Ei machão, você usa botas? | Guia ilustrado

Este texto inicialmente seria sobre a história da bota na sociedade e como acontecimentos históricos nos fizeram ter impressões variadas sobre esse tipo de calçado.

Mas eis que achei por bem respeitar o clamor popular dos comentários no último texto e equilibrar artigos mais pesados com outros mais leves e imagéticos, como este aqui.

Hoje utilizaremos um pouco da boa e velha cultura pop para desvendarmos a verdade por trás da peça mais testosterônica do vestuário masculino: a bota.

Você já parou para pensar que grande parte dos astros mais desejados do cinema usavam e ainda usam botas?

James DeanMarlon BrandoSteve McQueenJohnny DeppRyan Gosling.

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Apesar de alguns deles viverem em épocas diferentes e terem estilos bastante distintos de se vestir, todos foram considerados extremamente viris e o único ponto em comum nas suas vestimentas era exatamente as botas.

É claro que elas não são as únicas e nem as principais responsáveis por este sucesso, mas ignorar o único ponto em comum na indumentária de todos seria um erro crasso.

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Dito isso, continuemos o exercício cinematográfico, agora pensem em uma lista com os seguintes personagens:

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O que eles têm em comum além do fato de explodirem carros, quebrar ao meio inimigos, dizimar cidades e transbordarem masculinidade?

As malditas botas!

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Agora a mente está clareando, né rapaz?

Onde tem masculinidade explodindo, tem alguém de botas. E se existe uma indústria que não é ingênua e estuda semiótica, essa indústria é a do entretenimento.

Voltando aos personagens que citei, uma rápida análise:

Rambo é um militar, McClane e Riggs são detetives, Logan é um X-Men, Burton é caminhoneiro, T-800 um ciborgue, Max é um nômade e Mr. Blonde, um assaltante.

Um filme de ação de estrutura convencional tem normalmente cerca de duas horas para contar uma história. Quanto mais rápida é a compreensão dos personagens, mais sobra espaço para o desenvolvimento da história e para explodir coisas e, claro, mais o espectador se envolve.

Por isso, as características imagéticas de um filme são tão importantes: fotografia, cenografia, figurino etc.

No caso dos citados acima, todos precisam ser reconhecidos como varões. O figurino faz então a sua parte e lhes adiciona características másculas.

Agora, o pulo do gato: qual é a maneira mais rápida de se criar um figurino másculo?

Utilizando peças funcionais!

Explico.

O conceito que hoje temos de virilidade vem da antiguidade greco romana (como mais uma infinidade de conceitos ainda em voga). Os romanos idealizavam a si mesmos e, tomados de orgulho de sua condição de povo mítico e exemplar, se esforçavam para seguirem assim.

Aliás, a raiz de virilidade nada tem a ver com a escolha sexual. Os romanos julgavam viril a maneira como se praticava o sexo e não o gênero do parceiro. Consideravam viris os ativos, independente de com quem eles se relacionavam. O romano tinha uma conduta moral a ser seguida, em que a honra deveria ser sempre mantida, o cidadão que fosse subjugado ou dependente era tido como fraco e sem virilidade.

Por isso eles exaltavam tanto seus exércitos, pois eram eles que dominavam, conquistavam e subjugavam outros povos, se tornando assim exemplos clássicos de virilidade.

E é por isso, entre outras coisas, que hoje você acha que um soldado é mais viril que um cientista.

Voltando aos trajes, os soldados utilizam roupas primordialmente funcionais devido às suas atividades e, entre as categorias de roupas (camiseta, regata, jaqueta, calça, bota etc) que eles usam, a mais facilmente adaptável e reconhecível como sendo essencialmente funcional é a bota. Cano mais longo e material mais rígido para proteção, solado mais grosso para a durabilidade, entre outros pormenores.

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É isso que faz com que os figurinistas escolham as botas como principal identificador de um cara viril (mesmo que, às vezes, não saibam disso). Quer um ótimo exemplo?

Pense no James Bond: pense nos 3 primeiros adjetivos que vem à mente quando você se lembra do personagem.


  • Elegante;

  • Sofisticado;

  • Charmoso;

  • Clássico;

  • Furtivo.

Com certeza será algo em torno desta atmosfera. Você pode até ter lembrado de “pegador”, mas com certeza não lembrou de “durão” ou “viril”.

Bond foi construído assim ao longo dos anos no cinema. Então veio Daniel Craig e a ideia de torná-lo novamente mais próximo do Bond mais dúbio e durão (leia-se viril) que ele sempre foi nos livros.

E, de repente, o bastião da elegância inglesa passou a utilizar um item bastante novo para sua filmografia, James Bond começou a vestir botas!

São novos tempos e queremos um Bond em ação, pulando, socando, uivando e sendo o verdadeiro viril alfa que sempre sonhamos ser. Cheio de dúvida?

Sim. Não está na moda ser convicto.

Conquistando menos mulheres?

Sim. Hoje a prioridade é o trabalho.

Sendo senhor de si e dominando as rédeas do destino?

No mínimo tentando, afinal, não é mais ser macho que importa, agora temos é que ser viris.

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E agora o exemplo derradeiro (tem a minha palavra que será o último). Pensem no Super-Homem.

Ele é o ser mais forte do mundo (pelo menos no universo DC). Por que raios seu colant simula uma bota? E por que a grande maioria dos super-heróis clássicos faz o mesmo?

É, meu amigo, segredos revelados, vou parar por aqui antes que os illuminati me encontrem.

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Aos que tiveram paciência de me acompanhar até o fim, serão recompensados por um número sem fim de fotos com combinações legais de botas masculinas que podem ser utilizadas no dia a dia, inclusive a primeira bota é feita por mim, aqui mostrada em um jabá que considero honestíssimo!

Espero que ter usado cinema, romanos e super-heróis dos quadrinhos para explicar o que é virilidade e como ela funciona por meio da semiótica tenha sido mais divertido do que seria em uma explicação tradicional.

E vamos às botas!

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publicado em 10 de Outubro de 2013, 21:00
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Bruno Passos

Pintor. Ama livros, filmes, sol e bacon. Planeja virar um grande artista assim que tiver um quintal. Dá para fuçar no Instagram dele para mais informações.


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