uma boa tradução para português, mas é algo como “responsabilidade”) na esfera pessoal, ou seja, ter uma postura ética, proativa e humilde frente à vida. A postura accountable seria encarar a realidade de que “chegar lá” depende de você, e não adiantaria procurar desculpas e culpar as circunstâncias por não conseguir o que quer.

Seria, portanto, entender que a vida está sob seu controle e cada ação vai conduzir a um determinado resultado favorável ou não.

Sim, esse pensamento pode ser assustador (e é!).

A maior parte do nosso estresse, ansiedade e frustrações se dão por conta das expectativas que criamos, que por sua vez vem da crença de que somos capazes de atuar sobre o nosso destino. Se você assume uma postura responsável por suas conquistas e ambições, os fracassos vão doer muito mais.

Algumas das doenças da atualidade, como a depressão, estão diretamente ligadas a esta postura. Os estudos de Martin Seligman sobre a sensação de impotência e depressão, mostram que pessoas que creditam aos seus fracassos causas pessoais ou crônicas têm mais chance de experimentar a depressão, em oposição a pessoas que atribuem seus fracassos a causas externas, contextuais.

A má (ou boa) notícia: você vai ter que ser um pouco dos dois

Você pode até escolher uma das duas formas de operar, baseado nos seus objetivos na vida.

Você tem a ambição de conquistar fama, status, dinheiro? Ou o que você deseja é uma vida relaxada e minimalista, sem se importar em ter o carro do ano ou tomar os melhores vinhos?

No entanto, acredito que para a maioria de nós, o que vai funcionar é o caminho do meio, ou seja, moderação. Afinal, nenhuma das duas posturas parece totalmente saudável. Por mais relaxado que alguém possa ser na vida, ainda existe algum tipo de objetivo ou realização pessoal que se espera alcançar. E, para isso, é necessário um mínimo de foco e planejamento, de tomar as rédeas da própria vida.

E quando as coisas ficarem tensas, você se sentir ansioso ou desanimado, lembre-se: o caminho é longo e se você não está, ao menos, se divertindo um pouco ou sendo útil ao mundo, alguma coisa está errada, não?


publicado em 11 de Março de 2018, 00:05
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Marcos Malagris

Publicitário, professor de Marketing Digital e graduando em Psicologia, investe seu escasso tempo livre no consumo de cultura útil e inútil. Escreve sobre cultura pop no Farofa Geek e filosofa no Twitter!


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