Gente ajudando gente e o drama dos refugiados sírios

Enquanto União Europeia e Estados Unidos têm dificuldade para abarcar refugiados, civis estão fazendo muito mais

Eu não sou mãe e não consigo imaginar qual foi a dor da minha ao ver a foto do Aylan morto na areia.

Nem ouso tentar alcançar a dor do Abdullah, que perdeu, além do fillho mais novo, a mulher Rihan, e o filho mais velho, Galib – que só tinha cinco anos. O pai desistiu de se refugiar no Canadá, para onde estava, muito provavelmente, rumando, e onde sua irmã lhe ajudaria. Vai voltar para Kobane, na Síria, de onde veio com a família – dessa vez, pra enterrá-la.

Abdullah Kurdi

A tia de Aylan e Galib, Teema, declarou pro jornal Ottawa Citizen que o Escritório de Cidadania e Imigração do Canadá havia recusado o pedido de asilo solicitado pelos parentes.

O país não está sozinho. A União Europeia está lidando com sérias dificuldades e resistindo a ajudar. Além disso, os refugiados da Guerra da Síria estão sendo alvo de uma xenofobia crescente na Europa, onde alguns países muito sofrem com uma crise econômica – esse preconceito vem crescendo desde 2012 e se manifestou mais recentemente na política francesa, com Marine Le Pen, e agora.

É bem importante lembrarmos, ainda, a diferença entre pessoas refugiadas de guerras e imigrantes comuns. Enquanto estes estão só buscando outros estilos de vida, empregos, amores, em outros países, os refugiados estão fugindo da possibilidade da morte.

Os 28 países que compõem a UE receberam, nos sete primeiros meses de 2015, cerca de 338 mil refugiados. Só a Turquia recebeu 2 milhões e no Líbano 1,1 milhão de refugiados compõe os seus 4,5 milhões de habitantes totais.

No Brasil, são 2077 sírios. Quase o dobro dos Estados Unidos (1243) e dos principais destinos almejados pelos refugiados: Grécia, Espanha, Itália e Portugal, que abriga o surpreendente número de 15 refugiados.

Estamos falando de países que, mesmo em crise, são ricos. Ainda assim, abrigaram menos do que as economias emergentes da Turquia e Brasil.

Quando na Europa, apesar de apoio oficial como no caso de Angela Merkel, na Alemanha, refugiados sírios ainda sofrem com hostilizações da própria população.

Ainda assim, há mais gente querendo ajudar do que imaginamos.

O grupo Refugees Welcome nasceu da insatisfação de alguns alemães com o modo como seus compatriotas estavam tratando refugiados e também um incômodo com o fato de eles terem que ficar todos aglomerados em grandes acomodações. Nele, é possível se cadastrar para recebê-los na sua própria casa, se tiver quartos vagos.

Os fundadores do projeto disseram estar sobrecarregados de ofertas de ajuda. 780 alemães se cadastraram no projeto e 26 refugiados já estão hospedados. Esquemas similares estão sendo organizados em outros países da União Europeia e Reino Unido e já há algo rolando na Áustria desde Janeiro.

Além disso, até as torcidas de futebol da Alemanha estão se movimentando para mostrar apoio. Bayern de Munique, Borussia Dortmund e Werder Bremen tiveram seus estádios cheios de manifestações de suporte aos refugiados.

"Bem-vindos, refugiados", pelos torcedores do Borussia Dortmund

O Borussia Dortmund chegou a levar 200 deles para assistir um de seus jogos e a torcida do clube St. Pauli também mostraram apoio.

Também vimos o caso da Islândia. O país está aceitando, por vias oficiais, apenas 50 refugiados, só que mais de 12 mil nativos assinaram uma carta aberta de apoio, muitos oferecendo suas próprias casas como abrigo. Importante lembrar que a população total do país mal passa de 300 mil pessoas.

Espero ver mais ainda. Essas pessoas precisam de ajuda.

* * *

Faço aqui minha recomendação individual caso você também se sinta impelido a ajudar: sou pessoalmente doadora da organização mundial Médicos sem Fronteiras, que está na Síria desde 2011. Qualquer valor é de ajuda.

Além disso, deixo abaixo links para outras formas de contribuir e também outras reportagens sobre o assunto:

Saiba como ajudar refugiados no Brasil e no exterior, do G1

Sete maneiras simples de ajudar os refugiados no exterior e no Brasil, no BuzzFeed

Qual a geopolítica por trás da morte do bebê sírio?, do Guga Chacra

Desperate Crossing, do NY Times


publicado em 04 de Setembro de 2015, 15:42
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Marcela Campos

Tão encantada com as possibilidades da vida que tem um pézinho aqui e outro acolá – é professora de crianças e adolescentes, mas formada em Jornalismo pela USP. Nunca tem preguiça de bater um papo bom.


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